Ao iniciar, na semana passada, a publicação de comentários de pessoas citadas em notícias, o site Google News aumentou ainda mais a polêmica sobre a participação de leitores na produção de conteúdos informativos jornalísticos.
O Google News publica notícias de todo o mundo, recolhidas de 4.500 jornais, revistas, boletins, emissoras de rádio e TV, bem como páginas Web, cujo conteúdo é indexado pelos robôs eletrônicos e editados automaticamente sem intervenção humana, para reprodução em 41 idiomas diferentes, inclusive o português.
O projeto sempre foi criticado por ser uma forma de jornalismo robotizado e agora os seus responsáveis pretendem dar-lhe uma cara mais humanizada ao incorporar, na sua versão norte-americana, observações de pessoas citadas em notícias publicadas diariamente.
Por enquanto, os comentários têm aparecido mais em seções como tecnologia, ciência e saúde do que nas de política, esportes e economia, devido a razões consideradas técnicas (para ver um exemplo, clique aqui).
O problema é como identificar corretamente o responsável pelo comentário para evitar autoria falsa. O Google criou uma série de regras para minimizar os riscos das falsificações, mas isto acabou gerando um enorme aumento de trabalho, porque cada solicitação deve ser checada e só depois disto é que é publicada.
Nos casos de política e economia o processo pode tomar horas o que retarda a certificação de autenticidade, inviabilizando a publicação, porque a notícia acaba sendo superada por outras. Nas notícias menos voláteis, o processo pode ser concluído em tempo hábil.
O Google News pode estar preocupado com a humanização do seu noticiário, mas a participação dos leitores, por meio de comentários, está se transformando num tema que terá profundas implicações para a prática do jornalismo na Web.
O que começa a acontecer é uma lenta transferência de ênfase do autor para os comentários, num grande número de sites noticiosos e weblogs de informação, inclusive aqui no Observatório.
Os textos e posts publicados assumem cada vez mais a função de propor temas para discussão pelos leitores por meio de comentários. Na teoria, esta sempre foi a missão principal do jornalismo, mas ela acabou sendo alterada, na prática, pela indústria da comunicação, através da transformação da notícia num produto de consumo.
Antes da internet, a ausência de mecanismos rápidos para interação entre redações e leitores contribuiu para que a autoria da notícia fosse mais importante que a sua discussão.
A situação mudou agora na Web com a multiplicação quase frenética de softwares voltados para a participação dos internautas, apesar desta reviravolta ainda não ter sido totalmente digerida e entendida pelas redações.
A notícia está deixando de ser um produto para se transformar no ponto de partida de um processo, que começa com os jornalistas, que depois cedem o papel principal para os leitores. Os profissionais deixam de ser os donos da notícia.