Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo

TELEVISÃO
Andréa Michael

Pais querem classificação indicativa mais rígida para TV

‘Pesquisa encomendada pelo Ministério da Justiça revela que 74,2% dos pais e responsáveis entrevistados são favoráveis à classificação indicativa da programação das TVs. Desses, 38,3% entendem que as regras adotadas para a análise do conteúdo exibido pelas emissoras devem ser mais rígidas.

No levantamento, realizado pelo ministério para conhecer o que os cidadãos pensam sobre a classificação, foram entrevistadas 4.400 pessoas -metade pais e responsáveis e metade crianças e adolescentes.

Segundo o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, a busca por mais rigidez na classificação dos programas veiculados é um sinal de que pais e mães querem de alguma maneira transferir para o Estado sua responsabilidade na educação dos filhos.

‘Se o ministério e as emissoras estão cumprindo sua parte e os pais têm essa queixa, o que entendemos é que eles não estão assumindo o papel que têm’, diz Tuma Júnior.

Com base no estudo, feito em 2008 e ainda inédito, a Justiça lançou uma campanha focada na importância de conhecer a fundo o que as crianças assistem. A ideia é prevenir os desavisados contra a aparência ingênua que alguns programas apresentam à primeira vista.

‘O Estado auxilia, mas os pais é que devem decidir o que os filhos vão ver ou não.’

Foram distribuídas 540 mil cartilhas explicativas. Os filmes da campanha serão exibidos em salas de cinemae nas TVs.

Record disfarça paquita de vilã

Ao vê-la como a Tafnes de ‘A História de Ester’, minissérie da Record que estreia em 3 de março, poucos vão se lembrar de que, dos 12 aos 15 anos, ela foi paquita de Xuxa.

Com peruca e lentes de contato escuras, Lana Rodes, 23, que é loura, nem se reconheceu na pele da ambiciosa egípcia do harém do rei Assuero.

‘Era tão diferente de mim que só caracterizada conseguia me concentrar para estudar a personagem.’

Ela vai bater de frente com a protagonista. ‘Ester é a pedra no meu sapato.’ Para a minissérie, que custou R$ 5 milhões, fez aulas com historiadores, pesquisou livros e também aproveitou a experiência de oito anos atrás, dos tempos dos baixinhos: ‘A vida de paquita era como estar em um exército. Então, hoje sou superdisciplinada: chego na hora e com texto decorado’.

Entre uma e outra experiência, Lana também foi finalista do ‘Ídolos’, em 2006, ainda no SBT.

OFÉLIA

Uma é vegetariana e quer fazer churrasco para o marido. Outra tenta aprender a cozinhar para casar-mas nem namorado tem. São assim alguns dos 13 amadores que Claude Troisgros ensinará a pilotar o fogão no ‘Que Maravilha!’,que estreia em 12/4, no GNT.

ENLATADO NÃO

Eles terão aulas como chefe, depois, vão reproduzir em casa o que aprenderam. ‘Uma delas ficou tão brava por não conseguir fazer uma maionese simples que jogou tudo no chão e disse ao câmera que ia comprar uma no mercado e me enganar’, diverte-se o mestre.

BONZINHO

‘Eles se queimam, se cortam, fazem tudo errado’, conta Claude. ‘Mas não sou mau como o Gordon Ramsay, que joga panelas’, brinca, em referência ao apresentador inglês que aterroriza aspirantes a chef.

com CLARICE CARDOSO’

 

Lúcia Valentim Rodrigues e Clarice Cardoso

Brasileiros em série

‘Vim, vi e venci. Os brasileiros aproveitam um bom momento nos seriados norte-americanos e vivem uma espécie de volta para casa agora que as estreias chegam à TV paga brasileira.

A carioca Morena Baccarin pode até exagerar que conquistou um planeta. Assim diria Anna, sua personagem em ‘V’, líder de uma raça alienígena com planos de dominar a Terra. É filha da atriz Vera Setta e do jornalista Fernando Baccarin e já fez outras participações em séries de ficção científica.

Com a proximidade da estreia de ‘V’, prevista para 7 de abril na Warner, ela agendou uma vinda ao Brasil para divulgar a série, mas está inacessível para jornalistas antes disso.

Já Bruno Campos tem um histórico em Hollywood. Saiu do Rio aos cinco anos, acompanhando o pai, que era gerente internacional do Banco do Brasil. Morou em Bahrein (Oriente Médio), no Canadá e nos EUA, onde resolveu tentar a carreira como ator. ‘Às vezes, espero muito para um papel aparecer. Noutras, acontece tudo ao mesmo tempo, como agora.’

Ele estará presente em três seriados na semana que vem.

Em 1997, teve seu primeiro sucesso, com ‘Jesse’, que chegava a 28 milhões de espectadores. Voltou ao Brasil em 1995 com o convite para ‘O Quatrilho’, de Fábio Barreto, que disputou um Oscar e perdeu. Mas ficou com boa fama nos EUA.

