Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A notícia que não poderia ter saído

Todos os jornais que contam noticiam hoje com destaque a advertência do governador paulista José Serra de que o sistema de saúde pública no Estado entrará em colapso se o Congresso Nacional aprovar o projeto que muda os critérios de distribuição dos recursos federais para o SUS.

Pela proposta, da senadora cearense Patrícia Saboya, do PDT, os repasses para o sistema deixariam de levar em conta exclusivamente a população de cada Estado. Um quarto dos recursos seriam distribuídos conforme a renda per capita das respectivas populações.

Com isso, quanto mais pobre o Estado, maior o valor repassado a esse título. O projeto foi aprovado dias atrás pela comissão de Aasuntos Econômicos do Senado.

Pelos cálculos amplamente divulgados do governador Serra, São Paulo correria o risco de perder ‘algo da ordem de R$ 2 bilhões, a partir do ano que vem’.

Mas um jornal não se limitou a ecoar o protesto de Serra. Abaixo da respectiva matéria, a Folha tascou um ‘Governador reclama, mas reduz em 27% investimentos na Saúde para 2008’, sobre detalhada matéria que leva a assinatura da repórter Catia Seabra.

Em números absolutos, serão R$ 124 milhões a menos para o setor.

A Folha, portanto, fez o que qualquer jornal tinha a obrigação de fazer nas circunstâncias.

Mas o meu ponto não é nem esse. É sobre os perigos das idéias preconcebidas e das teorias conspiratórias na interpretação do noticiário.

Outro dia, por exemplo, um leitor deste blog comentou, a propósito do artigo ‘Pau que bate em Chico…’, de 2/10, sobre a expansão do noticiário referente ao mensalão mineiro, que a Folha, ao publicar matérias a respeito, tinha um interesse oculto: ajudar a enfraquecer o PSDB mineiro, a começar do governador Aécio Neves, para beneficiar ‘o candidato do jornal’ a presidente da República, o tucano José Serra.

Por essa teoria, a reportagem sobre os cortes de gastos com saúde no governo Serra poderia sair em qualquer órgão de mídia, menos na Folha.

Na realidade, o modo de produção de um jornalão é complexo demais para que o seu dono vigie o conteúdo em preparo em cada editoria, mesmo que quisesse fazê-lo por motivos técnicos ou pelos que não têm propriamente ligação com a busca de excelência jornalística.

Mas para os adeptos da conspiração midiática, isso tanto faz como tanto fez. O seu mote é conhecido: ‘Não me venham com fatos novos, que já temos as nossas opiniões formadas.’