Sabe-se que é inútil discutir com quem parece dizer: ‘Não me venham com dados novos, que eu já tenho minhas opiniões’. Ou, ‘contra argumentos não há fatos’.
Ainda assim, vamos lá, em respeito à grande maioria dos leitores do Verbo Solto que decerto dispensam piloto automático para pensar e julgam os acontecimentos a partir das evidências a que têm acesso.
No dia 27 de março, sob o título ‘Perguntar não ofende’, publiquei aqui a seguinte nota:
‘Depois da primeira página da Folha de ontem, com um duríssimo editorial contra o governo Lula, ao lado de uma grave denúncia contra o governo do candidato tucano ao Planalto, Geraldo Alckmin, como ficam aqueles que, raciocinando em bloco, como se dizia no tempo do Pasquim, falam numa conspiração compacta da grande mídia contra o presidente Lula?‘
É o caso de repetir a pergunta, acrescentando – além do que a própria Folha publicou desde então sobre a sua denúncia de que, no governo Alckmin, a Nossa Caixa gastou R$ 42,5 milhões em publicidade para favorecer políticos aliados na Assembléia – que também os dois outros baluartes da grande imprensa nacional passaram a fustigar o ex-governador.
Ontem o Globo revelou que um filho de Alckmin e uma filha do seu acupunturista, Jou Eel Jia, são sócios numa loja de produtos naturais.
Até aí, nada de mais [afora o fato de que essa loja vende os caríssimos chás que o doutor Jou receita a seus pacientes, mas isso é problema deles]. Ocorre, como a Folha já informou, que a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista gastou R$ 60 mil em publicidade numa revista mensal do médico chinês e aprovou o gasto de outros R$ 60 para o mesmo destino.
E que na sua edição deste mês Alckmin ocupa a capa e nove páginas, com mais fotos e depoimentos.
Um caso chapado de promiscuidade entre o público e o particular.
E hoje o Estadão, que saudou em editorial o lançamento da candidatura Alckmin ao Planalto, gasta a maior parte de uma página com a reportagem ‘Inquérito sobre a Nossa Caixa mostra investigação incompleta’.
Nela, os repórteres Paulo Moreira Leite e Ricardo Brandt, tendo lido os nove volumes do dito inquérito, concluíram que a peça ‘põe em questão’ a versão alckmista de que ‘todas as responsabilidades foram definidas e nenhuma dúvida restou para ser esclarecida’ sobre os gastos da Nossa Caixa com propaganda.
Ao lado da reportagem, amplo infográfico intitulado ‘CPIs se acumulam no plenário’ destaca que 1.559 é o total de dias sem CPI em São Paulo, 67 é o total de pedidos de CPIs aguardando votação e 12 é o total de CPIs ‘com algum interesse público’.
Então é isso: diante do que a Folha, o Globo e, agora, o Estado estão dando sobre o principal rival eleitoral de Lula, fica difícil acusá-los, com honestidade intelectual, de cúmplices da oposição tucano-pefelista.
Mas, como certos brasileiros não desistem nunca, já ouvi uma versão que pretende ‘desmistificar’ os três jornais. Trata-se da teoria conspiratória segundo a qual estão todos empenhados em puxar o tapete da candidatura Alckmin – que nas pesquisas está longe de ameaçar o presidente – para colocar no seu lugar o ex-prefeito e candidato assumido ao governo paulista, José Serra. Em sondagens anteriores ele parecia ter musculatura suficiente para derrotar Lula em outubro.
Como diria o italiano Pirandello, assim é se lhes parece.
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