‘Fora de prática’ com a língua materna, brinca que ‘provavelmente vai esquecer umas palavrinhas em português’ durante a entrevista. Mas escorrega pouco, afinal, viaja para o Rio todo ano para visitar a família.

‘A televisão está numa competição muito saudável. Como a audiência está mais picotada, um seriado não precisa atrair mais 40 milhões de pessoas. Isso é quase impossível hoje, só os reality shows como ‘American Idol’ atraem essa quantidade de espectadores.’

Também ajuda o fato de mais canais produzirem séries. ‘Há mais diversidade. Os seriados são mais especializados e tratam os temas com mais detalhes. Os produtores reconhecem que há público a ser atingido fora dos EUA, por isso colocam personagens que vêm de vários lugares. Há uma riqueza social e demográfica nos papéis. Foi bom para todos nós.’

Para mostrar a variedade, Campos vive o suspeito de um crime (‘Castle’), um cirurgião viciado (‘Private Practice’) e um ‘médico beduíno’ (‘Royal Pains’). Nem sempre é um latino. ‘Às vezes estão procurando alguém com meu perfil, às vezes isso não importa. Em ‘Royal Pains’, o papel foi pensado para um anglo-saxão e acabou ficando para mim. Não ha fórmula.’

Já Maiara Walsh, que interpreta Ana Solis em ‘Desperate Housewives’, acredita que a preocupação com a diversidade faz do momento especialmente bom para mulheres latinas. Segundo ela, mais do que uma maior gama de papéis, há bons personagens para escolher.

‘Fiz três testes na época e tinha conseguido um papel em outra série, mas escolhi esta’, conta. ‘Ana é um papel muito adulto e é malvada, o que é divertido fazer. Mas, quando aceitei, não sabia que a história dela fosse crescer tanto. Nas séries, nem a gente sabe o que vai acontecer, até que acontece.’

Pelo que se pode ver nos últimos episódios que foram ao ar nos EUA, sobrinha de Gabrielle (Eva Longoria) e Carlos (Ricardo Chavira) deve ter papel marcante no fim da temporada.

Por causa do gênio forte e do namoro com Danny (Beau Mirchoff), ela vem causando uma crescente tensão entre duas donas de casa, o que deve desencadear o esclarecimento do passado sombrio de Angie (Drea de Matteo). ‘O episódio que vai ao ar nos EUA no próximo dia 28 muda a vida da Ana e envolve Danny e Gabi’, adianta, em ótimo português.

Fã de Ivete Sangalo, ela sente falta de comer arroz e feijão todos os dias (‘não tenho panela de pressão’), conta que tem planos de ir ao estádio quando vier ao Brasil e divide o tempo entre causas sociais e humanitárias e projetos de arte.

Filha de brasileira, ela nasceu em Washington, mas passou parte da infância em São Paulo e se considera brasileira, já que quase toda a família mora aqui e que vem ao país todos os anos. ‘Falo com orgulho que sou brasileira, e sempre me perguntam coisas como se o Brasil fosse o lugar mais exótico do mundo.’

Nem sinal do apuro que passou Rodrigo Santoro em ‘Lost’, morto após alguns episódios -e pouquíssimas falas- por falta de empatia com o público.’

 

Eduardo Escorel

Séries têm conexão inesperada com Brasil

‘A quantidade de séries exibidas nos canais pagos não permite enquadrá-las em apenas uma categoria. Produzidas, de forma geral, nos Estados Unidos, muitas vezes são banais.

Mas, preconceitos à parte, entre elas também existem alguns exemplares de mérito, às vezes inovadores, tratando de questões contemporâneas bastante relevantes.

Mesmo entre as que se destacam de início, algumas tendem a decair e se tornar repetitivas. É o caso do seriado ‘24 Horas’, marco do gênero por sua eficácia narrativa.

Os fundamentos ideológicos dos autores podem ser revoltantes, mas refletem corrente de pensamento influente na sociedade americana e no mundo. A próxima temporada estreia em março na Fox.

Até entre as de menor interesse exibidas neste verão, há premissas que têm conexões inesperadas com a atualidade brasileira.

Um exemplo é ‘Cold Case’ (14 anos), na Warner, que trata de ‘casos esquecidos no passado para fazer justiça no presente’. Será preciso lembrar que é a questão por trás do debate sobre a chamada Comissão da Verdade?

‘Lie to Me’ (14 anos), por sua vez, também entre as menos criativas, no capítulo exibido em 16 de fevereiro na Fox, lida com atentados terroristas nos Estados Unidos.

O principal personagem critica a tortura de suspeitos, inclusive as cometidas em Abu Ghraib, e afirma que a ditadura prevalece quando a lei é desrespeitada em situações de emergência. Lição que não custa repetir, em especial nos países como o Brasil, cujo passado a esse respeito fala por si.

O destaque, entre as que estão no ar, é ‘The Good Wife’ (12 anos), apesar de o canal Universal abusar de reprises. A exibida em 8 de fevereiro é um primor de construção dramática. Parábola moral sobre a mentira, trata das falsidades que permeiam as relações entre os diversos personagens.

