Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A fórmula de sucesso do BBB


Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 1 de abril de 2010


 


TELEVISÃO


Ivana Bentes


‘BBB’ é melhor forma de merchandising da televisão


‘‘Minhas derrotas eu perco pra ganhar’, a frase ‘nonsense’ do lutador pitboy Marcelo Dourado, vencedor do ‘Big Brother 10’, resume o vazio de ‘sentido’ de mais uma edição do ‘zoológico humano’ que teve 154 milhões de votos na sua final. Um recorde de participação mundial entre os reality shows do mundo que deve parte de seu sucesso no Brasil a entrada pesada dos usuários das redes sociais e ferramentas de postagem on-line como Twitter, Facebook, Orkut e blogs.


O que parecia ser um fenômeno limitado à TV aberta foi ressignificado com uma sobrevida on-line, na qual mesmo quem não assiste ao programa ouve falar dele e se posiciona sobre os ‘desacontecimentos’ do laboratório televisivo.


Essa ideia da ‘torcida’ que a televisão não pode materializar. Quem são esses 60% de votantes em Marcelo Dourado? Tornam-se frases, ‘flames’ e disputas na internet. Como no Twitter da @mafiadourada que repercute a homofobia do vencedor: ‘o grande problema desse BBB10 foi juntar gays a seres humanos’. Mas a internet também introduz elementos críticos, de desconstrução dos discursos e comportamentos clichês, além das suspeitas de manipulação das votações levantadas pelos internautas.


Mais importante do que o que é dito pelos participantes da casa (onde está Jean, o homosexual que ganhou uma das edições? Que mudanças ele trouxe para a causa gay?) é esse componente ‘viral’ do programa. Durante três meses, ou pelo menos nas últimas semanas, o BBB abduz e mobiliza um contingente de telespectadores/consumidores que migra de atração em atração, paredão a paredão, num comportamento randômico, mas previsível.


Daí a necessidade de ‘empacotar’, ‘glamourizar’ esse cotidiano amesquinhado em ‘atrações’ ultraeditadas e editorializadas: clipes de bundas malhadas, corpos ensaboados, músculos, festas a fantasia e figurinos escolhidos, choros copiosos, gritos, sussurros, orgias plastificadas, no meio do que realmente importa: merchandising e comercial sem fim. Não são os BBBs que valorizam as marcas, mas as marcas que dão subjetividade e singularidade aos participantes do BBB!!!


É o telespectador-produtor de audiência, a mobilização da vida que dá ‘alma’, com suas participações, ao vazio das atrações e virais. Afinal, logo os brothers serão esquecidos. Ou ganharão sobrevida em pontas de novelas, festas de ‘presença’, programas de fofocas e comerciais do varejo. Muito mais impressionante do que as opiniões polêmicas ou risíveis dos habitantes da casa, com suas subjetividades ‘prêt-à-porter’ -o homofóbico, a ‘frágil guerreira’, o macho ‘alfa’, a lésbica, a drag queen, o gay-, é esse democratismo frouxo, United Colors of Benetton, de uma ‘diversidade’ não problemática- um arco-íris de vendas potenciais para todos os ‘nichos’ de mercado.


O dispositivo televisivo descobriu a melhor forma de venda. Em vez de teledramaturgia com intervalos comerciais, um mega comercial de carro, computador, televisor, refrigerante, protetor solar, creme de cabelo, detergente, tira-mancha, cartão de crédito, moto, celular, no meio de uma tempestade hormonal/emocional.


A telenovela do real não vale um milhão e meio para o vencedor, vale um passe-celebridade provisório para que alguns possam acumular capital social antes de desaparecer no limbo televisivo, substituídos pelo próximo ‘viral’. Vale milhões em ligações telefônicas, merchandising, publicidade, audiência para a emissora. Vale zilhões de subjetividades potenciais capturáveis para dar sentido, encanto, fetiche aos brothers despotencializados e ‘agregar valor’, ‘vida’ às mercadorias.


IVANA BENTES é professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ e diretora da ECO-UFRJ’


 


 


Andréia Michael


Petrobras tentou adiar ação de propaganda no ‘BBB 10’


‘A BR Distribuidora tentou adiar -e até discutiu cancelar- uma ação de merchandising que comprou no ‘BBB 10’ e que foi exibida no dia 14 de março.


