O artigo ‘Tsunami da informação’ (www.blaz.com.br/tsunami_informacao) é interessante. Refere-se à tentativa de alguns especialistas de disciplinar a avalanche de informação a que estamos expostos à revelia de nossa vontade e que podem até mesmo afetar de maneira negativa nossos relacionamentos.
Há uma fábula interessante que ajuda a compreender este dilúvio de informações a que felizmente estamos sujeitos. Certa vez perguntaram a um programador se Deus existia. Ele disse que não sabia a resposta e que faria uma pesquisa sobre o assunto. Vasculhou seu banco de dados e como o que encontrou era muito pouco para formular uma resposta, conectou-se ao computador da biblioteca da universidade onde havia estudado. Lá também não encontrou grande coisa, então resolveu conectar-se aos computadores de todas as outras universidades que conhecia. Ainda assim não obteve a resposta, de maneira que conectou seu computador à Biblioteca do Congresso Americano e à Biblioteca Nacional brasileira.
Compras online
Como ainda não tinha a resposta, seguiu procurando até que todas as bibliotecas do mundo passaram a estar interligadas. Quando isto ocorreu, ele deu a seguinte resposta à questão sobre a existência ou inexistência de Deus:
‘Agora que temos acesso ao conteúdo de todas as bibliotecas, creio que deus existe’.
A fábula, cuja versão original está num livro sobre a era da informação que li e cujo nome não me ocorre no momento, é ilustrativa. Mas não nos dá uma real perspectiva do assunto. A questão crucial do momento não é se podemos ter acesso à informação. Afinal, quase todo conhecimento humano está disponibilizado online. Mesmo informações consideradas sigilosas podem ser acessadas com ferramentas de ‘arrombamento virtual’ disponibilizadas em websites do submundo online acessíveis aos mais ousados.
A questão que se coloca diante de todos os usuários da internet é a seguinte: quais são as informações que desejamos e quais devemos desejar? Não há dúvida de que podemos facilmente obter na internet os diagramas para a construção de uma bomba atômica idêntica à que os americanos detonaram sobre Hiroxima. Tenho quase certeza de que muitos dos materiais necessários à construção do artefato também poderiam ser comprados legalmente online. Desde que sejam feitos os contatos militares certos e exista disponibilidade de recursos financeiros, até mesmo o urânio enriquecido poderia ser encomendado por e-mail na Rússia, na China, na Coréia do Norte.
Novo ativismo
A questão que se coloca, portanto, não é se podemos construir uma bomba nuclear, mas se isto se justifica. Além disso, por que alguém correria o risco de ter acesso a informações que podem levá-lo a ser expulso da internet ou mesmo da vida?
Questões como essas nos colocam diante de outras mais explosivas. Por que os políticos autorizam os militares a construir bombas atômicas sem autorização dos cidadãos que financiam estes projetos com seus impostos? Por que alguns Estados se julgam no direito de ter bombas atômicas e de impedir que outros as tenham? Por que não proibimos na rede todas as informações sobre o assunto? Por que não desmantelamos os exércitos regulares e destruímos todas as bombas nucleares?
Pressionado por dúvidas como estas, que certamente não existiriam se não houvesse a possibilidade de acesso a informações antes restritas, é que o cidadão comum pode acabar despertando. Assim, ao contrário daqueles que acreditam que a tsunami da informação é nociva e precisa ser submetida a algum tipo de controle, creio que, neste maravilhoso caos virtual, mesmo as informações indesejadas podem ser úteis, na medida em que ajudam a desenvolver um novo ativismo político não-atrelado ao Estado e de abrangência virtualmente transnacional.
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Advogado, Osasco, SP