O jornal The New York Times tornou-se, esta semana, o primeiro dos grandes jornalões norte-americanos a fundir as redações das edições impressa e online. Não se trata apenas de uma decisão administrativa, mas uma mudança radical na política editorial do jornal, depois de 10 anos de segregação, inclusive geográfica, entre seus jornalistas. As duas redações funcionavam em endereços diferentes em Nova Iorque. O jornal deu poucos detalhes sobre como esta fusão vai ser implementada. Disse apenas que o projeto deve terminar em 2007 quando a redação unificada estiver funcionando a pleno vapor em novas instalações na rua 43, em Manhattan. Trata-se de uma empreitada cheia de riscos porque afeta tanto as decisões editoriais como a materialização destas mesmas decisões através de textos, imagens e sons. Uma coisa é simplesmente juntar profissionais sob um único teto. Outra bem diferente é construir uma nova cultura corporativa baseada na convergência de meios de comunicação. O namoro do NYT com a internet começou em meados dos anos 90 quando foi criada a seção Times on the Web, especializada em notícias sobre os primórdios da revolução tecnológica. No final da mesma década, surgiu o CyberTimes, uma proposta de jornal noticioso online que tinha uma redação própria, num processo de evolução analisado pelo pesquisador argentino Pablo Boczkowki, autor do livro Digitizing the News (MIT Press – agosto 2004). Outros jornais norte-americanos já tentaram antes a fusão de redações, como foi o caso do Tampa Tribune que, há quatro anos, embarcou num projeto de convergência junto com o site Tampa Online e a TV WFLA canal 8, todos da cidade de Tampa, no estado da Flórida. Todos eram veículos de circulação regional e a maioria deles esbarrou num grave problema: a diferença de culturas entre os jornalistas das mídias convencionais (jornal, radio e televisão) e os jovens profissionais do jornalismo digital online. Não são apenas diferenças de técnicas ou de rotinas, mas há valores diametralmente opostos em questão, como o manejo da informação, direitos autorais e relacionamento com o público. Por estas e por outras razões é que foi criado na Universidade da Carolina do Sul, o ambicioso projeto NewsPlex cujo principal objetivo é formar profissionais para a convergência multimídia em ambiente digital. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, segundo admitem os próprios ideológos do projeto NewsPlex pois a convergência é muito mais do que um mero processo de integração tecnológica. No domingo (31/7), o Times publicou um longo ensaio na seção de livros sobre os dilemas do jornalismo contemporâneo (exige cadastramento grátis) no qual o autor Richard Posner, um juiz, afirma em alto e bom som que a maior ameaça à hegemonia dos grandes jornais americanos são os 14 milhões de weblogs espalhados pelo mundo, 60% dos quais nos Estados Unidos.