A acusada não disse a verdade ao seu marido; a suposta vítima forjou o acidente; a testemunha de acusação foi comprada; o advogado de defesa não é diplomado e, no final, o filho mente para a mãe. Mais uma vez, por vias imprevistas, um tema que não poderia ser mais atual no Brasil.

Ao preservarem os títulos em inglês, a televisão paga estará fazendo campanha pedagógica? Considerando o universo restrito de espectadores e as barbaridades cometidas nas traduções, não parece má essa fidelidade ao original.

EDUARDO ESCOREL é cineasta’

 

CORRESPONDENTE
Folha passa a ter repórter em Johannesburgo

‘A Folha passa a contar, a partir da edição de hoje, com a presença de um correspondente em Johannesburgo (África do Sul) até julho, para cobrir notícias referentes à Copa do Mundo e ao continente africano em geral.

Fábio Zanini ficará baseado na Redação do jornal sul-africano ‘City Press’, mediante acordo firmado entre as duas empresas.

O jornalista está na Folha desde 2005, onde é repórter da Sucursal de Brasília.

Ele já foi repórter do caderno Brasil, Agência Folha e Revista da Folha, além de correspondente bolsista em Londres.

Mestre em relações internacionais pela Universidade de Londres, escreve o blog Pé na África, da Folha Online (www.penaa frica.folha.blog.uol. com.br).

O posto em Johannesburgo se somaa à rede de correspondentes do jornal, que conta com jornalistas em Pequim, Genebra, Jerusalém, Washington, Nova York, Buenos Aires e Caracas, além de colaboradores em outras cidades do mundo.’

 

INTERNET
Ernane Guimarães Neto

O devorador da web

‘O jornalista norte-americano David Kirkpatrick, 57, identifica no site de relacionamentos Facebook a ambição de dominar o mundo das informações pessoais. Para ele e os executivos do site, isso não é vilania, mas um serviço. Kirkpatrick está escrevendo ‘The Facebook Effect -The Inside Story of the Company That’s Connecting the World’ (O Efeito Facebook – A História da Companhia Que Está Conectando o Mundo Vista de Dentro, com previsão de lançamento em junho pela editora Simon & Schuster).

A história ‘verdadeira’ ou oficial promete anular o efeito do filme ‘The Social Network’ [A Rede Social, em produção], que conta a criação da mais popular rede de relacionamentos do mundo como motivada pelas dificuldades de seus criadores de arrumar amigos e namoradas na prestigiosa Universidade Harvard. Em termos de contas cadastradas, embora os dados sejam passíveis de contestação (contas abertas não significam usuários ativos), o Facebook tem estimados 400 milhões de perfis, dos quais cerca de 3 milhões de brasileiros -estes vêm mais que dobrando nos últimos seis meses, em que jogos como ‘Farmville’ e ‘Mafia Wars’ têm se tornado populares.

O Orkut ainda é a rede mais popular no Brasil. Os brasileiros têm 51% das mais de 80 milhões de contas dessa rede. Ex-colunista de tecnologia da revista ‘Fortune’, Kirkpatrick é criador da conferência ‘Techonomy’, que acontece em agosto. Segundo ele, o neologismo, mistura de ‘tecnologia’ e ‘economia’, se refere a uma ‘nova filosofia do progresso’, que pode ser resumida na fórmula ‘qualquer tipo de progresso precisa aceitar a mudança exponencial na tecnologia’.

Se a economia convergir com as tecnologias desenvolvidas pelo Facebook, a tendência é vivermos num mundo de menos senhas e ainda menos privacidade, como se pode verificar na entrevista abaixo, concedida à Folha por telefone.

FOLHA – Por que o Facebook fez mais sucesso que outras redes?

DAVID KIRKPATRICK – A primeira razão que fez dele um sucesso é ser baseado na identidade genuína. Diferentemente de Friendster, MySpace ou Orkut, por exemplo, para se cadastrar é preciso usar um nome real.

Ele não foi projetado para que se conheça gente nova, mas para encontrar pessoas já conhecidas. É uma vantagem em relação a outras redes sociais, que admitiam nomes falsos.

O Friendster ficou famoso por seus ‘fakesters’ [‘falsários’], por exemplo. Algumas redes tentaram controlar o uso de identidades falsas, mas falharam. O MySpace, ao contrário, nunca ligou para isso. Outro motivo foi a simplicidade da interface -pode-se dizer que ele tem como modelo o Google. Manter a propaganda a um mínimo dava uma sensação não comercial. E tinha ferramentas mais simples de usar do que os concorrentes.

O MySpace, por exemplo, é muito decorado, caótico; parece a Times Square: cheio de luzes piscantes. Pode fazer sucesso com adolescentes, mas o Facebook apela tanto aos avós quanto aos jovens.

FOLHA – Se procuro uma banda, tento o MySpace; se busco um jornalista, entro no Twitter. Há um usuário típico do Facebook?

KIRKPATRICK – Não. Nos primeiros anos, houve o estudante universitário norte-americano, mas esse grupo caiu para menos da metade. O que mais cresce é de mulheres entre 35 e 45 anos. É um site global. No Canadá, 42% da população está cadastrada. Seu uso é associado a pessoas com maior nível de instrução, diferentemente do MySpace. Mas, no Reino Unido, por exemplo, o site é popular em meio à classe trabalhadora.

