Durante anos, o bordão publicitário da Folha de S.Paulo foi “Um jornal de rabo preso com o leitor”.
A partir deste domingo, depois de percorrer a derradeira coluna do seu ombudsman, Mário Magalhães, o leitor terá todo o direito de abreviar o slogan para “Um jornal de rabo preso”.
Ou poderá propôr um adendo ao mote, copiando a célebre reação do então tesoureiro petista Delúbio Soares, em abril de 2005, à idéia de os partidos divulgarem periodicamente na internet as doações recebidas ao longo das campanhas eleitorais:
“Transparência assim já é burrice”.
Para que se entenda por que, seguem trechos do artigo de Magalhães, intitulado “Despedida”:
“Assumi em 5 de abril de 2007, e o meu mandato se encerrou anteontem. Embora o estatuto autorize a renovação por mais dois períodos, não houve acordo com a direção do jornal para a continuidade.
A Folha condicionou minha permanência ao fim da circulação na internet das críticas diárias do ombudsman. A reivindicação me foi apresentada há meses. Não concordei.
A partir de agora, os comentários produzidos pelo ombudsman durante a semana só poderão ser conhecidos por audiência restrita, de funcionários do jornal e da empresa, que os recebe por correio eletrônico. Os leitores perdem o direito.
O comando da Folha esgrimiu um argumento para a decisão: no ambiente de concorrência exacerbada do mercado jornalístico, idéias e sugestões do ombudsman são implementadas por outros diários.
De fato, isso ocorre.
E continuará a ocorrer.
Eventuais interessados, se bem articulados, terão como lê-las.
Já os leitores ditos comuns, os que fazem a fortuna de toda empreitada jornalística de sucesso, serão barrados. A medida não resolve o problema a cuja solução se propõe, mas prejudica quem é alheio a ele.
Não é praxe dos jornais impressos do mundo inteiro compartilhar na rede o que muitos deles chamam de memorando interno do ouvidor.
A Folha deu um passo ousado na imprensa brasileira ao nomear um ombudsman. Radicalizou e tornou públicas as críticas antes limitadas à Redação.
Mesmo com as críticas vetadas aos leitores, a Folha não perderá a primazia em transparência no jornalismo nacional. As colunas de domingo persistirão, e a publicação de um artigo como este expressa tolerância com o pensamento divergente. Quantos jornais o imprimiriam, se o objeto de análise fossem eles?
A despeito desse cenário, a restrição imposta configura regressão na transparência.
O ombudsman deve ser um instrumento dos leitores. Se 80% dos pronunciamentos semanais ficam inacessíveis, reduz-se a fiscalização dos leitores sobre aquele cuja atribuição é batalhar em nome deles.
O ombudsman incapaz de zelar pela manutenção da transparência do seu ofício carece de autoridade para combater pela transparência do jornal. Como cobrar o que se topou diminuir?
A tendência mundial é de expansão da transparência das organizações jornalísticas. A novidade da Folha aparece na contramão.”
P.S. Da série “O papel aceita tudo”
Colunas, artigos e entrevistas nos diários de hoje desvendam a estratégia secreta do presidente Lula para ser ele mesmo a única alternativa da coalisão governista para 2010 – o tal do terceiro mandato.
É assim: um a um, ele derruba os possíveis candidatos do PT à sua cadeira. Primeiro, foi José Dirceu. Depois, Antonio Palocci. Muito em breve, enfim, será a vez de Dilma Rousseff.
Esse Lula é mesmo um gênio.
Fez com que cassassem o mandato do seu “capitão do time”, no escândalo do mensalão.
Fez com que o seu ministro da Fazenda e fiador do seu governo junto aos mercados mandasse devassar e divulgar a conta bancária de um caseiro, com o que ficou docemente constrangido a demiti-lo.
E se prepara para fazer o mesmo com a mãe do PAC por causa do dossiê.
E o incauto leitor que não tinha pensado nisso?