Numa prova de comida, os ‘brothers’ tiveram de correr de um lado para o outro para buscar produtos BR em um posto instalado na casa e, depois, colocar fluído de radiador e óleo, encher o tanque e limpar os vidros de um carro de mentira.


A polêmica começou quando o diretor de marcas da Petrobras, Eduardo Felberg, alertou internamente que não convinha associar o nome da empresa ao ‘BBB’, pois, historicamente, ele estava ligado à cultura e responsabilidade social.


As ações de marketing da BR, que contratou a propaganda, são independentes daquelas conduzidas pela Petrobras.


Na sexta-feira, 12/3, a Globo foi consultada sobre a possibilidade de adiar a prova. A ideia era ganhar tempo para continuar a discussão. Diante da negativa, o ‘merchandising’ foi ao ar e entrou na lista de 61 ações de 25 clientes em quase três meses de programa.


Anteontem, Marcelo Dourado sagrou-se campeão com 60% dos 154.878.460 de votos (internet, SMS e ligações).


A audiência registrada garantiu recorde de público ao ‘BBB 10’, com 41 pontos -2,46 milhões de domicílios ligados na atração na Grande São Paulo.


A Petrobras negou o conflito e disse que a ação ‘permitiu visibilidade para a marca’.


ANA DÁ À LUZ HOJE, NO ÚLTIMO CAPÍTULO DE ‘ESTER’


Hoje, no final da série da Record, a personagem de Letícia Colin terá seu filho; o pai, Aridai (Paulo Nigro), morrerá na guerra


MISTÉRIOS


Só o diretor de núcleo Ricardo Waddington e a diretora geral Amora Mautner receberam na íntegra os últimos capítulos de ‘Cama de Gato’ (Globo), que termina em 9/4. O final de Verônica (Paola Oliveira) e de Alcino (Carmo Dalla Vecchia) é sigiloso. Ela deve ter uma filha, e, ele, viver um romance com Mari (Isabela Garcia).


RECORDE


Em três meses, o canal de lutas Combat registrou 60 mil assinaturas, 15% a mais do que no fim de 2009. Neste mês, se prepara para transmitir a estreia do UFC nos Emirados Árabes.


CLAQUETE


A temporada do ‘Zoom’ (Cultura) para 2010 começa neste sábado, às 22h30, com apresentação e crítica das novidades do mercado audiovisual.


CHAMADA


Não causou surpresa a ausência de Honorilton Gonçalves, vice-presidente artístico da Record, na festa de lançamento da programação da emissora para 2010, anteontem, em São Paulo. Ele não costuma ir a esse tipo de evento.


PROCURA-SE


Ausência notada: Vildomar Batista, que voltou para a geladeira e aguarda a definição de um novo posto.


BONDE


Com show de Zeca Baleiro, uísque oito anos e proseco, a festa reuniu a cúpula da Record, 80 integrantes do elenco e convidados. Gugu Liberato saiu por volta de 23h, quando chegava Douglas Tavolaro, vice-presidente de Jornalismo.


com Clarice Cardoso’


 


 


Cai audiência da CNN nos EUA


‘A rede norte-americana CNN continuou a registrar quedas de audiência em seus programas de horário nobre no primeiro trimestre deste ano. Os principais apresentadores da emissora perderam quase metade de seus telespectadores nos últimos 12 meses.’


 


 


Laura Mattos


Sem direito de exibir a Copa, SBT contrata Pelé como comentarista


‘Em mais uma de suas jogadas imprevisíveis, Silvio Santos contratou Pelé para comentar os jogos da Copa, apesar de o SBT não ter o direito de transmitir o mundial. O ex-jogador esteve ontem no Museu de Futebol (São Paulo) para falar à imprensa sobre o trabalho.


Além de comentar as partidas nos telejornais, apresentará, a partir do dia 12, 60 programas diários de um minuto cada um com a história das Copas.


Durante o mundial, outros 27 episódios de ‘Um Minuto Com Pelé’ irão ao ar.


Pelé lembrou ontem já ter trabalhado em várias outras emissoras como comentarista, entre elas Globo, Band e até a árabe Al Jazira, mas ressaltou ser essa a primeira vez que atuará como apresentador. Bem-humorado, fez piada ao responder que programas vê no SBT. ‘Jornais, o da Hebe e tem que falar o do nosso patrão’.


