O jornal dinamarquês Politiken pediu desculpas a oito organizações muçulmanas pela ofensa causada por ter republicado, em 2008, os polêmicos cartuns de Maomé em matéria que noticiava a tentativa de ataque à casa do cartunista Kurt Westergaard. Em troca, os grupos – que representam quase 100 mil descendentes do profeta – cancelaram um processo contra a publicação.
Em uma declaração conjunta, os dois lados expressaram a ‘satisfação com o acordo amigável e a esperança de que a atitude contribua de algum modo para neutralizar a situação de tensão atual’. Apesar das desculpas, a publicação das charges foi amplamente condenada pela mídia e partidos políticos da Dinamarca.
Já Jørn Mikkelsen, editor do Jyllands-Posten, que publicou originalmente os cartuns em 2005, e o cartunista Westergaard foram contra a atitude do diário. Para Pia Kjærsgaard, líder do Partido do Povo Dinamarquês, a situação é absurda. ‘É profundamente constrangedor que o editor Tøger Seidenfaden tenha vendido a liberdade de expressão do país’, disse.
No ano passado, 11 jornais dinamarqueses foram contactados pelo advogado saudita Faisal Yamani, que pediu a retirada dos cartuns de Maomé dos seus sites, a publicação de desculpas e promessa de não mais usarem as charges. Inicialmente, Seidenfaden havia recusado o pedido de desculpas de Yamani, alegando que era papel do jornal publicar os cartuns como parte de sua cobertura jornalística, depois que o cartunista teve sua casa atacada. O advogado elogiou o acordo.
A polêmica
Em setembro de 2005, o Jyllands-Posten pubicou uma série de cartuns mostrando o profeta Maomé, em uma atitude descrita pelo jornal como uma tentativa de promover a liberdade de expressão. Os cartuns tiveram um impacto mínimo, mas foram divulgados por jornais noruegueses, que então espalharam protestos violentos em todo o Oriente Médio. No ano seguinte, a violência aumentou na medida em que jornais da França, Alemanha, Espanha e Itália republicaram as caricaturas. A redação do Jyllands-Posten teve de ser evacuada diversas vezes por conta de ameaças. A embaixada da Dinamarca em Damasco foi incendiada e Westergaard foi forçado a se esconder, por conta de ameaças. De acordo com a tradição islâmica, não se deve mostrar nenhuma representação gráfica do profeta Maomé. Informações de Lars Eriksen [The Guardian, 26/2/10].