Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘A grande corrupção tem sempre no cerne dela a questão das campanhas políticas’

O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, aparece hoje, em entrevista ao Estado de Minas, reproduzida também pelo Correio Braziliense, alertando para o que está à frente de todos – mas poucos querem ver: os escândalos com financiamentos de campanha poderão voltar em breve ao centro do noticiário, porque o Congresso não quis reformar a legislação eleitoral e partidária. A oportunidade venceu em setembro do ano passado, para que as alterações tivessem efeito moralizador nas próximas eleições. Na ocasião, os porta-vozes do PFL, principalmente da Bahia, foram contra.

Na apresentação, o jornalista Lucas Figueiredo lembra que Lacerda foi o responsável pelas investigações do caso PC Farias, que terminaria levando o ex-presidente Fernando Collor ao impeachment.

Os buracos na lei de financiamento favorecem a corrupção, e ‘é preciso mudar a legislação das campanhas, é preciso endurecer’, recomenda o delegado, que se manifesta a favor do financiamento público e da caracterização do crime eleitoral ‘como crime qualquer particular que venha a dar dinheiro para candidato’.

As mudanças, quando forem feitas – se houver coragem dos parlamentares comprometidos com a transparência nos financiamento – não trarão efeito imediato. A instrumentalização da legislação eleitoral ‘seria a única forma de reverter, ao longo do tempo, uma espécie de cultura corrupta instalada no país, que se manifesta em diferentes níveis e banaliza o crime’, diz o jornal, que ainda se escora no cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, para apontar as conseqüências do dinheiro ilegal que escorre para dentro dos partidos . ‘Este é um traço da cultura viscoso, duradouro e difundido, que perpassa todos os níveis da administração, do mais alto escalão ao cidadão na base pirâmide social’, afirma o professor, ao colocar o não funcionamento das regras no plano político institucional como origem da ‘banalização da idéia do jeitinho ou da maracutaia’.

‘Para mudar a disposição difundida entre a população de que dar um pequeno golpe vale a pena, seria necessário, na opinião do cientista, reverter as expectativas da população em relação ao comportamento do outro’, acrescenta a reportagem, cuja leitura se recomenda.

Outros entrevistados pela reportagem corroboram a necessidade de se mudar com urgência a lei, para que a população deixe de ser leniente com a corrupção, como mostrou recente pesquisa, na qual cerca de 60% dos entrevistados encaram como normais os desvios éticos da classe política.

Na resposta sobre o que é preciso fazer para que a corrupção diminua no Brasil, o delegado responde:

‘A grande corrupção tem sempre no cerne dela a questão das campanhas políticas. Eu acho que é preciso mudar a legislação de campanhas, é preciso endurecer. Eu sou a favor do financiamento público de campanha e também de caracterizar como crime qualquer particular que venha a dar dinheiro para candidato. Eu acho que alguns políticos tradicionais são contra, mas por interesse. Diz-se que o país não tem dinheiro, questiona-se como o país vai gastar R$ 10 bilhões para pagar campanhas a cada quatro anos. Eu diria que se o país pagar R$ 10 bilhões vai economizar, com certeza, R$ 50 bilhões’.

Recomenda-se a leitura na íntegra.