Mas ficou sem graça quando a Folha lhe perguntou em que emissora pretendia assistir aos jogos que vai comentar no SBT (na TV aberta, só Globo e Band transmitirão). ‘O quê? Não entendi’, respondeu, sorrindo. A pergunta foi repetida, e ele olhou para os lados, onde estavam sentados executivos da emissora. ‘Vou ver no SBT.’


Passou então a bola, no caso o microfone, para o diretor comercial, Henrique Casciota: ‘Pelé vai ver onde quiser’.’


 


 


Isabelle Huppert deve atuar em ‘Law & Order’


‘A atriz francesa Isabelle Huppert deve participar do episódio final da série americana ‘Law & Order’, segundo anúncio feito pelo produtor executivo Neal Baer. O papel reservado para a atriz no drama é o de uma mãe que tem o filho sequestrado. Huppert é ganhadora de diversos prêmios pela sua participação em filmes como ‘A Professora de Piano’ e já foi dirigida por Jean-Luc Godard.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Com Lula, sem FHC


‘Na manchete do UOL, no meio da tarde, ‘Na saída, Dilma chora e fala em alegria triste’. Foi ao se dirigir a Lula, apontando o ‘orgulho de ter participado do seu governo’. Na manchete da Reuters Brasil, ‘Lula diz que esperança é a motivação da saída de Dilma’.


Ela ocupou o topo das buscas de Brasil pelo Google News, via AP, ‘sai para concorrer a presidente’. ‘Serra deixa governo e alfineta Dilma e Lula’ foi a manchete seguinte do UOL, à noite. Na Folha Online, ‘Serra critica bravatas de Lula e diz que sai do governo popular’. No G1, ‘Serra diz que sua gestão é popular’.


O Terra, que transmitiu ao vivo, abriu a cobertura com a manchete ‘Sem presença de FHC, Serra deixa governo de São Paulo e inicia campanha’.


No meio da escalada do ‘Jornal Nacional’, com imagens de ambos dividindo a tela, ‘Rumo à eleição. Dilma e Serra se despedem dos cargos para concorrer à Presidência’. Também lá pelo meio, na escalada do ‘Jornal da Record’, ‘Eleições 2010. Os dois principais candidatos à Presidência deixam os cargos’.


FHC LÁ


A ‘Economist’ ouve FHC e Paulo Renato, ‘aliado próximo de Serra’, e abre fogo contra Dilma Rousseff na nova edição.


Sob o enunciado ‘Apaixonando-se de novo pelo Estado’ (ilustração acima), cita entrevista em que ela elogia Banco do Brasil e BNDES no combate à crise. Dilma acreditaria que ‘o capitalismo de Estado teve sucesso onde o setor privado fracassou’. A revista diz que sua visão sobre a intervenção na crise é ‘parcialmente correta’, mas sublinha que a questão deve ‘reverberar’ até a eleição -opondo, ‘como afirma FHC’, ‘um capitalismo burocrático em que o Estado decide’ a ‘um capitalismo competitivo, liberal’.


GLOBO E A ETEC


Às vésperas do início da campanha, a Record abriu fogo contra José Serra e a Globo. Atacou a ocupação de um terreno estadual pela emissora, por 11 anos, e o projeto de uma escola técnica no local, lançado agora pelo governador ‘a quatro mãos’ com a Globo _que vai custeá-lo.


Ao lado da sede da emissora em São Paulo, a escola será voltada a formar técnicos em multimídia. Procurado pela Record, Serra se negou a responder.


DE OLHO NO BC


Nem Dilma nem Serra. Nos destaques de Valor Online e outros, encerrando o dia, ‘Presidente do Banco Central mantém indefinição’ ou ‘ainda não definiu futuro’. No ‘JN’, ‘Meirelles mantém o suspense’.


No exterior, ecoou a saída do diretor Mário Mesquita, com amplo escrutínio sobre a postura de seu sucessor no BC, Carlos Vasconcelos Araújo.


RHODES SE APOSENTA


O Citigroup anunciou que William Rhodes se aposenta este mês. No dizer do ‘Financial Times’, foi o ‘Mr. Fix-it’ ou ‘Sr. Arruma Isso’ do banco ‘para as crises de dívida, lidando com governos da América Latina’. Foi o papel que o tornou ‘conhecido’, concorda a Reuters, lembrando que em 1999 ele chegou a assessorar ‘o governo brasileiro, que pediu que coordenasse a implementação mundial de linhas [de crédito] junto a bancos’: ‘Mas esse trabalho tornou Rhodes figura controversa. Manifestantes contrários às reformas de livre mercado dos anos 90 na Argentina carregavam cartazes dizendo: Fora Rhodes e o imperialismo ianque.’


