Ao longo do ano, especialmente nos últimos meses, quando se tornaram mais frequentes e mais ácidas as críticas à mídia brasileira nas manifestações dos frequentadores de sites e blogs, uma acusação quase unânime alvejava a ‘arrogância’ de jornais e jornalistas em face do público.
Um número crescente de leitores passou a denunciar asperamente o que seria uma reação muito comum dos criticados: desqualificar os comentaristas para desqualificar os seus comentários.
Mesmo dando o devido desconto ao fato de que não raras críticas partiam de premissas se não falsas, improváveis, e se expressavam de maneira tal a aviltar o próprio – e imprescindível – debate sobre a atuação da mídia, seria desonestidade intelectual negar que exista entre os jornalistas uma lamentável propensão a olhar o público de cima para baixo.
Seria igualmente errado ignorar, por corporativismo ou fatores subjetivos, o que parece ser um exemplo irretocável disso que tanta indignação provoca entre os leitores.
O Estado de hoje publica a seguinte carta, assinada pelo advogado Raul Silva Telles do Valle, do Instituto Socioambiental (ISA):
Gostaria de fazer alguns comentários sobre o artigo Quanto custa um bagre? (4/12, B2), de Carlos Alberto Sardenberg. Em primeiro lugar, o Parque Indígena do Xingu não tem “meia dúzia de índios”, mas mais de 5 mil pessoas pertencentes a 14 povos com línguas e culturas distintas, que constituem um significativo patrimônio para o País. Ademais, as hidrelétricas citadas no artigo são, na verdade, apenas cinco pequenas centrais geradoras, que, embora gerem pouca energia, podem causar grandes impactos, como a extinção de diversas espécies de peixes. Os “bagres” aludidos no artigo são a principal fonte de alimentação de toda a população indígena do Xingu e seu sumiço inviabilizaria sua sobrevivência. Portanto, a pergunta feita no artigo deveria ser: vale a pena sacrificar a diversidade socioambiental brasileira por meia dúzia de megawatts?
Segue-se a sumária resposta:
Pelo menos se começa a fazer conta.
Talvez seja o caso de perguntar quando os jornalistas começaremos a levar na devida conta o que o leitor tem a dizer, sem ironia, nem condescendência.
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