Hoje de manhã participei de uma das mesas-redondas do 5° Congresso de Comunicação no Serviço Público, sobre o tema A imprensa e a crise política – Erros e acertos, verdades e equívocos. Meus colegas de mesa, mediada pelo jornalista Eleno Mendonça, da DPZ Propaganda, foram, por ordem de uso da palavra, Ricardo Noblat, criador do blog de política mais bem-sucedido do país, e Marcelo Beraba, ombudsman da Folha de S. Paulo. O convite ao Observatório da Imprensa partiu do jornalista Eduardo Ribeiro.
Noblat, Beraba e eu defendemos a atuação da mídia na crise do “mensalão”, com diferenças mais ou menos relevantes de avaliação.
Peço licença para fazer um resumo muito sumário do que disseram meus colegas de mesa.
Noblat fez um paralelo com a crise que levou ao impeachment do presidente Collor. Disse que naquele episódio o papel da imprensa era mais simples. Consistia em apurar se Collor tinha sido pessoalmente beneficiado pelo esquema de PC Farias, ou não. Recapitulou três feitos: a entrevista de Pedro Collor publicada pela Veja, a descoberta do motorista Eriberto pela IstoÉ e do Fiat Elba pelo Globo. Agora, é muito mais complicado. Outra diferença, na opinião de Noblat, é que no processo de Collor a mídia era pautada pelas CPIs e hoje a imprensa, diz ele, é que pauta as CPIs. “Se não fosse a imprensa, não teríamos avançado nesta crise”, afirmou.
Noblat polemizou duramente com a argumentação do presidente Lula a respeito do papel da mídia. Apresentou uma lista de políticos derrubados pelas denúncias: 22 servidores federais de alto escalão e três ministros demitidos, dez altos dirigentes do PT afastados, cinco deputados renunciaram ao mandato, um foi cassado e onze estão sob julgamento por denúncia de quebra do decoro parlamentar. Além disso, cinco deputados federais e um senador deixaram o PT. Para Noblat, a crise não vai acabar tão cedo.
Beraba advertiu que fazer esse tipo de análise neste momento é muito difícil. É prematuro. Mas concordou com Noblat: a mídia, apesar dos diferentes interesses que gostariam de amenizar a crise, tem méritos. O ombudsman da Folha disse que a crise política pegou a imprensa em plena crise financeira e de queda de circulação, o que levou à fragilização das redações e, portanto, a braços com maiores dificuldades para cobrir tantos fatos.
Beraba lamentou que haja alta concentração na mídia brasileira. Poucas grandes empresas são hegemônicas na audiência e, portanto, levam a maior parte da publicidade. Deu o exemplo do peso dos grandes jornais de expressão nacional em contraste com o jornalismo regional. Ao mesmo tempo, constatou, explodiram novas formas de comunicação, das quais o Blog do Noblat é o exemplo por excelência. Perguntou: Com essa dispersão dos canais de informação, o que será dos jornais impressos?
Ao contrário de Noblat, Beraba disse que um dos maiores problemas da cobertura tem sido depender excessivamente das CPIs.
Aí vai o texto que preparei. Estava grande demais e não deu tempo para ler tudo.
A premissa metodológica que apresentei foi valorizar o mecanismo da interação. A mídia não é perfeita mas é aperfeiçoável. A crítica pode fazer com que ela avance. Não apenas crítica de “especialistas”, mas principalmente do corpo de leitores.
A mídia investiga mal
O primeiro ponto a destacar é a capacidade da mídia de “investigar” e a expectativa de que ela o faça. Não é demais lembrar que toda a crise atual – assim como a anterior, de Waldomiro Diniz, abafada – veio à tona devido a conflitos entre grupos e indivíduos envolvidos em atividades ilegais. As duas fitas de vídeo chegaram aos meios de comunicação porque isso interessou a algum delinqüente, e chegaram quando interessou. E até hoje essas duas histórias – a da Loterj com Waldomiro Diniz e Carlinhos Cachoeira, e a dos Correios com os corruptores de Maurício Marinho – não foram devidamente apuradas. Nem pela imprensa, assoberbada, nem pela Justiça. Não houve desfecho.