FOLHA – O Facebook era a rede dos universitários e se generalizou. O Twitter não nasceu com a marca de ferramenta jornalística ou política, mas se tornou algo assim. Quão imprevisível é o desenvolvimento do perfil dessas redes? Prevalecem a estrutura ou os usuários?

KIRKPATRICK – A estrutura define o uso. O Twitter foi pensado como sistema de difusão, portanto quem aderiu foram comunicadores, políticos e empresas. Adolescentes geralmente não querem fazer anúncios públicos. No Facebook, as funções foram desenvolvidas para universitários, mas, com a ampliação, suas funções passaram a ser deliberadamente pensadas para um público maior.

FOLHA – A história segundo a qual o Facebook foi inspirado nos clubes da Universidade Harvard, contada em ‘The Accidental Billionaires’ [Os Bilionários Acidentais, de Ben Mezrich, ed. Doubleday], tem apelo. Tal livro é um desserviço ao estudo das redes sociais?

KIRKPATRICK – Essa versão tem apelo, mas é falsa. O próprio título mostra que é falso, pois um sucesso assim não ocorre por acidente. Chamá-lo de acidental é idiotice. Ben Mezrich obteve suas informações principalmente do brasileiro Eduardo Saverin [leia texto nesta pág.], um estranho para Zuckerberg e que agora está amordaçado por um acordo judicial [pelo qual foi reconhecido como cofundador da rede de relacionamento].

A ideia de que criaram o site para ‘pegar mulheres’ é falsa. É claro que todos querem entrar nos ‘final clubs’ [sociedades de alunos de Harvard], mas daí dizer que o site foi criado por isso é absurdo. A parte do sexo é toda inventada. Mezrich conta o que Zuckerberg pensava e fazia, mas nunca perguntou a ele sobre isso.

FOLHA – O que o sr. espera do filme ‘A Rede Social’, baseado em ‘Os Bilionários Acidentais’?

KIRKPATRICK – Vai chamar alguma atenção, é claro. Pelo que vi do script, poderia até se tornar uma versão mais correta, mas acho difícil, porque a história falsa é bem cinematográfica.

FOLHA – Há agora uma onda de brasileiros entrando no Facebook. Eles estragarão a rede, como alguns americanos diziam que os brasileiros fizeram com o Orkut?

KIRKPATRICK – O Facebook é a maior rede social em muitos países, mas o Brasil é uma das grandes exceções. Nos primeiros tempos do Orkut, houve uma campanha brasileira para ultrapassar os americanos em número de usuários, e muitos americanos saíram, pois havia reclamações quanto ao português ter se tornado o idioma corrente. No Facebook a tendência é um pouco diferente. Seu design enfatiza que as pessoas encontrem apenas gente conhecida de verdade; você só vai encontrar gente de outras nacionalidade se forem seus amigos.

FOLHA – Aí está um problema novo. Depois de bater Orkut e MySpace, depois de conseguir evitar que muitos usuários abandonassem o site em favor do Twitter, agora vem um nova fase: a era dos aplicativos, especialmente os jogos. Eles não destroem o design limpo e o princípio da amizade baseada no ‘mundo real’ do Facebook?

KIRKPATRICK – Poderiam, se a tendência continuar e sair do controle. Mas duvido. A ambição do Facebook não é ser a maior rede social, é ser a infraestrutura identitária da internet. Querem mapear as relações sociais, de modo que possam aplicar tais mapas para todas as outras atividades on-line -e até off-line. Eles não arriscarão a qualidade do que chamam ‘gráfico social’.

Os engenheiros da empresa reconhecem abertamente que a meta é não precisar usar mais o endereço facebook.com. Ele se tornará um serviço a ser usado através das outras redes. Já existe o Facebook Connect, que unifica senhas de diversos serviços; a pessoa navega por outros sites sempre mantendo a rede de relações do Facebook.

Eles já têm a capacidade de alimentar o Facebook e transferir informações do sistema a partir de outros sites. Creem que, no longo prazo, tudo na internet terá um componente social. Querem fazer a conexão de uma rede com as outras: você entra num site de jornal, entra no MySpace, e a informação vai para o Facebook.

FOLHA – A tendência é uma rede concentrar a informação de toda a internet?

KIRKPATRICK – É uma questão de ‘custo da mudança’. Uma vez que você estabelece sua rede de contatos, seu ‘gráfico social’, é muito cansativo e trabalhoso reiniciar e tentar recriar suas conexões em outro lugar. Ninguém quer fazer isso. O Google está tentando resolver esse problema com o Buzz, mas a partir das conexões de e-mail -porém vários jovens não usam e-mail no mesmo nível das redes sociais.

FOLHA – Com as informações pessoais todas agregadas, caminhamos para um mundo sem privacidade?

KIRKPATRICK – A responsabilidade de pôr informações na rede é do usuário.