CHINA & BRASIL


Na home do ‘New York Times’, ‘China concorda em estudar passos da ONU para pressionar o Irã’. Pequim ‘parece ter tomado um passo para se aproximar do apoio às sanções’, abriu o texto, cuidadoso.


Sublinhou também que o chanceler Celso Amorim, que ‘anteriormente havia expresso oposição a novas sanções’, declarou que ‘seu país prefere diplomacia às sanções, mas está aberto a ‘quaisquer discussões’. Por aqui, o ‘JN’ deu manchete e questionou Lula:


‘Cresce oposição ao programa nuclear do Irã. Conselho de Segurança da ONU discute novas sanções. O presidente Lula responde a críticas sobre posicionamento brasileiro e diz ser amigo de todo mundo.’


ONDE…


No ‘Wall Street Journal’, ‘Acer foca China e Brasil’. A gigante de tecnologia de Taiwan deu os dois países como as ‘chaves para seu crescimento’.


CRESCER


No mesmo ‘WSJ’, ‘Arcelor empilha nos emergentes’. A gigante de mineração da Índia ‘foca projetos no Brasil’ e outros em sua ‘estragégia para crescimento’.


TUPI LÁ


Na manchete de papel do ‘NYT’, depois confirmada pelo próprio durante o dia, ‘Obama vai abrir áreas marítimas pela primeira vez para prospecção’. Foi tema polêmico na campanha eleitoral, com republicanos prometendo fazer como o Brasil, que havia descoberto o pré-sal, com impacto mundial.


Em meio a críticas de ambientalistas, a CNN citou que a decisão tem por objetivo também ajudar democratas do Sul e do Sudeste dos EUA, sob ameaça de derrota depois de votarem pela reforma da saúde.’


 


 


INTERNET


E-mails do Yahoo! sofrem ataque na China e em Taiwan


‘Contas de e-mail no Yahoo! de alguns jornalistas e ativistas cujo trabalho se relaciona com a China foram comprometidas em um ataque descoberto nesta semana, dias após o Google anunciar que transferiria seu serviço de buscas em chinês para fora da China devido a preocupações com a censura.


Diversos jornalistas na China e em Taiwan descobriram que haviam perdido acesso a suas contas de e-mail a partir de 25 de março.


As contas comprometidas incluem as do Congresso Mundial Uigur, um grupo de exilados que a China acusa de incitar o separatismo da etnia uigur, que vive em Xinjiang, uma região fronteiriça do país. ‘Suspeito que boa parte das informações em minha conta no Yahoo! tenha sido baixada’, disse o porta-voz do grupo, Dilxa Raxit. Segundo ele, a conta de e-mail, criada na Suécia, havia passado um mês inacessível. ‘Muitas pessoas com quem eu costumava ter contato em Lanzhou, Xi’an e outros locais não estão acessíveis por telefone nas últimas semanas.’


Andrew Jacobs, da sucursal do ‘New York Times’ em Pequim, disse que mensagens enviadas à sua conta Yahoo Plus haviam sido encaminhadas a uma conta que não conhece. Diversos ativistas dos direitos humanos e jornalistas descobriram, igualmente, que suas contas no Gmail haviam sido programadas para encaminhar mensagens a endereços desconhecidos, sem que soubessem.


O Google mencionou ataques ao Gmail em janeiro quando anunciou um ataque de hackers contra seus sites e os de 20 outras empresas. A companhia citou esses ataques e preocupações quanto à censura em sua decisão de transferir seu site de buscas em chinês para Hong Kong, na semana passada.


O Yahoo! não comentou a natureza dos ataques nem se haviam sido incidentes isolados ou coordenados. ‘O Yahoo! condena todos os ciberataques, independentemente de sua origem ou propósito’, disse por e-mail a porta-voz Dana Lengkeek. ‘Temos o compromisso de proteger a segurança e a privacidade de nossos usuários e tomamos as devidas providências em caso de violação.’ Ao contrário do Google, o Yahoo! opera servidores de e-mail na China. A empresa foi criticada pelo Congresso dos EUA quando entregou às autoridades chinesas informações sobre a conta de Shi Tao, um jornalista depois sentenciado a dez anos de prisão por revelar segredos de Estado.


