Para a maioria dos repórteres que trabalham em redações jornalísticas a internet não passa de uma ferramenta para mandar emails e para fazer buscas. Mas os profissionais que atuam em sites de jornalismo online estão descobrindo que a rede é muito mais do que isto e estão sendo obrigados a agir de forma não convencional. Uma das regras de ouro das redações tradicionais é o profissional fazer mistério sobre o que está investigando pensando num possível ‘furo’. Mas os repórteres online e os blogueiros autônomos estão aprendendo que o segredo não é mais a alma do seu negócio, muito pelo contrário. Quem faz jornalismo na Web começa a descobrir as vantagens de compartilhar com outras pessoas o seu projeto de investigação ou de reportagem, visando com isto recolher sugestões, contribuições e dicas. É a aplicação ao jornalismo do princípio da chamada Web social, ou Web 2.0, onde o valor de uma informação é dado pela intensidade da recombinação de sugestões oferecidas por leitores ou usuários. Uma atividade profissional que sempre valorizou o individualismo e o sigilio, passa agora a depender da transparência e do coletivo para se desenvolver. Trata-se de uma mudança de valores e comportamentos bastante radical na vida dos jornalistas. Os repórteres começam a descobrir como o uso de weblogs pode aproximá-los de seus leitores e prováveis colaboradores, da mesma forma que os editores se defrontam agora com desafios inéditos na sua capacidade de estabelecer o que interessará aos leitores. O site Digg , criado em novembro de 2004, tornou-se um dos mais visitados na Web ao criar uma lista das mais importantes notícias sobre tecnologia, organizada com base em sugestões de quase 200 mil colaboradores. Desde o mês de maio, o Digg passou a usar o mesmo critério para criar um ranking de interesses em notícias políticas e econômicas, sem falar nas listas dos vídeos, jogos online e músicas mais recomendadas pelos usuários do site. O desembarque das tecnologias chamadas sociais no mundo do jornalismo online deve provocar mudanças na composição da agenda de interesses do público. Até agora os jornais e a televisão reinavam absolutos na determinação dos assuntos que as pessoas irão discutir. Agora, há um novo barômetro de preferências, desta vez alimentado diretamente pelo voto dos consumidores de informação. A agenda do Digg (uma corruptela do verbo ingles dig = cavar) combina notícias sérias com curiosidades e fofocas. No dia 11/7, por exemplo, no noticiário político e econômico, a polêmica em torno da frase que teria feito o jogador Zinedine Zidane perder o controle na final da Copa da Alemanha e a morte do cantor Syd Barrett (Pink Floyd) eram os temas com mais referências de leitores. Em compensação, o anúncio de que os prisioneiros islâmicos em Guantánamo (Cuba) iriam ser beneficiados pela Convenção de Genebra obteve quase o mesmo número de menções. A consulta aos leitores é uma estratégia editorial que exige alguns cuidados na hora de ser aplicada, recomenda a norte-americana Tish Grier, da Online Journalism Review . O repórter deve ter a sensibilidade suficiente para não tornar-se um propagandista das causas que investiga e nem deve ser influenciado por pré-julgamentos. Tish Grier adverte que o maior dilema dos repórteres e editores que fazem jornalismo através da Internet é a transparência, uma condição que a maioria dos leitores considera essencial no restabelecimento da confiança entre os os jornalistas e seu público.