Há controles de privacidade, mas também há quem acredite que o mundo esteja se tornando mais transparente.

Esses pontos de vista são conflitantes, o que ficou evidente com os novos controles usados pelo Facebook em dezembro: há a possibilidade de o usuário aumentar sua privacidade, embora o sistema encoraje as pessoas a escolherem a opção sem privacidade.’

 

Brasileiro foi principal fonte de livro e filme sobre o site

‘Eduardo Saverin, estudante de Harvard que viveu no Brasil até a adolescência, ganhou na Justiça o direito de constar entre os quatro fundadores do Facebook. Ele havia processado os ex-colegas, que abandonaram a prestigiosa faculdade em Massachusetts para continuar o projeto Facebook e o excluíram da sociedade. Saverin ficou em Harvard e obteve um diploma em economia.

O litígio terminou em acordo, e desde então o brasileiro evita dar entrevistas.

Ele foi a principal fonte do livro ‘Os Bilionários Acidentais’, em que as festas universitárias e a dificuldade de se inserir socialmente dão o tom dos primeiros dias daquele que se tornou em 2009 o principal sítio de relacionamentos.’

 

Eu é um outro

‘Para Julia Angwin, editora de tecnologia no ‘Wall Street Journal’, as redes sociais não são apenas a principal frente de um novo modelo econômico.

Os aplicativos que acompanham o Twitter e levam novos públicos aos jogos no Facebook, a integração de contas por meio de mecanismos como Google Buzz e Facebook Connect e o fato de as redes não serem suficientemente valorizadas por anunciantes são motivos de preocupação e devem moldar o futuro nos âmbitos cultural, social e legal.

Angwin tem acompanhado o tema desde 2007, quando começou a investigar a história do MySpace, site de relacionamento adotado por músicos de diversos estilos, por sua facilidade de divulgação, e comprado pela News Corporation, em 2005, por US$ 580 milhões. Seu fracasso parece ter ocorrido por acaso. É a impressão deixada pelo título de seu livro, ‘Stealing MySpace – The Battle to Control the Most Popular Website in America’ (Roubando o MySpace – A Batalha para Controlar o Site Mais Popular dos EUA, ed. Random House), cujo subtítulo só ficou atual por um mês.

Depois de lançá-lo em março do ano passado, a autora viu em abril o MySpace ser desbancado, em número de visitas, pelo Facebook. Mas o livro contém informações que ajudam a explicar o declínio do site, que continua a perder posições na audiência da web: sua origem menos profissional do que a concorrência. Em entrevista à Folha, Angwin lamenta que, junto com o MySpace, esteja caindo o estandarte do relacionamento virtual anônimo, que garante maior privacidade e liberdade de expressão.

FOLHA – Por que o MySpace perdeu a liderança?

JULIA ANGWIN – Eles foram lentos para reagir tecnologicamente, se atualizar. Não perceberam a tempo que precisavam acrescentar novas atrações, que as outras redes eram ameaças. Sofreram um pouco com a fadiga das pessoas, a tendência para migrar para as novidades, é verdade, mas não fizeram o bastante para mantê-las. Nessa área, se você não inova, fica para trás: as páginas demoram para carregar, o software é velho…

FOLHA – Como a sra. descreveria seus criadores, Chris DeWolfe e Tom Anderson?

ANGWIN – Criaturas típicas de Los Angeles. Diferentemente dos engenheiros do Google ou do Yahoo!, são pessoas ‘espertas’, mais do que tecnologicamente interessadas, são gênios do marketing, mas de um nível um pouco baixo de marketing.

Fizeram um marketing sujo no início, para conseguir tocar as coisas. Distribuíram ‘spyware’ [programas que roubam informações do computador do usuário], fizeram spam.

FOLHA – Ben Mezrich lançou ‘Os Bilionários Acidentais’, sobre o Facebook. Não acha que o sucesso MySpace é mais apropriadamente ‘acidental’?

ANGWIN – Muito mais acidental. Os criadores do MySpace foram realmente heróis improváveis. Os criadores do Facebook eram estudantes de Harvard, gente bem preparada e interessada, que às vezes larga tudo para começar algo novo -a velha história de Bill Gates e Steve Jobs.

FOLHA – A sra. teve o azar de ter o subtítulo do livro desatualizado logo após o lançamento…

ANGWIN – Foi muito azar! Foi verdade por mais de um ano e, um mês depois de lançado, não era mais.

FOLHA – …E agora, enquanto vê as redes sociais lutarem pelo público, consegue predizer quem tomará o lugar do Facebook?

ANGWIN – Não dá para adivinhar, mas, como os usuários estão mais amadurecidos com as redes sociais, suponho que se irritem com o fato de o Facebook fazer mudanças a toda hora. Não há mais a euforia, as pessoas estão ficando mais cínicas quanto às redes, querem exigir responsabilidade dessas empresas.

Portanto o maior interesse pode ser em ter controle sobre seu perfil, sua privacidade, as possibilidades de montar sua interface.