A capacidade investigativa da mídia é limitada. Veja-se o caso do prefeito Celso Daniel, de Santo André. Na primeira abordagem, na edição de 21 de janeiro de 2002 (Celso Daniel foi capturado pelos algozes na noite de 18 de janeiro), a Folha de S. Paulo fez o seguinte título: “Morte de prefeito seqüestrado piora crise na segurança de SP”. Só em junho de 2002 um irmão de Celso Daniel, João Francisco, foi a público dizer que “a Prefeitura de Santo André era a maior arrecadadora do país para campanhas do PT”. A imprensa ainda não tinha desvendado nada desses esquemas dos quais hoje tanto se fala, embora a primeira denúncia importante, como se sabe, tenha partido de um quadro do próprio PT, o economista Paulo de Tarso Venceslau, em 1997. Quando João Francisco Daniel deu a entrevista sobre o assunto, em junho de 2002, diga-se de passagem, o então presidente do PT, José Dirceu, se apoiou numa declaração do candidato Ciro Gomes para “insinuar”, uso a linguagem da Folha, que o candidato José Serra estaria por trás das denúncias.
Mídia não é polícia
Mas cabe perguntar se da mídia se deve cobrar que realize investigação normalmente a cargo da Polícia ou do Ministério Público. Eu diria categoricamente que não (esse ponto foi destacado também por Marcelo Beraba). O assassinato de Tim Lopes foi uma terrível advertência a esse respeito. Não penso apenas no colega e amigo morto. Penso nas danosas conseqüências para o tipo de cobertura que agora a imprensa faz da vida e dos problemas de lugares onde o tráfico de drogas é forte.
Devido a uma antiga e profunda promiscuidade entre jornalistas e policiais, que acabou criando barreiras entre a imprensa e moradores de favelas e conjuntos habitacionais com forte presença de traficantes, Tim Lopes havia empreendido sozinho uma série de investigações. Era como se tivesse tomado o lugar da polícia, e assim foi tratado pelos bandidos. É preciso entender bem esse mecanismo, para não se acreditar que foi uma fatalidade, ou um acidente fortuito.
Não estou defendendo uma norma que funcione como tabu, que iniba a curiosidade e a intrepidez dos jornalistas. Mas digo que faz mais sentido a mídia pressionar por uma polícia competente do que, desistindo disso, tentar substituir a polícia a bem do interesse público. Na melhor das hipóteses ela vai revelar crimes, não vai preveni-los, não vai inibir criminosos.
Então, recapitulando: embora não se deva pedir à imprensa que substitua a Polícia e a Justiça, estamos diante da evidência de que ela não foi capaz de perceber o grande esquema que havia sido montado no governo Lula para garantir votos da base aliada e dinheiro para campanhas eleitorais, não necessariamente nessa ordem. Ouvia-se muita coisa, sabia-se de muita coisa, mas não se adotou uma diretiva precisa, persistente, com o objetivo de defender a democracia. Porque ilegalidade e democracia não são compatíveis. Aqui, não se trata de uma falha ‘investigativa’, mas de percepção política.
Isso é tanto mais grave quando se recorda que o Jornal do Brasil chegou a denunciar o “mensalão” em setembro de 2004, foi obrigado pela Câmara dos Deputados a publicar um direito de resposta e silenciou em seguida, como silenciaram os demais veículos. E não é só: dias antes a Veja tinha publicado uma reportagem que falava da existência de um acordo do PT com o PTB envolvendo 10 milhões de reais. Pior: dois anos antes a Carta Capital havia noticiado o acordo financeiro do PT com o PL.
A imprensa não enxergou
o tamanho do problema
Meu primeiro ponto é mostrar que a mídia, por uma conjunção de fatores que talvez possamos discutir aqui, não enxergou a notícia, o escândalo aninhado nas relações financeiras do governo e do PT com sua mal montada base aliada. E, insisto, não partiu da mídia a iniciativa da apuração: caiu-lhe no colo sob a forma de fitas de vídeo, em duas evidentes ações manipulatórias.
[Notar que há caminhos novos para trabalhos investigativos, como o adotado pela equipe do Globo que em 2004 ganhou o Prêmio Esso com a série “Os homens de bens da Alerj” (Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro).]
Leniência é o maior pecado
Começa então a seqüência de escândalos com a edição da Veja de 14 de maio (existe uma cronologia da crise do “mensalão” na Wikipedia; eu me servi dela para confirmar datas mas não tive tempo de conferir sua qualidade).
