Ontem, Dora Kramer, no Estado, e Miriam Leitão, no Globo. Hoje, Fernando Luiz Abrucio, no Valor, e Ribamar Oliveira, no Estado.
Cada um a seu modo e cada qual de seu ângulo, os quatro traduzem uma inquietação legítima de quem vê nos ciclos eleitorais menos a apoteose da vídeopolítica do que a oportunidade para um país discutir para onde quer ir.
Dora lembra que todas as campanhas presidenciais desde a redemocratização ‘foram regidas por alguma idéia-força em torno da qual se mobilizou o eleitorado’.
Em 1989, 1994, 1998 e 2002, ‘menos de seis meses antes das eleições, todos [os candidatos] tinham muito bem delineadas suas linhas de ataque’. Na atual campanha isso não ocorre porque governo e oposição estão ‘ocupados com a guerra dos escândalos’.
Miriam Leitão bate ainda mais pesado:
‘Há muito que discutir a cada quatro anos. Mas o debate começa burro e perdido. Os dois lados vão se perder em ataques recíprocos. O mais convincente estará governando o país no ano que vem. E aí o que será do Brasil?’
Mais técnico e preocupado com o que considera ‘o problema mais importante do país’ – o déficit da Previdência -, o colunista econômico Ribamar Oliveira denuncia que ‘razões meramente eleitorais’ impedem governo e oposição de se pronunciar a respeito. E faz um alerta:
‘O eleitor certamente precisa ser informado do que está acontecendo [a alta contínua dos gastos previdenciários como proporção do PIB]. É evidente que ele deve participar da discussão sobre alternativas de uma reforma [do sistema] que afetará sua vida e que será feita, inevitavelmente, pelo próximo governo’.
Por fim, o cientista político Fernando Luiz Abrucio joga na mesa uma idéia original. Cobra do PT e do PSDB uma comparação não do que fizeram os respectivos governos – mas do que deixaram de fazer em relação a uma pá de questões: impostos, emprego formal, criminalidade, serviços públicos de qualidade e por aí. E aponta, coberto de razão:
‘Um bom debate eleitoral tem de comparar o passado com o presente. Mas o melhor seria saber que futuro nos prometem, em termos de meios e fins, os principais candidatos à presidência da República.’
Tudo muito bom, tudo muito bem, mas a mídia deve e pode ir além de chamar a atenção para a pobreza de idéias desta pré-campanha. Em vez de esperar que os candidatos tomem alguma iniciativa, a imprensa precisa partir para cima deles e de seu pessoal, perguntando a que vêm. E expondo, em cada caso que isso ocorrer, as respostas que forem apenas palavras ao vento.
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