Gosto do modelo do Ning. Você monta sua própria rede social com suas regras e sem ser encontrado se não quiser. Líderes iraquianos estão usando esse tipo de rede para compartilhar histórias e traumas, sem usar um espaço público. A ideia de fazer isso em sites onde as pessoas já estão, como o Google faz no Gmail, é boa; mas não estou nada contente com o Google quanto à questão da privacidade.

FOLHA – As diferentes redes usam mecânicas diferentes. Acha que a tendência é uma homogeneização, quando surgir uma fórmula vitoriosa, mais ou menos como ocorreu com serviços de e-mail grátis?

ANGWIN – Parece que teremos as plataformas de massa, como Facebook, onde todos estão justamente porque todo mundo já está lá. Mas também haverá nichos para participar daquilo que você não quer compartilhar, para controlar melhor a conversa, ter uma relação mais íntima.

FOLHA – Mais usuários sempre quer dizer mais dinheiro?

ANGWIN – Esse é um ponto importante: há uma subvalorização desses sites. Eles ganham dinheiro, mas certamente não o que se espera de quem tem milhões de espectadores. Essas redes ganham menos do que poderiam com anúncios. Enquanto isso, os sites ficam um pouco dependentes de um mercado sujo para viver.

Por exemplo o Twitter ter de vender dados para o Google e o Bing. Os usuários do Facebook geralmente não têm conhecimento de quanto de seus dados são disponibilizados.

FOLHA – Esses sites são o centro do que parece ser um novo modelo de negócio, baseado em transações mais frequentes, de valores baixos, do mercado de aplicativos -especialmente jogos. O Facebook tomou a dianteira nisso também?

ANGWIN – Sim. É verdade que o Twitter também tem uma plataforma boa para aplicativos -mas não são jogos, e sim programas para a visualização de informações. Os jogos são os mais populares aplicativos desse novo mercado.

FOLHA – Mas isso não pode ser ruim para o Facebook? Pois jogos têm mais apelo entre jovens, o público-alvo do MySpace, enquanto as informações de joguinhos enchem a página do Facebook e atrapalham seu design, célebre pela ‘limpeza’…

ANGWIN – Pode ser irritante o fato de o Facebook mudar a toda hora o funcionamento de seus recursos, agora receber informações sobre os jogos de outras pessoas, mas ele deve corrigir isso. A questão principal é quais jogos são mais divertidos. A novidade poderia favorecer o MySpace, porque tem o público mais adequado, mas os programadores bacanas não estão por lá: sua tecnologia é desatualizada e ocorre uma deserção maciça -perderam 1 milhão de usuários em um mês. Logo, as empresas não veem razão para investir nele.

FOLHA – No ano passado, a sra. aventou a possibilidade de o Twitter ser o novo ‘carrão’ do pedaço. Ele é?

ANGWIN – O Twitter tem seus problemas, ele e o Facebook experimentam suas ‘dores de crescimento’ e crise de identidade, uma falta de clareza sobre onde querem estar. Muito disso vem da falta de condições de fazer dinheiro. O Facebook prevê lucros neste ano, mas não tanto quanto se esperaria de alguém com mais de 300 milhões de usuários.

O interessante é que o ‘ecossistema do Twitter’ ultrapassou o próprio Twitter em importância; posso usar o TwitterDeck e nunca mais entrar diretamente no endereço do Twitter; já o Facebook permanece como portal para os aplicativos que abriga. O futuro do Twitter fica em dúvida.

FOLHA – Hoje é comum cultivarmos uma persona em cada rede, múltiplos avatares. Com tentativas de integrar as redes sociais, como Facebook Connect e o Google Buzz, perderemos pluralidade?

ANGWIN – O Facebook tem convencido muitas pessoas de que é mais seguro mostrar seu nome verdadeiro hoje. Mas existe uma necessidade de anonimidade que é intrínseca à liberdade de expressão, à expressão política. Vide o exemplo dos protestos no Irã. Precisamos poder ser anônimos. Infelizmente o maior fórum para a anonimidade é o MySpace, que falhou de tantas outras formas.

O Twitter é confuso em relação à anonimidade: pede isso de algumas celebridades, mas não do público em geral, permite imitadores que façam paródia, mas não ‘imitadores sérios’, há um problema aí. A tentativa de integrar tudo numa só senha, concentrar todas as suas relações, preocupa.

FOLHA – Assim, devemos considerar um risco que empresas como o Google e as redes sociais colecionem tamanha base de dados pessoais? Acredita que possam em breve ser limitadas pela Justiça, assim como a Microsoft teve problemas nos anos 90 por monopolizar o mercado?

ANGWIN – É um risco. Vemos em casos como o dos hackers chineses que atacaram o Google: mesmo que estejam bem intencionados, aqueles que detêm as informações não podem garantir muita segurança. E as companhias nem sempre estão muito interessadas em nossa privacidade.

FOLHA – Como as pessoas vêm se acostumando a ser observadas, adicionadas e ‘retuitadas’, caminha-se para um mundo sem privacidade?

ANGWIN – Preocupo-me muito com isso: a definição de privado tem ficado mais estreita, as leis precisam ser repensadas.

