Brilhante o artigo assinado pela jornalista Maria Cristina Fernandes, no Valor Econômico de hoje, sob o título ‘Quem trabalha sempre alcança’. Ela discorre sobre eventos empresariais patrocinados pela Federação do Comércio de São Paulo, que teve Roberto Jefferson como palestrante, e pelo Centro das Indústrias de São Paulo, abrilhantado pelo presidente do PFL, Jorge Bornhausen.
Num dos trechos, ela escreve:
‘O objetivo propalado de ambas as instituições era o de discutir as reformas necessárias para tirar o país do atoleiro. De ambos os palestrantes, os empresários ouviram que um dos problemas do país é o de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eleito pelo Partido dos Trabalhadores, não gosta de trabalhar. Para Jefferson, a aversão de Lula ao trabalho explicaria a delegação de seu governo ao ex-ministro José Dirceu, pecado original da crise. Para Bornhausen, Lula, que nunca foi habituado a trabalhar, agora o faz ainda menos, apenas discursa sobre a reeleição.
‘Tornou-se politicamente incorreto argumentar que a pobreza dos brasileiros decorre de sua inaptidão ao trabalho. O que sobrevive forte e robusto é o discurso de que o mercado é mais eficiente que o Estado na mediação de conflitos da sociedade. O que dá mais ou menos no mesmo. Só é pobre quem quer, porque quem trabalha, alcança.
‘Focado em Lula, o discurso do pobre vagabundo acaba debitado na conta do confronto político. O que ele revela, no entanto, é uma triste herança desta crise. Se o país tem dirigentes corruptos é porque o povo não sabe votar. Melhor, então, que decidamos por ele. É daí que aparece a outra face da proposta de Jorge Bornhausen para a reforma eleitoral. O encurtamento das campanhas e a simplificação do seu formato visam seu barateamento e podem, sim, ser capazes de alcançá-lo. Por outro lado, ao tornar-se menos atrativa, a campanha eleitoral perde seu apelo junto ao eleitor de mais baixa escolaridade e ser um incentivo a mais ao absenteísmo.’
Recomenda-se a leitura na íntegra.