Às vésperas da colheita de grãos, a Folha desta segunda-feira (22/01/07) traz uma péssima notícia para os produtores rurais brasileiros, principalmente os do Centro-Oeste. As rodovias de pelo menos 12 Estados do país estão esburacadas, mesmo depois de o governo enterrar R$ 77 milhões no programa emergencial ‘tapa-burraco’. Levantamento do Dnit mostra que há buracos em 4.356 km de estradas.
Resultado: como sempre, os agricultores brasileiros do Brasil Central vão ter que pagar caro para escoar a sua produção para os portos brasileiros. E os caminhoneiros correm o risco de ficar na estrada, além das despesas extras com pneus, amortecedores etc e tal. Mais: o Brasil perde em competitividade e desperdiça alimento. Com os solavancos provocados pela buraqueira, parte dos grãos colhidos ficam na pista. A reportagem da Folha (pág. A-4 de Brasil) passa longe dos problemas de logística do agronegócio, embora seja assinada por um repórter do interior do país (Campo Grande-MS). Só no box, o repórter cita a soja em apenas três linhas.
Põe na pauta
Os jornalistas de economia e de agronegócio precisam ficar atentos a dois grandes congressos que envolvem alimentação animal (e conseqüentemente humana), programados para esse primeiro semestre. Em abril acontece o Congresso Internacional da Carne, em São Paulo, patrocinado pela OPIC, organização com sede em Paris. O Congresso reúne agentes do negócio de carnes de todo o mundo. Um dos principais temas é o bem-estar animal, uma exigência importante no comércio mundial da carne, que hoje é liderado pelo Brasil. O fato de o país conseguir produzir carne de todos os tipos para todos os gostos, seja orgânica, de cruza industrial ou de zebu, transforma o Brasil no mais importante player do mercado internacional. Mas é preciso resolver problemas crônicos, como a febre aftosa Feed & Food
Ração saudável
Também em abril, São Paulo sedia o Global Feed & Food Congress, patrocinado pela FAO (ONU) e pela IFIF (International Feed Industry Federation). O grande do cardápio será a sustentabilidade: como produzir para o bem-estar de todos com qualidade, segurança, responsabilidade, preservando o meio-ambiente. Quem organiza o congresso é o Sindirações. Mario Sergio Cutait, presidente da entidade, diz que a produção de alimentos seguros e a adoção de boas práticas de fabricação, respeitando o meio ambiente, reduz o desperdício, aumenta a rastreabilidade e pode garantir a certificação e a melhoria da qualidade de vida das pessoas. O objetivo também é o de reduzir o preço dos alimentos, gerar mais empregos e aumentar a demanda interna e externa.
Em entrevista a revista Agroanalysis de janeiro, que já está no Correio, Cutait destacou a importância da sustentabilidade. ‘É uma preocupação de todo o planeta. Há uma previsão de que a população mundial cresça mais de 50% até meados deste século, chegando a 9 bilhões de pessoas. Quem vai alimentar toda esta gente? O Brasil é o terceiro país produtor de alimentos para animais – são 47 milhões de toneladas por ano. Só perdemos para os EUA e para a China. Com população superior a 186 milhões, o Brasil tem hoje um dos maiores mercados consumidores do mundo. Aproximadamente 80% da produção brasileira de alimentos são consumidos internamente e apenas 20% são exportados para mais de 209 países.
Saída pelo Pacífico
‘Encomendamos um grande projeto sobre a viabilidade de o Brasil escoar parte de sua produção pelo oceano Pacífico, mas infelizmente o governo e a iniciativa privada não se interessaram em tocar este plano. Forças ocultas impediram o País de ganhar uma alternativa para reduzir os custos das exportações à China’
Manoel Felix Cintra Neto, presidente da BM&F, em entrevista coletiva realizada no dia 17/01/2007