Hoje, um usuário pode ligar para o YouTube dizendo que uma canção de sua autoria está on-line sem sua autorização e eles irão removê-la; mas não há o direito de pedir para tirarem um vídeo de si mesmo dançando nu. Ficamos sem direito sobre nossa identidade, não é?

Não existe a mesma garantia legal dos direitos autorais.

Muitos juristas têm refletido sobre isso.’

 

Google ainda lidera ranking de visitação

‘O Facebook ultrapassou o MySpace em número de visitantes no ano passado e tem ampliado sua liderança entre as redes sociais.

Segundo o ranking do site alexa.com, que monitora acessos à internet mundialmente, ele é o segundo site com maior tráfego (combinação do número de visitantes e de páginas vistas), perdendo apenas para o buscador Google.

O Twitter é o 12º; o MySpace, o 17º. No Brasil, o mais popular é o Orkut. A versão brasileira (orkut. com.br) é o segundo site do país, mas o 53º no ranking mundial. A matriz americana fica em 57º.

Enquanto Twitter e Facebook ganham posições, o MySpace cai (era o 7º site global no início de 2009).’

 

JORNALISMO NA FRANÇA
Leneide Duarte-Plon

Femme fatale

‘Ela é a primeira mulher a dirigir a Redação do jornal ‘Le Monde’, o mais respeitado da França, conhecido como ‘le quotidien de référence’ [o diário de referência] e leitura obrigatória de intelectuais e políticos.

‘O diário de referência é um jornal que se torna uma autoridade -ao qual se dá crédito e do qual não se contestam, a priori, as informações que veicula’, explica Sylvie Kauffmann, 55, que assumiu a direção do jornal em janeiro. Antes, havia sido correspondente da agência France Presse em Moscou no fim da década de 1980. Já no ‘Le Monde’, Kauffmann foi correspondente em Washington, entre 1993 e 2001, e, nos últimos três anos, no Sudeste Asiático.

Formada em direito e em ciências políticas, ela dirige uma Redação de 115 jornalistas, que compõem a ‘Société des Rédacteurs du Monde’. A SRM tem direito de veto sobre a nomeação do presidente do diretório que comanda o rico grupo que edita o jornal, uma revista semanal (‘Le Monde Magazine’) e, a partir de fevereiro, uma revista mensal (‘Le Mensuel’), com uma seleção de artigos, perfis e entrevistas.

Kauffmann, que diariamente chega à Redação do vespertino às 6h30 da manhã para comandar o fechamento, fala também, na entrevista abaixo, sobre a relação entre mídia escrita e internet.

FOLHA – A sra. é a primeira mulher a dirigir o ‘Le Monde’. O que isso representa para a sociedade francesa, onde as mulheres tiveram o direito de votar apenas depois da Segunda Guerra (1939-45) e, até os anos 60, não podiam assinar um cheque sem a autorização do marido?

SYLVIE KAUFFMANN – Não é uma revolução, mas apenas a continuação de uma evolução -um pouco lenta, no meu ponto de vista. O jornalismo se feminizou nesses últimos 20 anos: por exemplo, 40% da Redação do ‘Le Monde’ é composta por mulheres, e também há mulheres como chefes de editoria. Sinto-me orgulhosa pelo modo como a chegada das mulheres à profissão fez o jornalismo evoluir e espero poder continuar a enriquecer nosso jornal com a nossa sensibilidade um pouco diferente. Mas, fundamentalmente, tenho os mesmos valores jornalísticos que meu predecessor [Alain Frachon], que é um homem. Por outro lado, não acho que a sociedade francesa seja mais machista do que outras sociedades europeias.

FOLHA – No dia em que o jornal anunciava aos leitores a sua nomeação como diretora da Redação, ele registrou uma tiragem de 381.954 exemplares -número que se aproxima dos 407 mil exemplares que vendia em 2002. Este diário começa a sair da crise por que vem passando a imprensa?

KAUFFMANN – O ‘Le Monde’ briga com toda sua energia para se transformar e continuar a ser um jornal indispensável num ambiente midiático que mudou muito desde 2002. Assim, comparar as tiragens de 2002 e 2010 não faz muito sentido: em 2002, havia menos sites e menos jornais gratuitos; a concorrência era outra.

FOLHA – Os jornais gratuitos e a internet são os únicos responsáveis pela perda de receitas publicitárias e das vendas da mídia impressa?

KAUFFMANN – Não são os únicos. A situação econômica também contribuiu, as condições de distribuição da imprensa na França… Há vários fatores. Pode-se considerar também que não soubemos seguir bem de perto a evolução das expectativas dos leitores. Pessoalmente, vejo a internet como uma oportunidade para a imprensa escrita, e não como uma catástrofe. Ambas são bastante complementares e podem funcionar em relação recíproca.

FOLHA – A sra. foi correspondente em Moscou durante o período da ‘glasnost’, antes do fim da União Soviética. Teve a impressão de viver um momento decisivo da história?

