O senador Barack Obama pode perder a indicação presidencial na convenção democrata prevista para agosto, em Denver (Colorado), mas ele já é o candidato eleito pela maioria esmagadora dos internautas e blogueiros norte-americanos.
Obama bateu todos os recordes de coleta online de dinheiro para a sua campanha, bem como supera todos os demais candidatos, inclusive os republicanos, em matéria de acessos a seu site Obama08, criado a partir dos princípios da Web 2.0 (participação do usuário) e com uma qualidade que os especialistas compararam a dos grandes projetos da categoria como o MySpace e FaceBook.
A coleta de dinheiro é um indicador seriíssimo nas preferências eleitorais dos norte-americanos, tanto que a imprensa presta quase tanta atenção à arrecadação dos candidatos, quanto aos seus índices de popularidade. É quase um axioma eleitoral o fato de que quando as doações ficam rarefeitas, o prestigio despencará logo em seguida.
O senador negro pelo estado de Illinois conseguiu juntar em janeiro cerca de 28 milhões de dólares só em contribuições feitas pela internet. É mais do que o seu colega de partido Howard Dean conseguiu juntar em toda a sua campanha nas primárias de 2004. E quase 1/3 a mais do que o total coletado pela senadora Hillary Clinton, a principal oponente de Obama, segundo o blog TechCrunch.
Da mesma forma que na campanha de Dean, a internet está se mostrando a melhor ferramenta para a coleta de pequenas contribuições. Isto deu aos candidatos menos vinculados à elite econômica norte-americana, a chance de recorrer ao varejo das doações.
Tradicionalmente os aspirantes à Casa Branca adotam uma política atacadista em matéria de fundos de campanha, recorrendo basicamente aos cheques gordos de grandes empresários e banqueiros. Agora, graças à Web, surge um novo veio financeiro que já mostrou o quanto pode mudar a rotina das eleições norte-americanas.
Noventa por cento dos 250 mil doadores online de Barack Obama mandaram menos de 100 dólares para a campanha. Cem mil mandaram menos de 10 dólares, indicando como o trabalho de base passou a ser importante como alternativa à política tradicional de cortejar as grandes fortunas e os grandes formadores de opinião.
O professor história da Universidade da California, Raphael Sonenshein, um especialista em campanhas eleitorais norte-americanas, confirma a importância da política da “sola de sapato” , mencionando o fato de Obama ter chegado muito perto de Hillary nas primárias da Califórnia, um estado que ele não visitou às vésperas das primárias e onde a mulher do ex-presidente Bill Clinton esperava uma vitória por larga margem.
A internet está viabilizando a participação política dos segmentos da sociedade norte-americana que estão desencantados com a política e com processos eleitorais que geralmente levam a mais do mesmo.
Obama não é o primeiro pré-candidato presidencial nos Estados Unidos a usar o slogan da mudança como a palavra chave de sua campanha. Os anteriores, como Dean, fracassaram porque a elitização da estrutura partidária norte-americana os obrigava a pedir mudança para quem não tinha muito interesse em mudar.
Já Obama tem o canal da internet para chegar aos jovens e desiludidos. E o está usando a todo vapor. O seu site afirma ter registrado quase 300 mil perfis de voluntários que estão fazendo o corpo a corpo eleitoral, de forma descentralizada e não remunerada, usando palanques eletrônicos como os sites MoveOn e MeetUp.