Quando ela nasceu, a proposta de seus dois fundadores era criar uma enciclopédia online escrita por seus usuários. Mas hoje, seis anos depois, a Wikipedia começa a dar sinais de que está fugindo do seu modelo original e tomando um rumo surpreendente. Na última edição da
A transformação consolida também o fenômeno da perda de controle dos criadores sobre a criatura a partir do momento em que um projeto é lançado na rede. Não é a primeira vez que isto acontece na Web, mas é seguramente uma das mais surpreendentes tendências surgidas no universo da informação online.
A preocupação com a atualidade começou a se manifestar na Wikipédia em meados de 2005, primeiro nos atentados ao metrô de Londres, e depois no furacão Katrina, em Nova Orleans, Estados Unidos.
Como o processo de produção de verbetes na enciclopédia é descentralizado, ao mesmo tempo em que usuários desenvolveram o contexto histórico, geográfico e social, tanto do atentando britânico como da tragédia norte-americana, outros usuários passaram a agregar informações recolhidas em weblogs, recebidas por telefone celulares e também da imprensa convencional.
No caso do furacão Katrina, a Wikipedia conseguiu publicar um informe redondo sobre a tragédia em menos de 24 horas, quase no mesmo tempo que os jornais impressos e a própria televisão. A enciclopédia virtual acabou se tornando uma referência jornalística, porque o seu material formava uma história completa enquanto os jornais, rádios, televisões e os próprios sites noticiosos da web ofereciam uma cobertura ‘fatiada’.
A reportagem do Times cita o caso da prisão de um grupo de seis ativistas islâmicos acusados de tentar atacar a base militar de Fort Dix, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, em maio passado. O verbete sobre o incidente foi sendo desenvolvido simultaneamente à cobertura da imprensa norte-americana, por quase 50 colaboradores da enciclopédia virtual, entre eles gente como estudante secundário Mattew Gruen, de 16 anos, que assumiu a tarefa de checar as informações publicadas.
Hoje a Wikipédia afirma ter 6,8 milhões de colaboradores registrados em suas 250 edições, cada uma num idioma diferente. Trata-se de um exército de informantes que causa inveja a qualquer organização jornalística. O mais incrível é que tudo isto funciona sem burocracia e sem pagamentos.
A polêmica sobre a credibilidade e veracidade de conteúdos publicados na Wikipedia começa agora a ser ofuscada por outra, a do seu futuro. Está claro que ela já não é mais uma enciclopédia convencional. Este fenômeno é bem nítido na versão inglesa mas ainda quase inexistente na versão em português.
A atualização e diversificação constantes dos verbetes começa a dar ao projeto uma cara de megajornal. Ou seja, o conteúdo informativo começa a ganhar tanta relevância e procura ^quanto o material enciclopédico. Na prática, a diferença entre os dois formatos está diminuindo, o que é um passo a frente no processo de contextualização das notícias.
O que está acontecendo com a Wikipedia abre uma nova área de investigação sobre as mudanças no jornalismo e na informação.
Alguns também já dizem que a enciclopédia virtual está se transformando no grande portal desta biblioteca chamada Web, que é hoje o maior arquivo de informações já criado sobre o pensamento humano e o mundo em que vivemos.