Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Parece que rebentou uma atómica’

Um dia, lá por dezembro de 1960, as agências americanas de notícias informaram que um avião da Força Aérea dos Estados Unidos desaparecera nos céus do Texas. Suspeitava-se que carregava uma bomba atômica.


Um vespertino lisboeta chegado a uma sensação gritou em manchete: “Parece que rebentou uma atómica”.


É o que sugere a reportagem de capa da revista Veja, hoje nas bancas, sobre os US$ 3 milhões que Cuba teria doado para a campanha de Lula em 2002.


Porque se a história ficar provada – e põe “se” nisso – a radiatividade política e institucional que daí resultar será comensurável com a de uma explosão atômica [com circunflexo e não com acento agudo, como se escreve no Brasil].


Mesmo que a coisa fique na base da “palavra de um contra a palavra de outro”, não se vê como a crise poderá se manter na temperatura já em elevação dos últimos dias, com o PT querendo a cabeça do tucano Eduardo Azeredo, e os tucanos e pefelistas querendo escarafunchar as contas da campanha presidencial.


Para não falar das traficâncias de Valério no Banco Central, também denunciadas pela Veja.


Em qualquer hipótese, a radicalização transbordará do universo político (governo, Congresso, partidos) para a esfera social. A CUT, o MST e demais movimentos populares irão para a briga em defesa do mandato de Lula.


E do direito do PT à existência. Por uma lei de 1995, partido que recebe dinheiro do exterior perde o registro. Cassado, não pode apresentar candidatos. E já expirou o prazo para os candidatos a qualquer coisa no ano que vem mudarem de partido.


A direita, com toda probabilidade, vai falar de megafone para ser ouvida nos quartéis, em nome da Ordem. Mesmo que os militares se comportem como manda a Constituição, a idéia de que Fidel Castro deu dinheiro para eleger Lula não será exatamente música aos ouvidos da caserna.


Tem mais. Os envolvidos, segundo a Veja, são gente ligada a Palocci. Quanto tempo ele aguentará dizendo que nunca ouviu falar na história?


Mais ainda. Como ficarão as relações entre o Brasil de Lula, supostamente beneficiado pelos dólares do castrismo, e os Estados Unidos de Bush? Dia 6, a propósito, o homem vai passar por aqui.


Preparem-se para ler e ouvir a expressão “ingerência em assuntos internos de outros países.”


Vocês não sei, mas eu vou encomendar uma reza brava para que a história da Veja se revele tão verdadeira como a da “atómica” do jornal português, que, afinal, não rebentou.


Isso não tem nada a ver com gostar ou não do PT e de Lula. Tem a ver com segurar as pontas do país.


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