Quando, na sessão final, a relatora do 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Língua Portuguesa resumiu os trabalhos daqueles dois dias, começaram a se delinear as discrepâncias em matéria de liberdade entre os países participantes.
No bloco africano – os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) – evidenciaram-se desigualdades preocupantes. Embora formalmente democráticos, os graus de autonomia e pluralidade são díspares. Enquanto Cabo Verde e Moçambique admitem o funcionamento de empresas jornalísticas privadas em competição com os conglomerados estatais, em Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe (também em graus variados) os controles estatais são mais rigorosos.
No bloco luso-brasileiro, teoricamente mais homogêneo, as assimetrias também se descortinam. A própria concentração da mídia (ou dos ‘media’, como se diz aqui), mãe de todos os problemas, manifesta-se de forma diferenciada.
Enquanto no Brasil o Grupo Globo (isto é, as afiliadas da Rede Globo) constituem um imbatível sistema de hegemonias regionais, a concentração portuguesa tende a criar dois pólos privados mais ou menos equilibrados (o chamado ‘Grupo Balsemão’ e o Lusomundo), com dois grupos comerciais menores (o Independente e o Correio da Manhã), todos observados pelas congêneres espanholas que não escondem o apetite pelo pequeno, porém importante, mercado vizinho. Numa faixa paralela correm as emissoras estatais competindo diretamente com a mídia privada.
Assim, apesar da concentração empresarial, o quadro português é mais diversificado em matéria informativa do que o brasileiro com mais e maiores veículos.
Só o idioma
Enquanto o rádio e a televisão brasileira, mesmo os privados, fazem questão de esquecer seus compromissos com o interesse público, a tradicional presença do Estado português na mídia eletrônica (através da RTP – Rádio e Televisão de Portugal e da RDP – Radiodifusão Portuguesa) criou um paradigma que mesmo os competidores comerciais se obrigam a respeitar.
As práticas e preocupações dos jornalistas também se distinguem. A grande imprensa brasileira ainda não conseguiu se libertar das coberturas de saturação que banalizam até as questões mais transcendentais. Em geral é incompetente em matéria investigativa, a não ser quando privilegiada por fitas, vídeos ou dossiês secretos fornecidos por interesses escusos.
Já a grande imprensa portuguesa mostra-se capaz de investir em coberturas personalizadas em todas as partes do mundo e, quando envereda pelo jornalismo investigativo, não depende de fornecedores suspeitos. Isto explica a multiplicação de conflitos judiciais envolvendo a revelação das fontes, situação bastante rara em nosso país.
O jornalismo norte-americano não se diferencia do jornalismo britânico. Além do idioma, o comportamento é comum. No mundo lusófono, só o idioma é o mesmo.
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O 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Língua Portuguesa foi organizado pelo Observatório da Imprensa (Portugal), presidido por Filomena Silva (Cabo Verde) e teve como relatora Norma Couri (Brasil). Demais participantes brasileiros: José Paulo Cavalcanti (presidente do Conselho de Comunicação Social), Fernão Lara Mesquita (Grupo O Estado de S.Paulo), Leão Serva (Último Segundo/iG) e este Observador, representante do Observatório da Imprensa (Brasil).