Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Revelação do JN não inocenta a Infraero

A notícia, no Jornal Nacional, de que o Airbus da TAM estava com um problema no sistema de frenagem parece insuficiente para excluir o estado da pista de Congonhas, onde o avião pousara no lugar certo e na velocidade certa, como causa primária da tragédia da terça-feira.

Segundo o noticiário, parece robusta a hipótese de que o piloto tentou arremeter (levantar vôo de novo) e não conseguiu completar a manobra por causa de uma ‘assimetria’ nos reatores.

Mas por que arremeter? ‘Não se sabe ainda a razão que levou o piloto à decisão’, diz o Estado de hoje. Aparentemente, porque a alta velocidade de rolamento do avião e a sua gradativa inclinação à esquerda o fizeram perceber que não conseguiria frear o aparelho antes do fim da exígua pista de 1.940 metros.

Quais as razões, porém, da aceleração e da guinada?

O Estado ouviu, entre outros especialistas, o brigadeiro da reserva Renato Cláudio Costa Pereira, ex-secretário geral da Associação Internacional de Aviação Civil (Incao, na sigla em inglês). O texto:

‘O pino que trava a abertura do reverso da turbina [que serve para frear o avião] não é um item proibitivo [para o Airbus operar]. O avião da TAM enfrentava ainda uma pista escorregadia, pois chovia no início da noite. Até tocar o solo, ele veio normal. Mas quando bateu no chão molhado e sentiu que a situação não estava boa, o piloto decidiu arremeter, pois não pararia só com um reverso em funcionamento.’

O que leva às causas estruturais da tragédia. Reformada apenas parcialmente, a pista deveria estar interditada quando chovesse – providência adotada depois da catástrofe. A Infraero, decerto sob pressão das empresas às vésperas das férias de julho, liberou-a prematuramente, sem nela terem sido escavados os sulcos por onde escoa a água.

Os jornais de ontem citaram pilotos dizendo que a pista estava ‘um sabão’.

Insisto: se esse mesmo avião, com os mesmos pilotos, nas mesmas condições técnicas e sob as mesmas condições atmosféricas, estivesse pousando, por exemplo, em Cumbica, é altamente improvável que o vôo terminaria como terminou em Congonhas.

A conduta da Infraero no episódio foi agravada com a divulgação da mentira de que um laudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP autorizava a liberação. O laudo – conforme a Folha de ontem, em primeira mão – ainda não está pronto.

A Infraero – cujo presidente José Carlos Pereira está com os minutos contados e de quem o presidente Lula anda dizendo cobras e lagartos, segundo o noticiário – está envolvida até o pescoço na tragédia. E o comportamento da empresa, assolada por pencas de denúncias de corrupção, é uma peça essencial do apagão aéreo brasileiro.

Outra é a Anac, outra ainda a Aeronáutica, outra ainda a dificuldade aparentemente insuperável do Palácio do Planalto de sanar a crise que se arrasta há 10 meses. ‘Quero respostas rápidas’, Lula disse ontem ao comandante da Aeronáutica Juniti Saito. Não foi a primeira, nem deve ter sido a segunda vez.

P.S. Depois das cenas do horror no prédio da TAM Express, a imagem mais chocante da tragédia foi ao ar no Jornal da Globo de ontem. Mostra os obscenos gestos de desforra do assessor presidencial Marco Aurélio Garcia e do seu auxiliar, jornalista Bruno Gaspar, ao verem no Jornal Nacional a matéria sobre o defeito no Airbus, o qual demonstraria que o desastre da TAM não teve nada a ver com o apagão aéreo.

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