Adoro quando meu jornal está interessante aos sábados ou domingos, quando tenho realmente tempo pra ler até tarde. Hoje teve artigo do Henrik Berggren, um dos meus jornalistas favoritos daqui, sobre a última imbecilidade extremista dinamarquesa. A história é a seguinte: o jornal Jyllands-Posten resolveu publicar charges mostrando Mohammed. Eu não sabia, mas o Corão proíbe a reprodução de imagens do profeta.
Berggren escreve (bem pra caramba) que devemos defender “os idiotas do Jyllands-Posten”, não pelo que fizeram, mas simplesmente pelo valor da liberdade de imprensa. Isso porque, diz o jornalista sueco, toda a coisa da charge foi orquestrada pela política de extrema-direita Pia Kjærsgaard, que, infelizmente, praticamente domina a política dinamarquesa. (Não coloco links pra Kjærsgaard porque, como já escrevi antes, sou contra as drogas.)
Aí é que está. Até onde vai liberdade de imprensa e quando começa a provocação pura e deliberada? O resultado das charges é que jornalistas do Jyllands-Posten foram ameaçados de morte e as comunidades islâmicas de várias partes do mundo condenam (mais uma vez) a Dinamarca pela sua linha dura no que diz respeito à crença da grande maioria dos imigrantes presentes em solo dinamarquês.
Eu, particularmente, concordo com Berggren. Defendo a liberdade dos jornalistas do Jyllands-Posten, mas condeno fortemente a necessidade de deliberadamente provocar pessoas de crença diferente ao realizar um ato tão flagrantemente contrário às leis religiosas islâmicas. Afinal, não estamos falando de arte, mas de jornalismo. O jornal não precisava publicar as charges para se expressar, não se tratava de notícias, de fato. Não existe contexto, não existe razão. A não ser a pura provocação raivosa dos intolerantes’.
[Nota acrescentada às 18h35:]
O blog de Alon Feuerwerker chamou a atenção, ontem, para um serviço sobre o caso das caricaturas postado na Wikipedia.
Em conversa telefônica, Maria Fabriani contou ao Observatório que nenhum jornal sueco republicou as caricaturas por considerar que o episódio todo teve finalidade de provocação política. Nesse sentido, os jornalistas do Jyllands-Posten não seriam exatamente ‘idiotas’, como escreveu o sueco Berggren, mas provocadores. Maria diz que é grande na Dinamarca a intolerância contra imigrantes do chamado Terceiro Mundo e ela está no poder atualmente.
Chama a atenção que o circuito de jornais europeus onde as caricaturas foram republicadas, em nome da defesa da liberdade de imprensa, reflete uma constelação de forças conservadoras. Ver em ‘Diários europeus confrontam muçulmanos‘.
Há informações de que jornais brasileiros vão dedicar espaço maior ao tema em suas edições de amanhã, sábado (4/2).