Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

TELEVISÃO
Laura Mattos e Clarice Cardoso

Nova novela faz merchandising grátis do Ceagesp em São Paulo

‘Só vai dar São Paulo na Globo. Enquanto a novela das sete, ‘Tempos Modernos’, faz merchandising gratuito do projeto de revitalização do centro histórico da cidade, a próxima das oito, no ar a partir de abril, divulgará a Ceagesp (Companhia de Entre postos e Armazéns Gerais de São Paulo).

A maior central de abastecimento de alimentos da América Latina será cenário de um importante núcleo de ‘Passione’, de Sílvio de Abreu.

A Globo gravou no local por uma semana, neste mês, sempre de manhã, a fim de evitar as chuvas fortes dos finais de tarde, que chegam a alagar a parte baixa do Ceagesp ‘mais alto, o pavilhão escolhido pela Globo não é atingido pela enchente.

Para Sílvio de Abreu, ‘o Ceagesp é o estômago de São Paulo’. ‘Além disso, é um lugar bonito e fotografa bem, então tem que ser mostrado’, diz o autor.

A protagonista do núcleo é Candê (Vera Holtz), comerciante de verduras, ‘baronesa do Ceagesp’. Reynaldo Gianecchini e Bianca Bin serão seus filhos, Fred e Fátima. Eles gravaram no Mercado Livre do Produtor, parte menos conhecida por frequentadores ocasionais por vender no atacado.

Além das cenas com os atores, a Globo fez arquivo de imagens abertas do local para usar ao longo da trama. A emissora fará uma réplica de parte do Ceagesp no Projac (Rio), onde serão gravadas futuras cenas ‘no computador, serão mescladas às imagens do Ceagesp real, processo mais barato e simples do que deslocar produção e elenco para São Paulo.’

Além do Ceagesp, serão mostrados avenida Paulista, Cidade Universitária, Faap, Morumbi, Jardins e Tatuapé.

Do telebarraco ao teledivã

Mal começara a falar à Folha, Márcia Goldschmidt, 47, a rainha dos telebarracos, dispara: ‘Você é solteira ou casada? Gosto de entender o momento da mulher. Sou enxerida mesmo’, brinca ela, que lança nas bancas o livro ‘Amor sem Dor’ (ed. Lua, 114 pág., R$ 22), com ‘conselhos sentimentais’.

Dá dicas como ‘nunca vista osapo de príncipe’ ou ‘não seja mecânica de homem’.

Na Band, diariamente, Márcia analisa comportamentos polêmicos, como o de fãs que perseguem artistas, e desvenda suspeitas de traição.

Diz que virou terapeuta de amigas e fãs. ‘Mas não sou guru, só tenho sensibilidade para os dramas.’

Personagens somem de ‘Viver a Vida’

Novos ‘desaparecimentos misteriosos’ rondam ‘Viver a Vida’ (Globo). Além de Laura (Arieta Corrêa), a enfermeira de Luciana (Alinne Moraes) trocada por Vitoria (Cristina Flores), outros personagens previstosna sinopse sumiram.

O casal Afonso (Beto Nasci) e Roberta (Débora Nascimento) só apareceu uma vez, no casamento de Helena (Taís Araújo). André (Antonio Firmino), pai do filho que Helena abortou, fez só quatro cenas. ‘Estou às cegas, mas o Manoel Carlos diz que voltaremos’, conta Débora.

Antônio é paciente: ‘Vida de ator é esperar. Quando tiver cena, gravo’. Beto se diz ansioso. ‘Estou à disposição da novela.’

Manoel Carlos explica: ‘André não entrou mais pois não tinha história, mas pode voltar.O mesmo com Afonso e a mulher. Ele terá história nos últimos 50 capítulos. Quanto às enfermeiras, são muitas. Entram, saem, aparecem, desaparecem’.’

 

Ana Paula Sousa

Assisto a séries, logo existo

‘Professor de filosofia do que seria, na França, o ensino médio, Thibaut de Saint Maurice percebeu, numa tarde cinzenta de inverno, que as explicações sobre o ‘raciocínio experimental’ eram incapazes de alterar, minimamente que fosse, o olhar de seus alunos. Estavam todos alheios ao que dizia. Foi então que, tal e qual reviravolta num roteiro, ele lembrou-se do doutor House, o médico que dá nome a uma das séries mais vistas no mundo.

‘Ao escrever no quadro-negro, para ninguém, lembrei do House tentando explicar aos colegas, no hospital, a pertinência de suas hipóteses’, diz. ‘Perguntei aos alunos se conheciam o House. Até os que olhavam pela janela se voltaram para mim. Começamos a falar sobre a descoberta dos diagnósticos pelo personagem e, então, toda aquela história de ‘diálogo entre razão e experimento’ ganhou sentido.’ Nascia assim ‘Philosophie en Séries’ (‘Filosofia em Séries’), publicado na França, sem tradução no Brasil. Se são muitos os subprodutos que as séries procriam, poucos são os que se mostram tão inventivos e, digamos, filosóficos.

‘A riqueza das séries é inexplorada’, diz o autor, em entrevista à Folha. ‘Todas juntas, são um formidável espelho da vida contemporânea e constituem um grande reservatório de experiências e de situações com as quais muita gente se identifica.’ Por isso, sentado em frente à TV, Maurice resolveu filosofar e, de posse de um livro de Kant, acabou por pensar em Jack Bauer, ‘antikantiano’ por excelência.

