Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

No tempo das tarifas telefônicas

A revista The Economist que circula a partir de hoje anuncia na capa a morte da telefonia tradicional, que existe como serviço comercial há cem anos. Será substituída pela telefonia via internet, na qual os fatores hoje determinantes do custo das ligações, distância e tempo de duração, são irrelevantes.


Há algumas décadas, quando a única coisa que mudava era a cor dos aparelhos telefônicos, Rubem Braga escreveu numa crônica: “Eu sou do tempo em que todos os telefones eram pretos e todas as geladeiras eram brancas…” Dentro em breve poderemos dizer: “Eu sou do tempo do telefone”.


O gancho da reportagem da The Economist foi a compra, pela empresa de leilões eletrônicos e-Bay, da empresa Skype, à qual aderem diariamente, no mundo inteiro, 150 mil usuários. O modelo de negócios da Skype, cuja compra teria sido disputada pelas gigantes Microsoft, Yahoo!, News Corporation e Google, é cobrar o mínimo possível de cada um dos usuários porque eles são incorporados sem custo nenhum. Cada pessoa convida outra pessoa para a rede.


Há dois tipos de reação das grandes da telefonia, que em conjunto movimentam um trilhão de dólares por ano. Algumas empresas procuram inutilmente barrar a progressão da telefonia gratuita via internet. Outras, reconhecendo que não podem derrotá-la, aderem a seu sistema para tentar degluti-lo.


Não deixa de ser irônico e simbólico que, no Brasil, uma disputa pelo controle de empresas de telefonia tradicional esteja associada à origem da maior crise política da história do país.


Mas o horizonte que realmente importa é outro: se agora as telefônicas constatam que não poderão mais garantir a exclusividade de seus canais de distribuição, no caso da mídia esse processo já é “velho”: data do surgimento, há mais de dez anos, da internet como a conhecemos hoje. Falta um modelo econômico que torne viável uma mídia de alta qualidade baseada exclusiva ou essencialmente na internet.