Melhor ainda do que aparecer na imprensa, sabem os mais espertos entre os que dependem disso, é aparecer sem que o público perceba os andaimes por trás do cenário – a invisível carpintaria graças à qual a presença do interessado nas páginas e horários certos dá a impressão de vir por geração espontânea, a coisa mais natural do mundo.
Por isso é provável que apenas uma minoria de leitores tenha se dado conta de que, à parte o presidente Lula, nenhum outro político passou a ocupar tanto espaço nobre no noticiário do setor como o governador tucano de Minas, Aécio Neves.
Sabe-se por que. Ele e o prefeito petista de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, estão se distinguindo dos demais políticos da mesma liga, em razão da tentativa conjunta de conseguir que o PSDB e o PT subam de braços dados ao palanque do candidato deles à sucessão de Pimentel – o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Márcio Lacerda, que em tempos idos trabalhou com Ciro Gomes no governo do Ceará e não faz muito se filiou ao PSB do mesmo Ciro.
Nas eleições municipais de 2004, esses dois partidos que só visam a jugular um do outro no plano federal e na maioria dos Estados se aliaram na disputa de cerca de duas centenas de prefeituras, ou um apoiando o candidato filiado ao outro, ou os dois apoiando o candidato de uma terceira legenda.
Mas Belo Horizonte é outra história – por motivos mais que óbvios. Não espanta, portanto, que a montagem de uma coligação eleitoral tucano-petista na cidade excite o reportariado e o comentariado político nacional.
O esquema já rendeu, quem diria, um editorial beirando o simpático do Estado, no domingo, 23.
O jornal assinala que se trata do fato ‘até agora mais interessante’ da crônica das eleições deste ano, cita favoravelmente Aécio [‘Essa é uma aliança da generosidade’] e Pimentel [‘Após seis anos de convivência, o governador e eu criamos uma afinidade pessoal e identidades políticas’] para concluir:
‘Descontadas a retórica e a incerteza, pelo menos assim a política dá uma pausa ao ramerrame de sempre.’
Se se sabe, portanto, por que Aécio e Pimental estão na crista da onda, talvez não se saiba que isso não caiu do céu: eles entenderam que a presença de ambos na mídia era necessária, embora não suficiente, para dar força ao projeto.
Não foi exatamente a contragosto, pois, que os dois se deixaram entrevistar nas últimas semanas pelos principais jornais do país, passando invariavelmente a mesma mensagem de aproximação – ‘construir pontes’ foi a expressão que Aécio mais gostou de repetir.
Ontem, uma reportagem da tarimbada correspondente do jornal Valor
‘A articulação garantiu a visibilidade esperada por Aécio’, escreve a jornalista, decerto depois de uma conversa “em off’ com ele. ‘Seu maior objetivo era projetar-se nacionalmente com um discurso novo, de convergência, numa direação contrária à que costuma tomar o governador de São Paulo, José Serra.’
A ‘projeção na mídia’, em suma, é parte essencial da estratégia do neto de Tancredo Neves para ‘a construção da identidade que almeja, a de grande conciliador, capaz de reunir leque de apoios mais amplo do que faria Serra’.