O controle da China sobre a internet aumentou sob a atual liderança do país e reflete uma falta de compreensão do público chinês, disse Hao Xiaoming, especialista em mídia chinesa. ‘A internet chinesa se tornou uma rede interna, e não uma rede conectada internacionalmente, o que contraria o seu propósito precípuo’, disse Hao.


Tradução de PAULO MIGLIACCI’


 


 


LUTO


Juca Kfouri


Adeus ao mestre Armando Nogueira


‘Aqui, três textos escritos para outros meios, mas que quero compartilhar com os leitores desta coluna.


NINGUÉM É chamado de mestre à toa. Mestre Didi, mestre Telê, mestre Armando. Ele pagou caro o tempo em que fez o jornal mais consumido do país sob as lentes e ameaças da ditadura. E fez sem se fazer nem de mártir nem de herói. Fez como achou que tinha de fazer, com todas as limitações.


Impossível agora dizer quantas noites perdeu com medo, coisa que eu queria ter perguntado, mas não deu.


Possível, no entanto, contar quantas manhãs teceu para não desistir. Quem conhece mestre Armando só das palavras sobre esportes conhece, talvez, o melhor Armando Nogueira. Mas não o maior.


O maior foi o que resistiu sem parecer que resistia, com doçura, solidariedade e lealdade. Coisa que felizmente, essa sim, eu pude lhe dizer.


E que pude escrever, sorrindo, com ele vivo.


E que repito agora, chorando.


Mestre


Você leu nos jornais quase todas as façanhas de Armando Nogueira.


Resumidamente, é claro, porque daria para fazer uma edição inteira só com elas.


Mas nunca mais você terá o privilégio de poder abrir um jornal e ler que ‘Ademir da Guia tem nome, sobrenome e futebol de craque’.


Ou que ‘Deus castiga quem o craque fustiga’.


Ou que ‘Se Pelé não tivesse nascido gente teria nascido bola’.


Nunca mais.


Mestre Armando dizia também que ‘o bom jogador vê a jogada, o craque antevê’, e ele, como craque que era, antevia não só a jogada, como a notícia. Por isso, um dia escreveu que ‘os cartolas pecam por ação, por omissão ou por comissão’. E que o calendário de nosso futebol ‘não era nem juliano nem gregoriano, era cartoliano’.


Se houver apenas uma palavra da língua portuguesa para defini-lo esta é, sem dúvida, delicadeza.


Mas sabia ser duro, como foi com Ricardo Teixeira, que disse numa CPI não precisar do futebol por ser rico: ‘Sou rico, uma ova! Fiquei rico, à custa do futebol’, deveria ter dito, indignou-se o mestre.


Era apaixonado pelo Botafogo, pelo Acre e por voar de ultraleve, arte à qual se dedicou até a semana anterior da descoberta, três anos atrás, da doença que o levou.


Adeus


Armando Nogueira morreu.


A última vez em que conseguimos nos comunicar, porque por telefone era sempre uma choradeira, foi por meio de uma mensagem que ele me mandou, para agradecer uma referência qualquer feita por mim num programa de TV: ‘Juca, Teu carinho me conforta como o abraço de um irmão caçula. Beijos do Armando’.


Fico aqui com minha dor, incapaz de ser minimamente objetivo.


Tenho por ele infinito carinho mesmo e sei o quanto ele penou para dirigir o jornal mais visto no país no período da ditadura.


Leal, ele agiu sempre no limite da dignidade possível.


E tratou de proteger o quanto pôde aqueles que eram perseguidos. O Brasil perde um belo jornalista, mas, antes de tudo, um homem de bem, um enorme ser humano.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 1 de abril de 2010


 


TELEVISÃO


Patrícia Villalba


No show de ‘realidade’, vence a ficção


‘Desde que foi lançada, há oito anos, a versão brasileira do reality show Big Brother já provocou milhares de linhas de análises que tentam estabelecer alguma relação entre a microssociedade da ‘casa mais vigiada do Brasil’ e a nossa própria sociedade, além de tentar explicar a relação que o público estabeleceu com o programa. Mas se podemos ver o Brasil por meio do BBB, então, o Brasil vai mesmo mal. Será que devemos dar tamanha importância a um programa de variedades, um jogo que vale R$ 1,5 milhão?


