Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Documento falso e verdades ocultas

Foi o ex-ministro José Dirceu, informa hoje O Globo, citando dois parlamentares petistas não identificados, quem deu o sinal verde para o deputado Paulo Pimenta, do PT do Rio Grande Sul, vice-presidente da CPI do Mensalão, armar a simplória arapuca da lista forjada de uns 90 políticos do PSDB, PFL e PTB de Minas que teriam recebido dinheiro de Marcos Valério na campanha de 1998.

Pimenta mentiu à CPI quando disse que tinha recebido a lista de um dos advogados de Valério. Foi filmando entrando no carro dele, na madrugada de ontem, quando acabou o tedioso depoimento do empresário.

Já seria um chute no decoro a intimidade do vice de uma comissão de inquérito com o maquinista do trem pagador organizado pelo PT para – no mínimo – bancar despesas eleitorais de companheiros e tutti quanti com “recursos não contabilizados”.

O resto, então, é uma baixaria, burra ainda por cima. Espera-se a renúncia de Pimenta da CPI a qualquer momento. Mas em hipótese alguma isso pode servir para ele não ser punido com a perda do mandato pela violação da ética parlamentar.

Se ele não for cassado, a Câmara é que estará se cassando a si mesma.

Dito isso, o que chama verdadeiramente a atenção no vexame escancarado não é nem o tosco do Pimenta. É o poder que o Zé Dirceu ainda conserva junto aos seus, embora já esteja com a cabeça a prêmio.

Pois, se é verdade o que diz o Globo – e em princípio não há por que duvidar do jornal –, antes de consumar a sua jogada primária, Pimenta foi pedir licença para Dirceu. Não para o seu conterrâneo Tarso Genro, o novo presidente do PT. Nem para o novo articulador político do Planalto, ministro Jaques Wagner. Foi se aconselhar com o cassável Dirceu.

Mesmo na planície que termina num abismo, ele não tem sido propriamente ignorado pelos petistas. A colunista Dora Kramer lembra hoje no Estado que, antes do seu depoimento no Conselho de Ética, na semana passada, Dirceu recebeu no seu apartamento de deputado a visita de um companheiro hoje muito especial: o senador Delcídio Amaral, presidente da CPI dos Correios.

Perguntado no último Roda Viva o que ele esperava para chamar Dirceu a depor – conforme já decidiu a CPI – ele enrolou, enrolou e não respondeu.

A influência ainda exercida no PT pelo ex-capitão do time do presidente ensina uma coisa ou outra, se não sobre ele mesmo, com certeza sobre os bastidores do partido que parece incapaz até de dizer a verdade sobre a origem do dinheiro usado para pagar – em cash – os R$ 29 mil que cobrava de Lula.