A divulgação dos nomes de assessores da Câmara e parentes de parlamentares que estiveram na agência do Banco Rural, apresentada como notícia bombástica do Jornal Nacional da última quinta-feira, ainda carece de explicação plausível. O telejornal apresentou a ‘reportagem exclusiva’ dizendo que ‘o cruzamento de dados feito por um deputado, e obtido pela jornalista Cristiana Lobo , mostra que petistas, ou parentes ou assessores e funcionários de petistas também estiveram na agência’. Sem a recomendável checagem, o telejornal divulgou a lista preparada pelo deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ), chamando a atenção para os petistas que estiveram na agência. Os jornais foram atrás da relação e a republicaram na manhã de sexta-feira, com diferentes conveniências. Alguns títulos, como o da Folha de S.Paulo, tomaram o devido cuidado – ‘Líder do PFL levanta suspeita sobre petistas’; outros, como do O Estado de S.Paulo – ‘Petistas foram à agência onde mensalão seria pago’ – compraram de segunda mão, sem pestanejar, o que o deputado vendera para o Jornal Nacional. Ocorreu, porém, que a lista estava cheia de buracos e falsidades. No dia seguinte, sem desculpar-se com a falta de apuração, o Jornal Nacional voltou ao assunto, desta vez com a ‘reação dos deputados citados’ e o acréscimo de que, entre nomes apresentados por Rodrigo Maia, constava um dos dois motoristas de seu gabinete. ‘O motorista do PFL, Antonio de Souza Filho, esteve 14 vezes na agência. E usou dois números de identidade diferentes’, disse o Jornal Nacional. ‘Em uma das vezes em que Antônio esteve na agência, no dia 12 de agosto de 2004, o conselho de controle de atividades financeiras registrou um saque de R$ 437 mil nas contas do empresário Marcos Valério, tido como operador do mensalão’. No sábado, O Estado de S.Paulo, que um dia antes abrigara a lista sem pestanejar, desculpou-se com seus leitores no editorial ‘Sinais de desorientação’: ‘E daí?’, pergunta-se O Estado. ‘Além do fato de que existe no prédio muito mais do que uma agência bancária suspeita e de que podem ser perfeitamente inocentes, como ficou demonstrado na maioria dos casos, os motivos que levaram as pessoas a ir ao estabelecimento, ignorou-se um dado crucial. Se o mensalão existiu, não era para pagar deputados do PT. Era para pagar deputados de outros partidos da base parlamentar do governo, por iniciativa do PT. A desorientação dos políticos se manifesta por outros meios também.’ A pior das revelações sobre a lista infame da ‘reportagem exclusiva’ do Jornal Nacional encontra-se no mesmo O Estado de sábado, na reportagem ‘PT pede cassação de Rodrigo Maia’.
A emenda pode ter saído pior do que o soneto. Ao tentar responsabilizar o denunciante, o Jornal Nacional não levou em conta a probabilidade de que Antônio de Souza Filho é um nome comum, com centenas de homônimos pelo país.
A repercussão do estardalhaço da divulgação da lista tomou outro rumo. Várias pessoas mencionadas sequer estiveram na agência ou pisaram algum dia em Brasília. Um dos parlamentares petistas atingidos, Sigmaringa Seixas, do Distrito Federal, viu má-fé na lista preparada e protocolou processo de cassação contra Rodrigo Maia por falta de decoro parlamentar.
‘Não se pode culpar os leitores, incluindo os deste jornal, se, em meio a essa barafunda, tomaram o periférico pelo essencial – que continua sendo puxar até o fim o fio da meada registrado no vídeo em que o funcionário dos Correios Maurício Marinho aparece embolsando um pacotinho de dinheiro. Da mesma categoria de denúncias que provocam barulho desproporcional à sua substância faz parte o levantamento do líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia, tratado como uma verdadeira bomba política no Jornal Nacional da quinta-feira. (…)
Segundo o jornal, o deputado autor da lista disse estar ‘tranqüilo quanto ao pedido de cassação’, e que ‘não tem responsabilidade sobre a produção da reportagem veiculada no Jornal Nacional. ‘Estou tranqüilo. A parte que fiz foi de forma correta. Eu fiz o levantamento primário e a emissora (TV Globo) fez a parte dela’, disse o líder pefelista’.
No sábado, o Jornal Nacional não esclareceu porque, segundo o deputado, selecionou os parlamentares do PT na apresentação da lista.