Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Vlado, ‘agente britânico’: pura fantasia

O empresário José Mindlin, secretário de Cultura do governo paulista quando da morte, sob tortura, do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, comentou ontem com uma pessoa de suas relações a versão do ex-governador Paulo Egydio – divulgada pela Folha de S.Paulo no último dia 14 – de que Herzog teria trabalhado para o serviço secreto britânico.

Mindlin ouviu essa versão de Egydio, quando o Exército comunicou a patranha do suicídio do jornalista. O governandor atribuiu a história ao então cônsul britânico em São Paulo, George Hall [já falecido].

Quis o acaso que, dias depois, o cônsul fosse ao secretário para lhe apresentar o novo diretor de uma escola inglesa em São Paulo.

Mindlin aproveitou para checar com ele a versão de Egydio. Ouviu um vigoroso desmentido. Segundo o diplomata, o governador interpretou de maneira completamente errada o que tivesse sido dito sobre Herzog, que trabalhara no Serviço Brasileiro da BBC de Londres.

Nesse caso, é de se perguntar por que Egydio perpetuou a inverdade no depoimento de 600 páginas ao CEPEDOC, do Rio, de que resultou uma auto-biografia a ser lançada mês que vem.

O cônsul não o teria procurado para desfazer a má interpretação?

Isso Mindlin não sabe. Ele acha, em todo caso, que Egydio se aferrou ao que imaginou ter ouvido – e que reproduziria depois a mais de um interlocutor –, criando uma fantasia da qual não quis se desvencilhar.

Resta saber por que não quis – e torcer para que, de agora em diante, deixem em paz de uma vez por todas a memória de Vlado Herzog.

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