No Segundo Caderno do Globo de hoje (29/1) há duas vozes contra a indignidade e a corrupção na mídia. Uma voz do passado, na seção Há 50 Anos. É Pixinguinha. Brada contra o “jabá”:
“Antigamente era melhor. Tire-se pelo exemplo dos compositores do passado que nos nossos últimos carnavais não querem mais fazer música. Hoje é necessário pagar a discotecários, dar-lhes “presentes”, adulá-los, enfim, agradar-lhes de toda maneira para que toquem nossas músicas nas estações de rádio. É o fim!”
Outra é de hoje. José Wilker, reportagem de Elizabete Antunes:
“Há um mercado em que as pessoas são famosas porque são famosas, saem em revistas sem que tenham alguma história pessoal. E, se as têm, são de pequeno varejo, de pequenas canalhices, essas coisas que costumam publicar. Tem gente que só quer notoriedade. Acham que se não estiverem na mídia vão ser esquecidos. E, se o objetivo for só o de aparecer, vão ser esquecidos, sim [….]. Uma vez me perguntaram se eu tinha assessor. Como assim? O que eu tenho é o meu trabalho.
[….] As pessoas têm com a TV uma relação muito especial. Elas acreditam quando alguém põe uma vagabunda com uma máscara no rosto, assessorada por advogados, sendo questionada por alguém que se diz psicólogo, para expor como num açougue as vísceras da relação da Susana Vieira com o ex-marido dela, ou marido, não sei. E a emissora mostra isso levando-se a sério? [referência a uma entrevista exibida no programa Superpop, da Rede TV!]. A gente que é da classe média, aculturada, fala assim: ´Ah, é trash´. Mas o cara que mora na periferia não sabe o que é trash e acaba acreditando na verdade, entre aspas, daquilo. É muito grave”.
Telejornais
“É criminoso apresentar como um espetáculo de necrofilia o acidente do Metrô de São Paulo. A pessoa não está ligando para a dor das famílias, ela está apostando em mais um ponto na audiência”.
Telerreligião
“Quando os programas religiosos anunciam a cura do câncer, da Aids e do homossexualismo (como se fosse uma doença) é caso de polícia também. É como ensinar uma criança a tomar pinga”.
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As curvas da geografia
É de rir, ou de chorar. Está no mesmo Globo de hoje, página 9 (edição que circulou em São Paulo e também na que está até este momento, 15h18, na internet):
‘Seis pessoas foram assaltadas neste final de semana nos caminhos que levam ao Corcovado. Na tarde de ontem, um grupo com duas turistas americanas e um casal de brasileiros foi roubado próximo à Ladeira das Curvas, no Cosme Velho, quando seguiam…’ etc.
É inacreditável que, na santa ignorância do nome ouvido, o repórter não tenha tido a preocupação de conferir. Ele ouviu ‘Ladeira do Ascurra’, entendeu ‘Ladeira das Curvas’.
Machado de Assis, que morava bem perto, na Rua Cosme Velho, revira-se no túmulo. O desmazelo há de ter chocado outros cariocas mais (difícil) ou menos (fácil) ilustres. Mas que conhecem algumas ruas da cidade. Ou, quando não conhecem, recorrem a alguma fonte idônea para tirar dúvida.