Para começar, é realmente curioso que justamente a décima edição, proclamada como o ‘BBB da diversidade’ – por ter entre os 17 participantes, uma drag queen, um gay e uma lésbica – tenha terminado com um típico machão como vencedor – que passou boa parte do programa arrotando para as câmeras.


Antes de ser de certa forma decepcionante para o movimento gay, a vitória do gaúcho Marcelo Dourado deve mostrar que o BBB não pode mesmo representar qualquer causa social – o diretor Boninho, aliás, vive tentando afastar esse tipo de responsabilidade, ao enfatizar que o programa é apenas um jogo.


Para muita gente, entretanto, não é. Quando a vitória de Dourado parecia inevitável, nas últimas três semanas, as torcidas tentaram polemizar em blogs e no Twitter, para arrastar a disputa para um suposto campo de batalha entre homossexuais e homofóbicos. No começo do programa, a participação dos homossexuais foi tão valorizada que o BBB parecia ser capaz de promover ideais de igualdade e fraternidade. Mas, justiça seja feita, não houve qualquer comentário de Dourado – a não ser uma informação meio torta sobre como se transmite o vírus HIV – contra homossexuais.


Sucesso. Lutador de vale tudo, Dourado levou o R$ 1,5 milhão para casa porque é ótimo personagem. Sim, personagem, como se estivéssemos falando de uma novela. O povo se divertiu com os comentários sem noção dele, com os arrotos e, principalmente, tratou de transformar Dourado em mártir quando os outros participantes – enciumados porque ele já havia participado do BBB, da quarta edição – tentaram forçar seu isolamento. Macho ferido, feito um Rocky Balboa, foi ali que ele venceu.


A décima edição do BBB, com show de Ivete Sangalo (muito mais animado do que os das edições anteriores), terminou com 41 pontos no Ibope e 66% de share (participação no total de televisores ligados). É a a pior audiência de uma final, junto com a do BBB9, marcou também 41 pontos.


Mas alto lá, que o programa ainda tem muito poder de fogo e, principalmente, e mobilizar a opinião pública. O apresentador Pedro Bial anunciou impressionantes 154.878.460 votos, classificados por ele como ‘recorde entre todos os BBBs do mundo’. Neste ano, a produção passou a dar peso igual entre os votos enviados pela internet e a votação pelo telefone – mesmo assim, voto é voto, ainda que fãs inflamados costumem votar centenas de vezes, coisa que o sistema da Globo não proíbe.


Dindim. Mas mais impressionante que a votação é o faturamento, também recorde, o que já demonstra que a TV brasileira ainda vai produzir muitos ex-BBBs. O BBB10 teve 25 contratos fechados, que se refletiram em 61 ações de merchandising (cujo valor não é revelado pela emissora) e cinco cotas de patrocínio master no valor de R$ 13,5 milhões cada. Até então, o programa que mais havia faturado em merchandising era o BBB4, com 19 clientes – coincidência, a edição que também teve a participação de Dourado. Parte das ações publicitárias – como a de um detergente, cujo jingle virou hit no carnaval – realmente demonstram que anunciar no BBB é ótimo negócio. Outras, como a do refrigerante, que terminou com uma das participantes vomitando, nem tanto. O que não precisava era a produção preparar um clipe com os melhores (?) merchandisings exibidos durante os 77 dias de confinamento. / Colaborou Alline Dauroiz’


 


 


Keila Jimenez


Programas disputam Sandy


‘Está aberta a temporada de cabo-de-guerra dos programas e emissoras pela cantora Sandy. Desde de 2007 longe dos palcos – quando anunciou o fim da dupla com o irmão, Júnior – Sandy volta à cena musical em maio, com o lançamento de seu primeiro CD em carreira solo, Manuscrito. Na Globo, a disputa (palavra que os diretores insistem que não existe internamente) pela primeira aparição da cantora é forte entre Domingão do Faustão e Caldeirão do Huck. Pelo lado da cantora, Huck, amigo pessoal, deve levar mais vantagem. Já pelo lado da gravadora, a Universal… No SBT o convite já partiu da produção de Hebe e na Record, quem corre por fora é o Programa do Gugu.


169% foi o aumento registrado na audiência do Discovery Channel, às quintas, 22h, com a série Vida


‘Acho o Dourado meio Maluf, muita gente ama e muitos odeiam’ Boninho, diretor do BBB 10, falando no Twitter sobre o polêmico vencedor do reality show


Apesar da chiadeira nos bastidores da Record, Troca de Família seguirá como um quadro do Tudo É Possível pelo menos até a metade do ano.


