Jornalistas e leitores: esqueçam por um momento o que o deputado Roberto Jefferson falou ontem na CPI.
A notícia-bomba do dia (ou da noite) é a entrevista do ex-araponga Jairo Martins de Souza ao Jornal Nacional.
Ele conta que orientou o empresário Arthur Washek Neto a gravar o infeliz do Maurício (R$ 3 mil) Marinho, dos Correios. E fez mais: combinou previamente com o repórter Policarpo Júnior, da Veja, a publicação do conteúdo da fita.
Consumada a gravação, cumpriu o que prometeu: já no dia seguinte entregou uma cópia a Policarpo. Como numa novela de espionagem, eles se encontraram no Parque da Cidade, em Brasília, e viram o material num mini-DVD adrede trazido pelo repórter.
O acerto prévio com o expert em gravações secretas me parece um procedimento anti-ético, para dizer o menos. Se o que Washek fez, instruído por Jairo, é crime, o que Policarpo fez é o quê?
Sim, a divulgação das conversas gravadas representa um furo jornalístico monumental, pela avalanche que provocou – e que ainda não terminou. E não, não acho que seja catar pêlo em ovo defender uma distinção, no plano da ética profissional, entre aproveitar material obtido clandestinamente – o que para muitos já é uma transgressão – e acertar o recebimento antes ainda do fato (se é que Jairo fala a verdade).
Jornalistas não são freiras e redações não são conventos. Mesmo assim, a trama de que participou o repórter da Veja, decerto autorizado pela sua chefia, deixa a forte sensação de algo além do aceitável.
Ou estou errado?
P.S. A história do ex-araponga complica a versão de Jefferson de que o “comandante” Molina, quando finalmente conseguiu se recebido pelo político, lhe disse, como quem sugere um toma-lá-dá-cá, que tinha uma fita comprometedora para ele. Será que o “comandante” não sabia que, a essa altura, a Veja tinha já uma cópia?