Que balanço podemos fazer do trabalho da mídia desde então?
A meu ver, um trabalho basicamente positivo e esclarecedor, apesar dos pesares. Com isso, quero afastar de plano a idéia de que houve uma orquestração da mídia contra o governo Lula. Ao contrário. Estou convencido de que houve leniência da mídia e daí decorreram vários dos problemas. Se tivesse havido mais apuração, denúncias firmes, quem sabe se teria obrigado o governo e a direção do PT a seguir um caminho mais correto? Em política, ao contrário do que supõem os que pensam esquematicamente, muitas possibilidades estão sempre abertas.
Estendo aqui este parêntese. O que freqüentemente se perde de vista é que o sistema de interlocução da democracia pode ser usado para melhorar propostas e condutas. Se a oposição não apenas denuncia, mas discute as propostas do governo, há mais possibilidades de que essas propostas sejam melhoradas. O caso mais em evidência é o da transposição das águas do São Francisco. Mas, nesse particular, o que se viu? A imprensa dormiu, o assunto foi despertado num rompante do bispo, que fez uma espécie de chantagem pública, ensaiou-se um debate e vamos retornar, provavelmente, ao silêncio. Será possível melhorar o projeto? Para concluir o parêntese: se a imprensa tivesse apertado o governo e o PT, será que haveria Land Rover de Silvio Pereira, cargos importantes para partidos da base aliada, eleição de Severino Cavalcanti, e por aí afora?
Uma avaliação positiva
A marca registrada do Observatório da Imprensa é fazer uma crítica sem concessões da mídia, mas eu tenho uma avaliação positiva do trabalho da mídia dadas as condições – inclusive insuficiências da mídia – existentes.
A mídia não enxergou o tamanho do problema, embora tenha tido, antes da defecção de Roberto Jefferson, dois momentos muito propícios para iniciar um novo tipo de cobertura – o assassinato de Celso Daniel e o desmascaramento de Waldomiro Diniz –, mas soube reagir aos maiores desafios visíveis, que seriam a conivência com uma solução conciliatória – ao preço de desmoralizar ainda mais a política – ou, no extremo oposto, cair no linchamento que, sem razão, lhe atribuem o deputado José Dirceu e outros políticos em apuros. Entre eles, lamentavelmente, o próprio presidente Lula.
A imprensa resistiu a pressões poderosas. O tempo todo o governo tentou empurrar goela abaixo a tese de que não houve “mensalão” e sim caixa 2 de campanha eleitoral, mas isso não foi aceito. Nem foi aceito que caixa 2 seja um delito menor, negligenciável.
As manobras dentro do Congresso e junto ao Supremo têm sido rebatidas. A mídia tem notória influência e tem usado essa influência numa linha que corresponde ao compromisso básico com os leitores, a percepção negativa da população a respeito da corrupção.
Um grande paradoxo que a mídia poderá enfrentar será uma campanha forte de Lula em 2006, a despeito de toda a crise. Com tanto antagonismo, seria possível manter uma atividade equilibrada em face do candidato Lula? (A premissa, aqui, é que não se descubra nada que comprometa pessoalmente o presidente Lula a ponto de provocar seu afastamento. Algo que ninguém pode garantir.)
Agências de publicidade incólumes
Isso dito, toda vez que se abrem as entranhas dos negócios no Brasil tende a haver muita hipocrisia. Eu não esperaria que os veículos de comunicação falassem de suas próprias jogadas junto a governos. Isso só acontece, muito raramente, quando há conflitos entre eles. Mas teria sido edificante uma boa discussão pelo menos sobre o papel das agências de publicidade. Não ocorreu nem quando Duda Mendonça foi inquirido e admitiu ter recebido “por fora” no exterior. As agências de publicidade fazem uma ponte entre a política, o lobby escuso (financiamento velado de campanhas, compra de votos de deputados, etc.) e o trabalho da imprensa. Mas é muito difícil tratar disso, e mais ainda num momento de crise da imprensa.