Cabe agora a José Rubens Chassereaux, o Chachá, assumir um dos postos de Lombardi no SBT: o anúncio dos números na TeleSena.


A RedeTV! realizará mais uma bateria de testes para a vaga de apresentador de O Último Passageiro, formato vendido à emissora pela Endemol. Cinco artistas já tentaram assumir o posto.


‘Você paga o dízimo?’: Pergunta de Silvio Santos a Paulo Henrique Amorim que foi devidamente cortada – a pedido do proprio Silvio Santos – na edição do Troféu Imprensa, no SBT. ‘Silvio, você prometeu que não ia me fazer nenhuma pegadinha’, rebateu o jornalista, sorrindo e negando.


Uma rede social vigiada – com comentários moderados antes de entrarem na web – será lançada pela Nickelodeon junto com a estreia da nova temporada da febre infanto-juvenil Isa TK+, segunda-feira.


Na rede Toca Azul, uma mistura de Orkut e Facebook, fãs da IsaTK+ poderão discutir episódios, postar fotos, interagir com personagens da série (que terão perfis lá) e receber informações exclusivas da atração.


Sucesso no YouTube é uma montagem do BBB 10 em que Pedro Bial chama a torcida ‘colorida’ de Dicesar e Serginho no paredão e, no áudio, entra a sonora de um grito de guerra do São Paulo Futebol Clube.


O SBT tabelou em R$ 13 milhões cada uma das quatro cotas de patrocínio oferecidas ao mercado publicitário para o programa Um Minuto com Pelé, que o rei comandará na emissora a partir de 12 de abril, em função da Copa do Mundo da África.’


 


 


CAMPANHA


José Roberto de Toledo


Dilma cultua Lula e Serra ensaia slogan


‘Não podia ser diferente. Dilma Rousseff deixa o governo para entrar na campanha, tendo como principal cabo eleitoral o ‘senhor’ ‘presidente’ Lula. Citou-o 67 vezes, explícita ou implicitamente. Já José Serra, ao despedir-se do cargo, focou São Paulo, que citou 46 vezes, e usou uma expressão com jeito de slogan eleitoral: ‘Vamos juntos. O Brasil pode mais.’


Como se pode ver na ilustração acima, além de reverenciar Lula, Dilma falou bastante do ‘povo’ (19 citações), do Brasil (12) e dos brasileiros (10). ‘País’ (17) e ‘todos’ (16 vezes) acompanharam ‘Brasil’ em número de citações. Essa repetição das palavras que compõem o slogan do governo Lula (‘Brasil, um país de todos’) tem ocorrido com mais frequência na fala da candidata.


Balanço. O presidenciável do PSDB usou sua fala de despedida do Palácio dos Bandeirantes para um balanço de gestão. Como era esperado, ‘São Paulo’ foi uma das expressões mais citadas (46 vezes), na maioria das vezes no fim das frases, e associada a ‘governo’ (49 citações) e a ‘Estado’ (30). Em comparação a ‘Brasil’ (17), ‘São Paulo’ recebeu praticamente três vezes mais menções. O que evidencia que Serra, nesse discurso, buscava mostrar-se mais preocupado com o que acabara de fazer como governador do que com o que virá a fazer como candidato.


A ‘política’ não ficou fora de seu discurso. Explicitamente, citou a palavra apenas 3 vezes, e negativamente, como em ‘política do ódio’. Mas, implicitamente, a política esteve presente na maioria das vezes que Serra usou a expressão ‘pública(o)’ (26 vezes), como em ‘vida pública’. E foi aí que ele encaixou uma ‘indireta’ para o presidente Lula: ‘Nós governamos para o povo e não para partidos.’


Além do aspecto institucional, o discurso de Serra teve uma parte pessoal. A palavra ‘vida’, seja no sentido de ‘minha vida’, de ‘vida pública’ ou de ‘ao longo da vida’, foi citada 36 vezes. Em muitos casos, o presidenciável tucano a associou a ‘pessoas’ (‘vida das pessoas’), outra campeã de citações (23 vezes) e mais um sinal da preocupação do tucano de ‘humanizar’ seu discurso.


A fala de Serra foi construída para que o desfecho apontasse para o futuro e, obviamente, para suas pretensões presidenciais, sem, contudo, explicitar isso. Ele não mencionou em momento algum as palavras ‘eleição’ nem ‘candidato’. Mas terminou seu discurso com uma expressão que tem todo o jeito de ser seu mote de campanha: ‘Vamos juntos. O Brasil pode mais’.


