Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Blogornal ou Jornablogs 


Estes dois palavrões estão na origem de uma idéia meio maluca que começa a ganhar corpo entre os comunicólogos que estudam o futuro da imprensa diária. Seria um casamento de conveniências entre os jornais impressos e os weblogs virtuais: os jornais se transformariam num conglomerado de blogs, e estes por sua vez poderiam abrigar-se sob o guarda-chuva da credibilidade de alguns títulos centenários.


Por enquanto, os blogornais ou jornablogs ainda estão no terreno da futurologia mas a cada novo seminário, congresso ou pesquisa sobre o estado da imprensa surgem novos indícios de que a simbiose entre blogs e matutinos além de ser viável pode como funcionar como uma alternativa economica para ambas as partes.


A desconfiança mútua entre jornalistas profissionais e blogueiros está diminuindo aceleradamente por conta da adesão de vários jornais ao sistema de blogs (páginas pessoais publicadas em ordem cronológico) e do interesse do chamado ‘jornalismo cidadão‘ em obter um amplo reconhecimento social bem como uma certificação de credibilidade.


Aqui no Brasil, jornais como o Globo criaram uma seção especial de blogs escritos por seus articulistas , seguindo o exemplo de publicações internacionais como o The Wall Street Journal que criou uma página web especial chamada Opinion Journal  que na verdade funciona como um blog dos editorialistas e comentaristas. A revista Business Week aderiu recentemente à moda, criando uma seção de blogs de seus editores  na edição online.


Na imprensa regional ou local dos Estados Unidos, o namoro entre blogs e jornais já está a um passo de tornar-se um casamento de fato. O modelo que a maioria dos jornais de cidades pequenas está adotando funciona como se a seção de cartas do leitor ocupasse todo o jornal, tanto o impresso como a versão online. Além dos blogs do diretor, dos editores, repórteres e comentaristas, alguns jornais abriram espaços para o líderes da comunidade e funcionários públicos eleitos.


Na cidade norte-americana de Boulder, no estado do Colorado, surgiram três iniciativas que combinam jornais locais e os chamados jornalistas cidadãos, na verdade amadores que editam blogs. O My Town , do jornal Daily Camera, o My Hub , do Rocky Mountain News e o My Mile High News , do jornal Mile High News.


No estado da Virgina começou a funcionar o projeto Backfence  (muro dos fundos da casa) onde dez jornais regionais e locais passaram a ter blogs de repórteres amadores. Há várias outras experiências em curso tanto nos Estados Unidos como na Europa, mas aqui no Brasil ainda estamos na estaca zero.


Os blogornais ou jornablogs estão neutralizando resistências mais tradicionaistas por causa de algumas vantagens muito tentadoras na área financeira. Um jornal com blogs pode ganhar a simpatia dos leitores porque as edições tornam-se quase uma conversa de bar. A cobertura dos temas locais ganha diversidade porque os membros da comunidade passam a funcionar como repórteres amadores.


Os jornalistas com larga experiência e renome podem ter seu blog dentro do jornal, que ganha com a assinatura e poupa em salários. O profissional por seu lado está livre da rotina da redação e conta com o respaldo do título para atrair publicidade para seu blog.


O diferencial entre os jornais passará a ser dado por grandes projetos, como por exemplo as reportagens investigativas, envolvendo jornalistas profissionais (redatores, repórteres e fotógrafos), integrados à equipes multimídias em iniciativas envolvendo a convergência de veículos.


Os blogs por seu lado serão naturalmente atraídos para o guarda chuva dos jornais por conta do imã da credibilidade. A busca individual da confiabilidade exige um esforço prolongado, enquanto a certificação por um jornal acelera enormemente o processo. Trata-se de uma joint venture. O jornal depende da credibilidade dos blogs e vice-versa. Onde um falhar o outro acaba pagando a conta também, mas a soma de esforços pode ser mutuamente compensadora.


O jornal como federação de blogs talvez demore menos do que se pensa para tornar-se realidade. A viabilização da fórmula vai, no entanto, variar muito conforme a realidade nacional, reginal e principalmente do grau de inclusão digital, porque sem ela o esquema fica capenga, e não funciona.