Três idéias para trocar sobre o que em outros tempos a imprensa chamaria de “ecos da invasão da Câmara”.
1. Instituições, pessoas, limites
Está em toda parte, sem excluir este blog, nos comentários à nota de ontem sobre a violência fascista contra o Congresso, o argumento que abre a seção de cartas na Folha de hoje.
”A depredação material”, escreve o leitor Celso Balloti, “apenas reflete a depredação moral que vem sendo feita, já há muitos anos, pelos próprios integrantes do Congresso”.
Não é a primeira vez e não será a última que neste país se confunde uma instituição com os seus ocupantes de turno – uma prova a mais do quanto ainda tem a andar a cultura cívica de muitos brasileiros.
A acusação de que os congressistas depredam moralmente o Congresso é verdadeira – embora haja mais deputados e senadores íntegros do que as pessoas imaginam, porque a mídia se concentra nos atos dos depredadores morais.
Mas, e então? Feche-se o Congresso e deixe-se o Brasil ser governado por um déspota esclarecido, eleito (ou reeleito) a cada quatro anos? Ou entregue-se de novo a República aos militares, como propôs o eterno golpista e “senhor de engenho” Antonio Carlos Magalhães?
Por que – ainda mais estranhamente quando se trata de cidadãos que se enxergam como democratas e progresistas – custa tanto entrar na cabeça a mais singela das verdades políticas?
Ele foi enunciada ontem por quem, quaisquer que sejam seus atributos e deméritos, tem conhecimento de causa da matéria por experiência própria – o presidente Lula.
Nas suas palavras:
”As pessoas podem ate até não gostar do Congresso. Fui deputado quatro anos e desisti. Mas todos nós somos testemunhas de que este país era menos seguro e menos gratificante quando a gente não tinha o Congresso funcionando, fechado pelo autoritarismo.”
E sobre o caso específico:
”Eu nasci do movimento social. Vim a Brasília fazer passeata, caminhada, comício, na frente do Congresso Nacional, mas na minha cabeça sempre permeou a certeza de que a democracia também nos impõe limites de responsabilidade. O que aconteceu [na terça-feira] não foi um movimento reivindicatório, até porque não apresentaram pauta. Quem praticou vandalismo pagará.”
2.Ensinando a quebrar e bater
Pode ter me escapado, mas não vi em nenhum dos principais jornais uma pergunta sobre o vídeo de 1h20m apreendido com um dos depredadores do Congresso que mostra que a ação foi cuidadosamente planejada.
A pergunta é simples: por que o vídeo incriminador foi feito?
Uma parte da gravação – a que mostra o reconhecimento do terreno e como chegar a ele sem causar suspeitas – é uma aula para os participantes da ação terrorista em preparo. Até aí, tudo bem.
Mas a parte mais extensa da filmagem, em que os organizadores descrevem e explicam aos organizados a operação contra “a corja do PSDB e PFL” tem obviamente outra serventia.
É material didático para futuros militantes e participantes de ultrajes do gênero. Vídeo para ser reproduzido e exibido ali onde o MLST recruta novos quadros e tropas de choque.
É prova de que o pessoal não pensa apenas nas eleições futuras – o líder José Antonio Baqueiro aparece em dado momento falando no favoritismo de Lula nas pesquisas – mas, como se diz, nas gerações futuras.
3. O rosto e a voz do presidente
Do Estado de hoje:
”Assessores do Palácio do Planalto informaram que Lula estuda a possibilidade de convocar cadeia nacional de rádio e televisão para condenar a violência contra a Câmara.”
Antes tarde do que nunca a ficha caiu. Alguém deve ter se dado conta no círculo íntimo de Lula que ele deveria ter feito isso no próprio dia do quebra-quebra, onde quer que estivesse.
Foi o que você leu ontem aqui na nota “A fala que faltou contra a violência fascista”
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