Biografias sonegadas
A imprensa sonegou biografias de personagens. Atribuiu-se ao presidente Lula o seguinte comentário: Não me conformo ao ver um ladrão de dedo em riste contra companheiros meus numa comissão parlamentar. A mídia deveria ter fornecido todas as informações de que dispõe sobre as vedetes das CPIs. (Não estou endossando a hipótese de que haveria ladrões entre eles.)
PSDB, PFL e PMDB protegidos
A mídia relutou em dar o devido espaço à apuração das denúncias contra o PSDB. A imprensa não tem sido equânime. Claro que o PT é a “bola da vez”, mas isso não dispensa os jornalistas de apurar e escrever claramente sobre os malfeitos de todos os governos. Por sinal, os bons jornalistas o fazem. Mas a linha editorial dos veículos está longe de ser eqüidistante. Igualmente, não deveriam ter sido deixadas de lado as mazelas do PFL e do PMDB.
Reformas negligenciadas
A mídia não conseguiu colocar na pauta, até agora, as reformas que precisam ser feitas para impedir que os mesmos padrões de irregularidade se repitam.
Falta independência política, econômica e mental. O veículo que mais se aproxima disso é, a meu ver, a Folha de S. Paulo. É meu sentimento, baseado numa leitura diária dos jornais que sou obrigado a fazer para o programa matutino de rádio.
A posição foi sensata
A mídia não soube antecipar problemas que já se tornavam visíveis, e não apurou muita coisa relevante durante a crise do “mensalão”, mas reagiu politicamente de modo equilibrado. Foi sensata. Na minha percepção, isso é muito importante.
A crise da mídia e caminhos a explorar
Um terceiro ponto que merece nosso exame, porque compõe o pano de fundo de todo esse processo, é a crise da própria mídia. Todas as mídias enfrentam problemas. A circulação de jornais e revistas, em pleno tiroteio da crise do “mensalão” e em meio a grande curiosidade popular, não se alterou. A maioria das pessoas se informa pelo rádio e pela televisão. E dentro das camadas minoritárias da sociedade a que pertencem os leitores da mídia impressa, as novas gerações, como se sabe, cada vez mais a trocam pela internet. (Beraba foi mais preciso nesse aspecto, porque colocou com toda a clareza a dificuldade enfrentada pelas redações fragilizadas.)
A internet é uma ameaça e uma solução. A primavera dos blogs brasileiros mostra isso. Mudou definitivamente a maneira de trabalhar a notícia, embora ainda estejamos tateando no terreno da interatividade.
Mas a internet oferece um desafio: ainda não tem um modelo econômico viável. Então, como a vida continua, a mudança provocada na grande imprensa por enquanto é pequena. Tenho a impressão de que ainda não surgiu um grupo econômico, ou um grupo de jornalistas, ou uma empresa jornalística com disposição para alguma experiência mais radical. Experiências vão sendo feitas de forma fragmentada. Num dado momento, “cai a ficha” e uma nova modalidade passa a ter curso. Mas é sintomático que os blogs de jornalistas de política tenham tido um primeiro impulso no Brasil na primeira grande crise política vivida desde o advento dessa modalidade de trabalho na internet.
Resta saber, mas eu não tenho essa resposta, como tudo isso poderá ajudar a mídia a encontrar caminhos que a levem a superar a grande crise vivida hoje.
* * *
Perguntas e respostas pendentes
Algumas perguntas enviadas da platéia por escrito não puderam ser respondidas por falta de tempo. Eis as perguntas e as respostas.
P. – O que esperar de uma imprensa que não busca os fatos, apenas os relata a partir dos interesses de grupos em desarmonia? Por outro lado, as empresas de comunicação se relacionam profundamente com o Estado ($). Isso não inibe o papel do jornalismo? Williams Ferreira Tabosa, coordenador de Políticas Institucionais da Secretaria de Comunicação de Maceió.
R. – A) Eu não disse que a imprensa não busca os fatos. Disse que no caso do “mensalão” as denúncias caíram-lhe no colo. Os vídeos estrelados por Waldomiro Diniz e por Maurício Marinho resultaram de conflitos entre delinqüentes. A imprensa faz o que pode para apurar. Às vezes faz menos do que seria adequado. B) Quando há dependência de verbas oficiais, e quase sempre há, o papel do jornalismo é inibido. Mas não só de verbas oficiais. Grandes anunciantes são muitas vezes deixados em paz pelos veículos. Ao mesmo tempo, todos os grandes veículos em algum momento compram brigas com governos, anunciantes ou segmentos econômicos. Os veículos jornalísticos das Organizações Globo costumam vigiar de perto a indústria farmacêutica, por exemplo. Em Campo Grande, o Midiamax, jornal eletrônico de Mato Grosso do Sul, passou oito meses sem receber nenhuma verba do governo do estado e não se dobrou, nem sucumbiu financeiramente.
