Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Instância reguladora irrita grupos gays

O artigo foi publicado no Daily Mail no ano passado, mas a polêmica continua. A colunista Jan Moir associou a morte do cantor britânico Stephen Gately, da boy band Boyzone, que fez sucesso na Europa nos anos 1990, ao fato de ele ser gay. Gately foi encontrado morto em um apartamento em Mallorca, na Espanha, onde passava férias. A autópsia indicou um acúmulo de líquido nos pulmões. A Press Complaints Commission (PCC), órgão que fiscaliza a mídia no Reino Unido, recebeu milhares de reclamações após a publicação da coluna de Jan – vindas de fãs, anunciantes e do parceiro de Gately, Andrew Cowles. A entidade, entretanto, só considera válidos os pedidos vindos de pessoas da família ou envolvidas diretamente no caso e, na semana passada, informou que refutou a queixa de Cowles.

As reações foram imediatas. Ben Summerskill, executivo-chefe do grupo de direitos dos homossexuais Stonewall, alegou ser ‘muito difícil recomendar’ que qualquer um que pertença a um grupo minoritário faça uma reclamação à PCC. Para Summerskill, ex-jornalista do Observer, Jan ‘dançou no túmulo de um jovem morto prematuramente’.

Desconfortável

A presidente da PCC, Peta Buscombe, defendeu o órgão, alegando que ele reage severamente a editores por conta de discriminação individual. Peta admitiu que a coluna do Daily Mail ‘ultrapassou os limites’ em termos de quebra do código de prática da organização, acrescentando que tem uma ‘grande simpatia’ por Cowles. ‘A PCC rejeitou a queixa de Cowles, mas admitiu que ficou desconfortável com o teor dos comentários da colunista’, afirmou.

Peta defendeu ainda o sistema de autoregulamentação do órgão. ‘Funciona porque somos independentes do governo e, portanto, flexíveis para considerar importante a liberdade de expressão, que em uma sociedade livre algumas vezes permite a publicação de um artigo que gera um debate fervoroso. Respondemos a este debate e, na verdade, o fato de estarmos falando sobre isso significa que podemos legitimar a crítica’, comentou, acrescentando que a decisão foi tomada por 17 pessoas que analisaram cuidadosamente o assunto.

Houve uma discussão forte sobre o caso em especial pelo momento em que o artigo foi publicado, um dia antes do funeral de Gately, em outubro – algo pelo qual Jan desculpou-se posteriormente. Peter Tatchell, co-fundador do grupo de direitos dos homossexuais OutRage!, chegou a afirmar que a PCC deveria ser dissolvida. ‘Ao falhar em seguir seus próprios padrões e a seguir seu próprio código de prática, a PCC demonstrou que não é capaz e nem deseja regular a imprensa. Precisamos de um novo regulamentador com princípios e coragem’, disparou. ‘Se Jan Moir tivesse feito comentários semelhantes sobre um judeu ou um negro, que ofendessem a raça ou a comunidade, a PCC teria ficado contra ela’. Informações de Chris Tryhorn [The Guardian, 18/2/10].