No começo da noite de ontem, numa livraria paulistana, o jornalista Paulo Henrique Amorim, apresentador do Domingo Espetacular da TV Record, foi cobrado e cumprimentado.
De uma pessoa ele ouviu que o modo como o seu programa tratou a guerra deflagrada pelo PCC deu o tom para a atitude da emissora no dia seguinte.
Segundo a interlocutora de Paulo Henrique, se uma TV inglesa tivesse feito o que fez a Record, teria sido tirada do ar.
De outra pessoa, ele ouviu que o modo como o seu programa tratou a guerra deflagrada pelo PCC colocou no devido lugar a questão dos direitos humanos no combate à criminalidade.
Segundo o interlocutor de Paulo Henrique, direitos humanos são os das vítimas da bandidagem e das pessoas ordeiras em geral.
Para registro: quaisquer que tenham sido as qualidades ou defeitos daquele Domingo Espetacular, o seu apresentador não interfere no resto da programação da Record, nem lhe foi dito isso. Agora, que pode ter dado o exemplo, mesmo sem querer, lá isso pode.
De todo modo, a questão essencial que não deve ser esquecida é esta:
A cobertura da crise de segurança na emissora, segunda-feira, só pode ser considerada jornalística se se der ao termo um novo e degradante significado.
O que ali se fez, objetivamente, foi pior do que sensacionalismo. Foi aterrorizar uma população inteira.
[Veja a nota “Síndrome de pânico em SP”.]
Como lembra oportunamente a coluna Painel, na Folha de hoje:
“No vale-tudo da segunda-feira, houve emissora de televisão exibindo às 15h, por minutos a fio, as imagens de um ônibus incendiado no início da manhã. Com a inscrição “ao vivo”.”
Enquanto isso, o governador Claudio Lembo, em vez de requisitar as rádios e televisões paulistas, o que a lei lhe faculta, como apontou ontem, também na Folha, o articulista Demétrio Magnoli, produzia uma pérola atrás da outra:
“O controle é total.”
“Não somos desvairados. Tínhamos informações.”
“Não temos a menor preocupação com o futuro.”
“Nada deu errado.”
***
Os comentários serão selecionados para publicação. Serão desconsideradas as mensagens ofensivas, anônimas, que contenham termos de baixo calão, incitem à violência e aquelas cujos autores não possam ser contatados por terem fornecido e-mails falsos.