Há uma semelhança notável com o ‘Yes, we can’ de Barack Obama, em 2008, nos EUA. ‘O Brasil pode mais’ traz a ideia implícita de mudança, mas uma mudança que em vez de abandonar o passado pretende somar novas conquistas ao que já foi feito. É uma fórmula engenhosa, embora não original.’


 


 


INTERNET


Mark Landler, The New York Times


Google das bananas


‘Quando o Google anunciou, na semana passada, que fecharia seu serviço de buscas censurado na China, não estava apenas enfrentando um governo repressivo: estava mostrando que, enquanto os EUA continuam lutando para formular uma política externa adequada à era digital, as companhias que atuam na internet precisam articular suas próprias políticas. O Google não é a primeira companhia americana a penetrar na seara do Departamento de Estado. Desde a época malfadada da United Fruit Company (que influenciou governos) na América Latina, as poderosas multinacionais têm-se comportado como Estados, exercendo influência nos territórios em que atuam, optando por ceder ou resistir às práticas das autoridades locais.


Para as companhias de internet, a opção tornou-se mais dramática porque a World Wide Web deixou de ser apenas uma força que trabalha em favor da liberdade e da diversidade, mas se tornou também um instrumento de repressão. Os governos a utilizam para espionar os dissidentes, os ativistas dos movimentos de defesa dos direitos humanos, e outros elementos problemáticos.


A mudança ocorreu tão rapidamente que deixou o establishment da política externa preocupado em recuperar logo o atraso. Mas também expôs a profunda ambivalência de Washington diante da tecnologia da informação: pois enquanto defende o livre fluxo de ideias em sociedades fechadas como o Irã, teme se tornar alvo de ataques cibernéticos de governos hostis e se recusa a exportar tecnologias que poderiam ser destinadas a uso militar. O Departamento de Estado tem pouco a oferecer ao Vale do Silício em termos de apoio ou mesmo orientação.


‘O que obriga o Google a elaborar uma política externa é o fato de que o que ela exporta não é um produto ou um serviço, é a liberdade’, disse Clay Shirky, professor da Universidade New York que escreve sobre as consequências sociais da internet. ‘A questão é a seguinte: ‘Ela vai se tornar uma United Fruit?’ Para o Google, o lado sinistro da política cibernética da China foi além da atração econômica do mercado chinês e o suposto benefício representado pela abertura da internet a um público tão vasto.


Se os executivos do Google fossem diplomatas em vez de constituir a elite da indústria da computação, poderíamos dizer que sua visão da internet evoluiu desde o conceito idealista de Woodrow Wilson de que os países independentes tendem para a democracia até o conceito da realpolitik pelo qual seus interesses simplesmente diferem dos nossos. Mas, vista de outro ângulo, a decisão da companhia de acabar com a censura a seu serviço está ainda mais distante do neutralismo moral da United Fruit, mostrando que não está mais disposta a entrar em conflito com um sistema restritivo em sua busca do lucro.


Liberdade de expressão. A opção não foi fácil. Desde o final de 2006, quando entrou na China, o Google argumentava que um serviço de buscas sujeito a censura era melhor do que nada. Mas depois que descobriu que sua rede havia sido invadida na própria China e as contas dos ativistas sobre os direitos humanos transmitidos por Gmail haviam sido invadidas, chegou à conclusão de que esta política já não se justificava. ‘Isso fere o ponto fundamental de um debate global mais amplo sobre a liberdade de expressão’, disse David Drummond, diretor do departamento jurídico do Google, explicando a posição da empresa.


Muito a propósito, os EUA acabam de fazer sua primeira importante declaração sobre a liberdade na web. Segundo a secretária de Estado Hillary Clinton, a internet poderia ser uma força para o bem ou para o mal, e pediu aos governos que a usem para o bem, e às companhias americanas que não se sujeitem à censura. Mas deixou às companhias a solução do problema da restrição ao acesso.


A Microsoft permanece na China, operando um motor de busca censurado pelo governo. Seu fundador, Bill Gates, disse em janeiro que as companhias devem decidir se aceitarão obedecer às normas dos países em que operam, embora a sua empresa afirme que também pensa em recuar de sua posição. / Tradução de Anna Capovilla’


 


 


 


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