Jornalistas que cobrem os protestos contra o presidente egípcio Hosni Mubarak tornaram-se alvos de uma onda de ira em uma aparente campanha coordenada para impedir o fluxo de notícias que poderiam prejudicar o governo. Nenhuma organização de mídia – seja ocidental ou do mundo árabe – escapa. Repórteres são perseguidos nas ruas e seus equipamentos são roubados ou quebrados. Alguns são agredidos de tal maneira que precisam de tratamento hospitalar.
A ABC News informou que um dos seus profissionais foi retirado do carro na quinta-feira (3/2) e ameaçado de ser decaptado. Um jornalista da Reuters disse que uma ‘gangue de assassinos’ invadiu o escritório da agência e começou a quebrar vidros das janelas. Quatro jornalistas do Washington Post foram detidos por forças de segurança. Todos os quatro foram soltos posteriormente, mas pelo menos dois deles receberam ordens de não deixar o hotel no Cairo. ‘Parece que jornalistas estão sendo alvos de autoridades egípcias em uma campanha deliberada de intimidação destinada a aniquilar a cobertura honesta e independente de um evento transformador’, afirmou o editor de notícias internacionais do Post, Douglas Jehl.
Se o objetivo foi impedir a cobertura, as ações foram, de alguma maneira, efetivas. As maiores redes de TV de todo o mundo não conseguiram transmitir imagens da Praça Tahrir, centro dos protestos antigoverno, na quinta (3/2). A agência de notícias do governo egípcio havia solicitado a repórteres que saíssem dos hotéis próximos à praça.
Sem imagens ao vivo
As transmissões ao vivo ficaram tão difíceis que, na quinta à tarde, o âncora da Fox News Channel, Shepard Smith, mostrava aos telespectadores exatamente o que a sua sala de controle em Nova York estava vendo – telas em branco das imagens da Reuters e da AP. Jon Williams, da britânica BBC, disse, por Twitter, que as forças de segurança egípcias haviam apreendido o equipamento da rede no hotel Hilton, no Cairo, em uma tentativa de impedir a exibição da matéria. Tanto a BBC quanto a CNN usaram imagens antigas da praça.
A al-Jazira e a al-Arabiya, que vinham apresentando a cobertura mais completa dos protestos, disseram que seus jornalistas foram perseguidos. Na falta de imagens ao vivo, as redes contaram com vídeos de amadores. Outra TV árabe, a al-Hurra, foi a única a exibir imagens ao vivo da praça. Um repórter da al-Arabiya foi agredido por manifestantes pró-Mubarack. Dois funcionários da al-Jazira foram retirados do carro e detidos. No total, no começo da noite, três repórteres da rede ainda estavam sob custódia. Dois jornalistas do New York Times foram soltos na quinta (3/2), depois de passarem a noite presos.
Condenação
As táticas de intimidação foram condenadas pelo governo americano. O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, repreendeu o governo de Mubarak e de seus partidários, classificando as ameaças de totalmente desnecessárias. Para a secretária de Estado, Hillary Clinton, os ataques a jornalistas foram uma afronta aos princípios básicos da lei internacional.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) recebeu quase 100 relatos de danos à propriedade de organizações de mídia ou de prisão ou ataques a jornalistas. ‘Nunca testemunhamos algo como isto no Oriente Médio. Não que o Iraque de Saddam Hussein ou a Líbia de Muammar Qaddafi fossem lugares amistosos para jornalistas. Mas você não via este nível de violência física contra jornalistas de maneira coordenada’, disse Mohamed Abdel Dayem, coordenador do programa para o Oriente Médio e norte da África do CPJ. Informações de Jeremy W. Peters e David Goodman [The New York Times, 3/2/11].