KAUFFMANN – Sim, e talvez mais ainda quando cobri, para o ‘Le Monde’, o Leste Europeu e a Rússia, de 1988 a 1993. Acompanhei o fim do comunismo e a transição para a democracia e a economia de mercado de países que se tornariam membros da União Europeia. Encontrei por lá personagens corajosos e visionários. Foi um período que me marcou muito intelectualmente, mas também do ponto de vista humano e jornalístico.

FOLHA – A revista mensal recém-lançada é uma nova fórmula para enfrentar a crise da imprensa?

KAUFFMANN – A revista é um dos produtos que propomos para diversificar a oferta do jornal. Muitas pessoas se interessam pelo conteúdo do ‘Le Monde’ e pela expertise dos nossos jornalistas, mas não têm tempo ou possibilidade de comprá-lo todos os dias. Então propomos essa seleção mensal de nossos melhores artigos. Além do mais, é um belo objeto, parece um livro, com belas fotos, uma nova forma de leitura diferente do cotidiano, da internet ou de um semanário. Nunca se deve parar de inventar e inovar.

FOLHA – Em que consiste um ‘diário de referência’?

KAUFFMANN – É o diário indispensável, que deve ser lido e que se torna referência pela independência de seu julgamento e pelo amplo espectro de sua cobertura, principalmente a internacional e a política.

FOLHA – O ‘Le Monde’ pertence a um grupo de imprensa independente no qual os jornalistas têm uma grande liberdade. Em que ele é diferente de um jornal de esquerda, como o ‘Libération’, ou um de direita, como ‘Le Figaro’?

KAUFFMANN – Em 20 anos de carreira no jornal, jamais sofri pressão sobre qualquer assunto que escrevi. Nossos acionistas não nos impõem uma prioridade ou outra. Isso é extremamente precioso. Para nossa Redação, esse valor é fundamental, mesmo se nossa situação financeira é, por consequência, mais precária que a de outros jornais.

FOLHA – O livro ‘La Face Cachée du Monde’ (A Face Oculta do ‘Monde’, de Pierre Péan e Philippe Cohen, ed. Mille et Une Nuits, 640 págs., 24, R$ 60) foi visto pelo jornal ‘como uma campanha para lançar descrédito sobre ele e impedir que construa seu projeto de grande grupo de imprensa independente’. O livro arranhou sua reputação?

KAUFFMANN – Não sei qual era o objetivo preciso do livro além de lançar o descrédito sobre o jornal. Ele fez estragos, claro. Algumas críticas poderiam ter sido construtivas porque o ‘diário de referência’ pode ser criticado, evidentemente. Tudo pode ser criticado, por que estaríamos ao abrigo da crítica? Infelizmente, às críticas legítimas se misturavam muitos ataques pessoais de baixo nível e erros factuais, e isso tudo foi muito negativo. Mas acho que depois disso restabelecemos solidamente nossa reputação [leia texto ao lado].

FOLHA – Em 1981, o jornal apoiou, em editoriais assinados, a candidatura de François Mitterrand à Presidência e, em 2007, a de Ségolène Royal, ambos socialistas. Ele permanece um jornal de esquerda?

KAUFFMANN – Não, ele é um jornal independente. Nosso leitorado se situa em ambos os espectros políticos.

FOLHA – O que mudou na empresa com as saídas de Jean-Marie Colombani e Edwy Plenel (ex-diretores do jornal)?

KAUFFMANN – Passamos a privilegiar nossa credibilidade em vez de tentar grandes ‘furos’ jornalísticos.

FOLHA – A sra. pode resumir seu dia de trabalho?

KAUFFMANN – Somos um jornal vespertino que fecha pela manhã para ser vendido em Paris na hora do almoço. Acordo às 5h30 para chegar ao jornal às 6h30. A primeira reunião de redatores e jornalistas é às 7h30.

De manhã, o ritmo é muito intenso até as 10h30, hora do fechamento. Meio-dia, nova reunião da Redação, mais longa, para iniciar o jornal que sairá no dia seguinte e determinar o conteúdo dele.

Metade das páginas do dia seguinte, as que dependem menos da atualidade (investigação, perfis, cultura, debates, modo de vida) são realizadas à tarde e à noite. Temos uma nova reunião às 17h para ver o que será preciso mudar nos nossos planos em razão dos acontecimentos do dia. Saio do jornal entre 19h e 20h.’

 

‘Le Monde’ tenta renascer após ataques

‘Em 2003, o mais respeitado jornal francês foi acusado, no livro ‘A Face Oculta do ‘Monde’ (dos jornalistas Pierre Péan e Philippe Cohen), de cinismo, abuso de poder e francofobia. Foi ainda descrito como ‘um pesadelo orwelliano em cuja Redação reina um clima de medo’.

O periódico defendeu-se afirmando que o livro ‘acumula erros, mentiras, difamações e calúnias’.

Fundado em dezembro de 1944, o ‘Le Monde’ tem uma tiragem de cerca de 380 mil exemplares e vende 40 mil cópias no exterior. Pertence ao grupo La Vie-Le Monde, também proprietário da prestigiosa revista mensal ‘Cahiers du Cinéma’.’

 

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