Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O cadinho brasileiro

A Exame se junta ao pelotão de jornais que, para expressar sua visão crítica das práticas do empresário Nelson Tanure, apresenta-o como “baiano”. (Também diz, como o Globo e a Folha, que ele é filho de um imigrante libanês. Ver “Patriotadas e preconceitos”.)


Forma de preconceito bem brasileira, que não se assume. A reportagem da Exame sobre Tanure, seu estilo empresarial e sua tentativa de controlar a Varig, publicada na edição com data de 21/12, menciona outros brasileiros sem especificar sua naturalidade. Não diz, por exemplo, “a [então] ministra paulista Zélia Cardoso de Mello”, ou “o carioca Paulo Marinho”, diretor do Grupo Docas, que pertence a Tanure, ou “o carioca David Zylberstajn”, ou “o goiano Wagner Canhedo”. Ah, sim, o adjetivo gentílico acompanha os nomes de dois outros mencionados: o “banqueiro baiano Daniel Dantas” e “o empresário German Efromovich, uma espécie de versão boliviana de Tanure”.


Acredite, leitor, eu fiz um levantamento e encontrei na edição (pulando a seção de cartas) 201 nomes citados. Desses, só 25 acompanhados do gentílico. Em alguns casos, numa situação em que a qualificação é indispensável: “sindicalista canadense”, ou engenheiro paulista contratado por uma empresa chilena, “cantor inglês”, “tenista suíço”, etc. Em outros casos não havia citação explícita, mas uma caracterização indireta: “vice-presidente de recusos humanos da subsidiária americana”. Às vezes, sem nenhum propósito inteligível – em várias reportagens, dois critérios diferentes podem ser encontrados.


Mas a exatidão com que Tanure é brindado não tem nada de aleatória. É preconceito, mesmo. O que não quer dizer que ele seja um varão de Plutarco, longe disso. Mas, como diria o inesquecível Genoíno, “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”.