A presença de repórteres nas ruas esta ficando cada vez mais rara e a culpa não é deles. Foi o que deu para perceber esta semana durante os cinco dias de manifestações estudantis aqui em Florianópolis. Trata-se de um fenômeno mundial. Na semana passada circulou na Internet uma piada verídica ocorrida num grande jornal da Califórnia, onde o editor depois de perguntar onde estava determinado repórter, ao saber que ele estava na bolsa de valores, reclamou que o lugar de repórter é na redação, no seu computador, porque a empresa paga muito dinheiro para ter acesso ao pregão em tempo real. Não é também uma mera questão de comodismo ou de falta de profissionalismo. As empresas jornalísticas atualmente estimulam os repórteres a evitar ações mais perigosas temendo prejuizos por danos a equipamentos mais caros. As cenas de ação, na maioria dos casos, passaram a ser feitas por cinegrafistas e repórteres amadores. O sedentarismo dos repórteres e editores tem causas mais profundas e institucionais. O enxugamento das redações reduziu o número de profissionais disponíveis para as grandes coberturas. As equipes mal conseguem contar o que está acontecendo. Não há gente para contextualizar a informação, o que numa crise é tão ou mais importante do que o factual, porque as pessoas desejam saber causas e conseqüências. É ai que os jornais e a televisão perdem leitores e credibilidade. O rádio ainda se salva por conta de sua mobilidade, mas são os sites independentes que passam a ocupar cada vez mais espaços na informação. Nos protestos de Florianópolis, o site do Centro de Mídia Independente , publicou notícias e comentários de leitores superando, em diversidade e profundidade, a cobertura burocrática da grande imprensa. O crescente participação de autônomos na produção e distribuição de notícias de alguma forma preenche a lacuna deixada pelo recuo forçado dos profissionais para dentro das redações. O chamado jornalismo cidadão colaborativo está deixando de ser um luxo intelectual para ser uma necessidade prática.