O ano de 2004 não foi bom para a imprensa mundial. Pelo menos 78 profissionais, entre jornalistas, cinegrafistas, fotógrafos, donos de veículos e colaboradores, morreram em decorrência de seu trabalho ou por expressar suas opiniões, segundo dados da organização International Press Institute. É o mais alto índice desde 1999, quando 86 profissionais foram assassinados.
Os números assustam: pelo relatório da organização Repórteres Sem Fronteiras, divulgado na semana passada, 907 jornalistas foram presos, 1.146 foram atacados ou ameaçados, e pelo menos 622 veículos de mídia, censurados ao longo do ano. No primeiro dia de 2005, 107 jornalistas e 70 ‘ciberdissidentes’ continuavam detidos.
Pelo segundo ano consecutivo, o Iraque foi o país mais perigoso para jornalistas, com pelo menos 19 baixas. Ataques terroristas e rebeldes foram a principal causa das mortes, e o exército americano foi considerado responsável por pelo menos quatro delas.
Denúncias de corrupção e crime organizado foram o segundo maior motivo para o assassinato de profissionais da imprensa, com destaque para Filipinas e Bangladesh, simplesmente por investigarem tráfico de drogas e irregularidades de governos e empresas.
Seqüestros no Iraque
O conflito no Iraque deu origem a mais de 10 seqüestros de jornalistas em 2004. O italiano Enzo Baldoni, que trabalhava como repórter freelancer para o jornal Diario, foi assassinado em agosto, depois de capturado pelo grupo Exército Islâmico do Iraque. Seus agressores, em pronunciamento na al-Jazira, exigiam a retirada das tropas italianas do país em 48 horas – o que não foi atendido.
Além do caso de Baldoni, chamou a atenção da mídia internacional o longo seqüestro dos franceses Christian Chesnot e Georges Malbrunot, que ficaram quatro meses nas mãos do mesmo Exército Islâmico do Iraque. Desta vez, os captores exigiam a revogação da lei que proibiu o uso de símbolos religiosos, entre eles o véu islâmico, em escolas públicas da França. A exigência não foi cumprida, e os dois jornalistas acabaram libertados em 21/12.
A repórter francesa Florence Aubenas, do Liberation, desapareceu na semana passada com seu intérprete iraquiano. Os dois foram vistos pela última vez deixando o hotel em Bagdá na manhã de quarta-feira, 5/1. Florence, que já cobriu conflitos em Ruanda, Kosovo, Argélia e Afeganistão, chegou ao Iraque em 16/12, segundo a BBC [6/1/05]. Há ainda dois cinegrafistas desaparecidos: o também francês Fred Nérac e o iraquiano Isam Hadi Muhsin al-Shumary.
Os seqüestros, porém, não foram exclusividade do Iraque. Jornalistas foram mantidos reféns na Costa do Marfim e no Nepal.
Falta de liberdade
Segundo a RSF, os países do Leste asiático apresentam os piores índices de liberdade de imprensa do mundo. Coréia do Norte, Mianmar, China, Vietnã e Laos lideram a lista dos piores lugares da região para um jornalista trabalhar. União Européia e países da América do Norte respeitam a liberdade de imprensa, afirma a organização. Sobram críticas, porém, aos EUA, que classificaram a emissora de TV libanesa al-Manar como organização terrorista. A decisão teria aberto precedente perigoso na classificação de veículos de mídia.
Na Rússia, o poder do governo sobre a imprensa teria ficado claro na cobertura parcial do massacre da escola de Beslan, em setembro de 2004. Na Ucrânia, segundo a RSF, jornalistas pró-oposição foram censurados durante a campanha eleitoral para a presidência, em outubro.
Saldo
A situação piorou nas Américas do Sul e Central, onde o número de jornalistas mortos subiu de sete em 2003 para 12 em 2004. Na África, 40 jornalistas foram atacados ou ameaçados na Costa do Marfim, e diversos veículos foram censurados ou tiveram suas sedes saqueadas. Mesmo assim, a RSF ressalta que a liberdade de imprensa cresceu em países como Botsuana, Cabo Verde, Gana, Namíbia e África do Sul. Informações: 7am.com News [4/1/05], International Press Institute, Reporters Without Borders [5/1/05] e Reuters [5/1/05].