A jornalista Márcia Glogowski passou trinta anos no Estado de S. Paulo, dos quais dez na Internacional. Repórter, chefe de Reportagem, subeditora, editora de Geral e de Cidades, ela foi entrevistada ontem pelo Observatório da Imprensa e escreveu o texto abaixo.
Por Márcia Glogowski
“A crise pela qual passa a segurança pública em São Paulo traz mais um desafio aos jornais de hoje. Mais um, porque os primeiros são comuns a todos os jornais escritos do mundo: como conquistar mais leitores para cobrir os altos custos de produzir um jornal, mantendo uma independência editorial. Nos países como o Brasil, onde poucos lêem jornais (e entre os leitores a maioria só lê títulos, olhos e legendas), esse desafio é muito maior. Bem, o novo desafio é o equilíbrio entre bem informar a população e publicar reportagens interessantes sobre outros assuntos, sem parecer que o jornal esquece a questão segurança.
Nos primeiros atentados de maio, houve quem, dentro do Estadão, sugerisse que o assunto fosse publicado nas páginas da Nacional. A opinião não vingou e, de fato, nenhum outro jornal tirou a questão segurança das páginas dos cadernos de Cidades.
No Metrópole, que editei até início de julho, vínhamos justamente fazendo um esforço para publicar matérias mais leves (não superficiais) e mais antenadas com as tendências de comportamento dos paulistanos. Deixamos isso de lado por um tempo, porque os atentados passaram a ser uma questão maior. Pela primeira vez, a cidade vivia uma experiência com terrorismo. O que o crime organizado está fazendo é terrorismo mesmo e requer uma resposta efetiva, criativa e consistente dos governos. Isso não tem ocorrido e os jornais não estão conseguindo mostrar essas falhas aos leitores como deveriam.
Por quê? Em primeiro lugar, a escassez de mão-de-obra resultante do enxugamento generalizado dos jornais (não só no Brasil). Nas outras ondas de atentados, o Estadão mobilizou repórteres do Rio e de Brasília para reforçar o trabalho em São Paulo, o que foi uma experiência altamente produtiva. Mas esse reforço só pode ocorrer no auge da crise e o problema segurança chegou a um ponto que não pode ser esquecido nunca. A informação é sempre esclarecedora. Estou plenamente convencida de que, se os paulistanos tivessem lido os jornais dos dias 13 e 14 de maio, não teriam sucumbido aos boatos do dia 15. Saberiam que os atentados eram apenas contra as forças de segurança e não contra a população. Mas, de fato, a pressão é tal que repórteres são ameaçados pelo crime organizado.
O desafio agora é a imprensa ajudar a população de São Paulo a dar uma resposta a essa pressão e mostrar que rejeita a criminalidade, como rejeita a corrupção em todo e qualquer nível. Como? Primeiro, não deixando o assunto morrer, mas evitando a mesmice. Debates, reportagens e, quem sabe, uma solução gráfica para o tema, a fim de que o leitor saiba que ali vai encontrar sempre alguma informação relevante, mas sinta que o jornal não ficou refém do crime e não esquece que há muita coisa boa acontecendo nesta cidade.”
Editorias de segurança pública
Os jornais devem pensar em montar editorias de segurança pública. Não criar novos cadernos. Colocar mais gente e mais recursos para apurar e informar corretamente a população. E dar essas notícias no primeiro caderno. Como já faz o Globo, que não tem caderno separado de cidade. (M.M.)
Sugestões sobre Cuba para Bush
O jornalista argentino Andres Openheimer, que escreve no Miami Herald a coluna The Openheimer Report, dá sugestões inteligentes para o governo americano, se George W. Bush estiver interessado em ajudar, não em criar ainda mais confusão nas relações com Cuba pós-Fidel. São cinco pontos. Um, baixar o tom de voz. Não vitaminar as fantasias de que haverá uma invasão de exilados cubanos desejosos de retomar suas propriedades. E quanto menos se falar de Cuba, melhor, porque o país, sem Fidel, tem menos visiblidade. Dois, não descartar contatos com autoridades cubanas. Três, acenar com recursos para os indispensáveis investimentos na Ilha. Quarto, começar a desbloquear as coisas no Congresso americano, até aqui dominado por interesses anticastristas histéricos. Cinco, agir em conjunto com governos europeus e latino-americanos. A íntegra está em
‘U.S. should lay low in Cuba‘. Basta cadastrar-se para ler.
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