P. – Se a imprensa perder o foco da verdade dos fatos pela venda dos jornais a corrupção vai acabar em pizza e a aftosa será culpa do boi. Concorda? Marivalda Izzo, Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo.
R. – Se bem entendi, concordo. Mas até agora isso está longe de acontecer. A mídia tem “marcado em cima”. Não dá para saber se esse acompanhamento garante que todas as responsabilidades serão apuradas, mas sem ele com certeza é impossível, em regime democrático.
P. – A defesa da democracia e o interesse comercial dos veículos não são compatíveis. A quem os jornalistas devem servir? A seus patrões ou a seu sistema político? Clarisse Setyon, professora da ESPM.
R. – Essa é a premissa da professora Marilena Chauí na carta que enviou por e-mail a alunos da USP. Daí em diante, caberia substituir o regime capitalista para ver se a mídia funcionaria melhor, então, a serviço da democracia. Todas as experiências feitas até hoje mostram o contrário. Os jornalistas podem servir a seus patrões e ao sistema político. O que não convém é que os jornalistas filtrem o noticiário à luz de sua própria ideologia, seja ela qual for, ou que os patrões trafiquem opiniões dentro do noticiário. Em alguma medida isso sempre acontece. Quando se torna dominante, tem-se uma catástrofe jornalística, logo política, porque a mídia é uma instância – decisiva – da política. Faço pelo menos uma ressalva: sob ditaduras, os jornalistas estão desobrigados de seguir as regras do regime democrático, simplesmente porque elas não vigoram. Já aconteceu no Brasil, e não faz muito tempo.
P. – À exceção da Folha de S. Paulo, que tem seu ombudsman, o sr. acha que a mídia faz sua própria autocrítica? O que sr. acha da cobertura que a mídia faz dos seus próprios deslizes? Sandra Sipp, Serpro.
R. – Toda a mídia, de um modo ou de outro, em graus variadíssimos, faz autocrítica interna. Salvo muito raras e muito desonrosas exceções (mas elas existem…). Autocrítica pública é outra coisa. A televisão praticamente não faz. Jornais têm boas seções de cartas, mas a cultura dos missivistas segue um pouco a do jornal. Na Folha, que faz autocrítica pública, explícita, por meio do trabalho do ombudsman e na seção Erramos, o leitor é mais propenso, me parece (não fiz um estudo sistemático), a registrar críticas e queixas. No Estadão, o leitor muitas vezes referenda os humores da casa. Veja publica muito encômio, sua seção de cartas é em parte uma operação de marketing. E assim por diante.
A uma pergunta feita por outra pessoa, sobre por que outros jornais não têm ombudsman, respondi: – Não sei. Acho que deveriam ter. O Estadão, por exemplo, ganharia muito se tivesse.
P. – Qual a sua opinião sobre a declaração do PT ao afirmar que “as elites” querem derrubar o governo Lula? Haroldo Tupinambá, Câmara Municipal de Guaratinguetá.
R. – A declaração do PT foi irresponsável na medida em que subordinou a preocupação com a legalidade (portanto, com a democracia) à defesa dos interesses do partido tal como interpretados naquele momento pela direção. Uma declaração correta teria sido: erramos, vamos corrigir, queremos que tudo seja apurado, mas tem gente querendo aproveitar as denúncias para atacar o governo (o que é verdade, e não afeta a democracia, desde que não se trate de uma tentativa golpista).
P. (Formulada também para Marcelo Beraba.) – A cobertura da imprensa no caso “Crise da Saúde” entre Prefeitura do Rio e governo federal foi imparcial ou ficou claro que as Organizações globo (jornal e TV) serviram de interlocutor do governo federal? Como você vê isso? Anette Silva, assessora de comunicação da Prefeitura do Rio.
R. – Não tenho suficiente informação sobre esse episódio para opinar.