Já virou rotina.
Colunistas superam repórteres na divulgação de notícias quentes, quando não as mais interessantes do dia.
O exemplo desta quarta-feira, 5, são os números de uma pesquisa eleitoral encomendada pelo Partido Verde (PV) para avaliar a receptividade a uma eventual candidatura da senadora petista e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, à sucessão do presidente Lula.
No sábado, O Estado de S.Paulo informou em primeira mão que os verdes tinham convidado Marina a concorrer pela legenda. Se ela acabar aceitando o convite, a disputa entre a candidata do governo Dilma Rousseff e o adversário tucano José Serra (ou Aécio Neves) irá inevitavelmente para o segundo turno. É provável que ele tire mais votos da ex-colega do que do governador que o PSDB indicar para enfrentá-la.
Na terça, o assunto continuou em pauta – embora na periferia do noticiário sobre a crise no Senado – porque o PV plantou na mídia que, segundo uma pesquisa, ela teria de saída de 10% a 14% das intenções de voto, chegando a empatar, no cenário mais favorável à senadora, com Dilma.
Só que a pesquisa tem outros resultados – e estes foram parar no dia seguinte não no corpo de alguma reportagem, mas nas colunas das jornalistas Mônica Bergamo, da Folha, e Rosângela Bittar, do Valor.
Lendo-se as duas, fica-se sabendo que se o grid de largada tiver apenas três candidatos – um tucano, Dilma e Marina – e, como dizem sempre os pesquisadores, se a eleição fosse hoje, aconteceria de duas, uma:
Com Serra na parada, Marina livraria 8 pontos de folga sobre Dilma (24% a 16%).
Com Aécio, a diferença pró-Marina seria a mesma (27% a 19%, porém, confirmando incidentalmente que o paulista prevalece sobre o mineiro nas sondagens.
“Ela é o Lula de saias”, diz um especialista não identificado pela colunista da Folha, “com a vantagem de ser autônoma em relação a ele, mas não de oposição ao governo”.
Para a colunista do Valor, citando fontes também não identificadas, “boa parte desta alta intenção de voto em Marina, muito provavelmente, é de pessoas encantadas com o presidente Lula que ainda não foram conquistadas por Dilma.
Mas será que Marina deixaria o PT “por uma aventura de campanha presidencial pelo PV”, como escreve Rosângela? A senadora tem repetido uma frase feita: “Tenho 30 anos no PT, minha filha mais velha tem 28 anos; antes de ser mãe eu já era do PT.”
No entanto ela disse também, numa entrevista ao Globo, estar avaliando o convite “dentro da perspectiva do que sempre acreditei e defendi na minha vida”, o que dispensa tradução.
O prazo de validade do dilema de Marina vai até 5 de outubro, quando os candidatos a qualquer coisa em 2010 devem estar filiados aos partidos pelos quais concorrerão.
Uma possível candidatura Marina agita a imprensa desde já. Ela é “mulher, carismática, petista que passou incólume pelo governo Lula e com um discurso que pode aglutinar eleitores – o de defesa do meio ambiente”, assinala outro colunista da Folha, Valdo Cruz.
Dirão os petistas que, para a imprensa, o verdadeiro charme de Marina está no seu potencial de prejudicar a candidata de Lula.
Pode ser. Mas não se esqueça que as redações estão “assim” de simpatizantes da causa ambientalista, como já estiveram “assim” de simpatizantes do PT.
E, de mais a mais, ninguém haverá de negar que uma sucessão presidencial com duas mulheres no páreo – e duas mulheres cheias de convicções e determinação – ficaria muito mais apimentada jornalisticamente.
Outro argumento ainda é o de que, “com Marina, a campanha eleitoral jamais deixará de tratar dos altos temas, os programas, o projeto de país”, conforme Rosângela Bittar, do Valor. “É só disso que ela fala e isto é o que pensa e faz.”