O autor está convicto de que séries como ‘Nip/Tuck’, ‘A Sete Palmos’ e ‘Dexter’, diversão à parte, giram em torno de questionamentos sobre os valores sociais e a maneira de se ver o mundo. A obsessão estética, a morte e o senso de justiça numa sociedade que se sente refém da violência são, na visão de Maurice, o estofo desses programas.

Jack Bauer, por sua vez, seria o típico herói pós-moderno. ‘Seu heroísmo não repousa sobre uma virtude essencial, uma fé religiosa ou sobre valores universais. Seu heroísmo é o da eficácia. Sua moral é a utilitarista. A violência que ele pratica é vista como um preço a ser pago em nome da eficácia.’

Já House encarnaria a figura moderna de um Sócrates obcecado pela busca pela verdade. ‘O sucesso da figura de House é extremamente revelador de uma sociedade que não se importa mais com a verdade’, diz, dialético.

Conciliação cultural

O que empurrou Maurice para o projeto foi o desejo de reconciliar cultura de massa e cultura acadêmica. Ele, que tem 30 anos e cresceu assistindo a ‘Buffy’, ‘Arquivo-X’ e ‘Oz’, está convicto de que, por meio da cultura de massa, também é possível valorizar o que os grandes pensadores um dia disseram. ‘Quando se fala em cultura geral, se pensa na cultura clássica: a cultura do passado é transmitida pela escola enquanto a cultura de massa é tratada como mero entretenimento. Mas isso, simplesmente, não corresponde à maneira como as pessoas vivenciam sua prática cultural. Ver TV não exclui a leitura de livros.’

Maurice defende, ao contrário, que pelo fato de estarem no dia a dia de espectadores do mundo todo, as séries podem, se esmiuçadas, mostrar o quanto a filosofia clássica tem a dizer sobre a contemporaneidade. E por que as séries e não o cinema? ‘Se eu tivesse sido professor nos anos 50, certamente o cinema é que teria chamado a minha atenção, ou mesmo o rock’n’roll. Mas, hoje, o vigor criativo está nas séries.’

Maurice confessa, na entrevista, que dentre os 11 programas que analisa, os prediletos são ‘24 Horas’ e ‘A Sete Palmos’. O primeiro, porque tem uma ação vigorosa e toca, de maneira explícita, nas questões da filosofia moral. O segundo, pela capacidade de falar sobre o lugar que a morte ocupa na vida de cada um.

O filósofo irrita-se, porém, com ‘CSI’, que, a seu ver, coloca os procedimentos científicos a serviço do fantasma da segurança e da resolução de crimes. ‘Me parece um tratamento complicado, pouco cuidadoso, da ciência, um dos bens mais preciosos da humanidade.’

E, no seu caso, é possível falar de séries sem desrespeitar a complexidade de certas teorias? ‘Você faria a mesma pergunta se eu usasse a filosofia para falar sobre pintura?’, pergunta, num momento-House. Ou seria Sócrates?’

 

Eduardo Escorel

Programa trata espectador como criança

‘Um espectro ronda a Rede Globo. Pode ser visto todas as sextas-feiras, às 22h30. Chamado de ‘Globo Repórter’, passou por mudanças desde 1973, quando estreou. Perdeu o vigor original que manteve em algumas fases.

No programa exibido no último dia 5 de fevereiro, além de gravar as intervenções do apresentador e a narração, a equipe do ‘Globo Repórter’ se limitou a traduzir um filme coproduzido por diversas emissoras de televisão europeias.

Por coincidência, ou não, o filme original, tratando das reações neurológicas provocadas pela paixão, tem ingredientes semelhantes às novelas produzidas pela emissora.

Em Paris, os personagens de um triângulo amoroso participam de um reality show privado, cujo desfecho é uma noiva, em pleno altar, decidindo entre dois pretendentes. Tudo a pretexto de fazer uma divulgação científica.

Mesmo com a narração tonitruante, o espectador incauto, ou sonolento, tem dificuldade de perceber que a novela ‘Viver a Vida’ e o reality ‘Big Brother Brasil’ terminaram.

Transformado em mistura de novela e reality show, o ‘Globo Repórter’ atenta contra o jornalismo.

O que o filme original tem de mais elaborado são as animações dos órgãos do corpo reagindo ao estímulo da paixão. Mas, quando cintilações são aplicadas à imagem dos atores, o resultado é ficarem parecidos com personagens de Peter Pan.

Assim como os dois programas que o precedem, este ‘Globo Repórter’ procura infantilizar os espectadores. Frases ditas na narração como ‘o amor afeta o cérebro como um doce’; ‘para a ciência o beijo é a primeira penetração’; ‘o cérebro toma a rédea da odisseia mágica do corpo apaixonado’ etc. dão uma ideia da qualidade do texto e do nível da divulgação científica, inapropriados até mesmo para pré-adolescentes.

No horário em que é exibido, um adulto no pleno exercício de suas faculdades mentais não pode deixar de se sentir tratado como criança e desrespeitado, além do mais, pelo bombardeio da publicidade nos intervalos -dez comerciais no primeiro e 14, no segundo.

No final, o convite feito aos espectadores para contarem o que sentiram ao passar pela ‘revolução interna de uma grande paixão’, enviando depoimentos gravados em vídeo ao site do programa, é um fecho glorioso na tentativa de o ‘Globo Repórter’ transformar a vida em espetáculo. ‘

 

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