Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma exceção à pasteurização

No Estado de hoje, o leitor Gabriel Bolaffi – por sinal de origem judaica – se queixa com razão do noticiário ‘muito pasteurizado’ sobre Ariel Sharon, “ignorando as carnificinas cometidas por esse israelense ao longo de toda a sua vida”.

De fato, a julgar por quase tudo que tem saído na imprensa brasileira sobre o primeiro-ministro agonizante, foi como se no fim da vida ele se tivesse transformado de lobo em cordeiro, por causa da sua decisão de evacuar a Faixa de Gaza.

Do lobo, apenas vagas referências. Do cordeiro, palavras e mais palavras.

A iniciativa de Gaza tem sido interpretada geralmente na mídia ocidental como evidência de que o velho e impiedoso guerreiro afinal resolveu dar aos palestinos o que os israelenses proclamam querer para si: um Estado viável, em paz e segurança, com fronteiras universalmente reconhecidas e relações plenas com os vizinhos.

Na realidade, o Estado palestino dos planos de Sharon, separado de Israel por um muro vergonhoso – sem falar na prevista proibição aos palestinos de trabalhar em Israel – seria tudo, menos viável: um gueto geográfico e econômico.

Só os teratológicos fanáticos que falam com Javé várias vezes ao dia e se crêem detentores do direito divino de ficar com toda a chamada Terra Santa – os mesmos que armaram o braço do assassino do então premiê Itzhak Rabin – não entendem que a saída de Gaza foi o produto de um cálculo realista de conveniência: o custo, sobretudo militar, da ocupação e colonização da Faixa onde vive 1 milhão de palestinos sempre foi despropositadamente maior do que o seu eventual benefício para a segurança do Estado judeu.

Pois bem. Na grande imprensa brasileira, só O Globo oferece aos leitores eventualmente menos versados no assunto a valiosa chance de julgar por si mesmos quem é [ou foi] Ariel Sharon.

Fazendo o que precisaria ser rotineiro na mídia [ver o texto anterior, “Falta polêmica na opinião publicada”], o jornal carioca publicou hoje lado a lado na página 27 os artigos “Uma calamidade para Israel” e “Um homem de paz?”

O primeiro é do colunista americano conservador Charles Krauthammer. O segundo, do repórter inglês Robert Fisk, de quem se diz que o que ele não sabe sobre o Oriente Médio não vale a pena saber.

O link para o texto de Krauthammer é http://oglobo.globo.com/jornal/mundo/189873100.asp

Para o comentário de Fisk, http://oglobo.globo.com/jornal/mundo/189873099.asp

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