Para quem ainda dúvida que o jornalismo já não é mais o mesmo, aqui vão três notinhas pescadas na Web, que podem dar um nó na cabeça de muita gente, de coleguinhas a leitores: 1) Repórteres indianos fazem cobertura local em cidade americana, pela internet. 2) A moda atual entre os antenados é responder entrevistas por email ou colocar as respostas no blog pessoal, antes de passa-las ao repórter. 3) O título mais acessado no site jornalístico da MSNBC é o de um jogo chamado Newsbreaker , onde a captura de manchetes vale pontos. O jornalismo na era digital tem destas coisas que parecem modismos passageiros, mas que no fundo indicam tendências no mercado da informação. A terceirização jornalística já é um fato na maioria dos países, embora aqui no Brasil ela ainda seja muito reduzida. Tornou-se moeda corrente as empresas jornalísticas alugarem profissionais por tarefa para economizar custos sociais dos contratos trabalhistas. É quase um corolário da tese das redações mínimas que passou a ser um verdadeiro dogma na maioria dos jornais, emissoras de radio e de televisão. As empresas de telemarketing dos Estados Unidos descobriram a mina de ouro da mão de obra barata na Índia há quase uma década. A mesma preocupação com a minimização de custos levou o jornal
Os três jornalistas indianos contratados deveriam monitorar, através da Web, os blogs, páginas institucionais, fóruns de moradores e sites de relacionamentos de moradores de Pasadena, para garimpar notícias locais que seriam publicadas tanto na versão impressa como na versão online do jornal.
A contratação dos repórteres indianos gerou um grande ti-ti-ti entre os jornalistas americanos, a tal ponto que o Pasadena News Star resolveu adiar o projeto porque a pressão foi grande. Mas o editor James Macpherson admitiu que a idéia não foi abandonada, pois a diferença salarial é enorme. Um repórter indiano, formado na badalada escola de jornalismo da Universidade da Califórnia em Berkeley, custa, na Índia, US$ 7.200 dólares anuais (ou seja, 1.120 reais mensais), enquanto um norte-americano cobra dez vezes mais.
Se para o jornal Pasadena News as distâncias não importam, para personalidades muito requisitadas para entrevistas, o contato direto também já é dispensável. O diretor da faculdade de jornalismo da Universidade de Nova Iorque, Jay Rosen, agora só responde entrevistas por correio eletrônico ou pelo seu blog pessoal. Rosen queixa-se que os repórteres descontextualizam suas respostas e que não tem mais tempo para tantos pedidos da imprensa.
Howard Kurtz, crítico de mídia do jornal The Washington Post resolveu investigar o tema e descobriu que o professor Rosen não é uma exceção. O mesmo expediente já está sendo usado por um grande número de empresários, consultores renomados e por especialistas procurados a todo instante para dar entrevistas. As chamadas fontes agora não precisam mais dos repórteres porque tem seus blogs pessoais para dizer tudo o que desejam.
Mas em matéria de quebra de paradigmas na imprensa, nada supera o jogo criado pela MSNBC. Não é a primeira vez que o jornalismo vira tema de videogames, mas, se não me engano, nunca antes um veículo jornalístico usou este recurso para atrair leitores.
O Newsbreaker não chega a ser um jogo empolgante, mas ele pode estar abrindo caminho para uma tendência que vai se infiltrando aos poucos na comunicação através das narrativas não lineares em projetos multimídia.
O componente lúdico começa a ser estrutural no desenvolvimento de histórias mudando o caráter dos jogos. De divertimento eles passam a ser também formas de descobrir a realidade.
São apenas três histórias , das muitas que circulam na nova realidade digital, que a cada dia quebra mais paradigmas na arena da comunicação.