Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O verbo e a verba

Pela precisão e pela concisão, nota 10 para o editorialete do Globo de hoje, ‘Mistura indesejada’, sobre a anunciada criação do Ministério da Comunicação Social.

Segundo o noticiário, o presidente Lula quer juntar numa única estrutura a Secretaria de Imprensa, que inclui o porta-voz presidencial, ligada diretamente ao seu gabinete; a Secretaria de Comunicação, responsável pela publicidade da administração direta e indireta, ligada à secretaria-geral da Presidência da República; e a Radiobrás.

Se há uma estrutura cronicamente instável no Planalto é a da comunicação. Lida-se com ela como se fosse uma sanfona: conforme o presidente, ela se abre e se desdobra, ou se fecha e se concentra.

Em qualquer formato, é um cobertor curto. E não há uma avaliação unânime sobre as vantagens de um modelo sobre outro.

Um único ponto parece pacífico. Levar ao mesmo forno o verbo (comunicação do governo) e a verba (publicidade estatal) é dar sopa para o azar – ou para coisas ainda mais indigestas.

Daí o acerto da posição do Globo:

‘O presidente Lula planejaria juntar, na Secretaria de Comunicação, o trabalho de contato com a imprensa — que já é feito — com o guichê de publicidade do Executivo.

O secretário, possivelmente com novo status, agora de ministro, atuaria em duas frentes nas empresas de comunicação: daria informações à redação e veicularia anúncios junto ao departamento comercial, pagando por eles.

É péssima solução. Pois as boas práticas recomendam que dinheiro e notícia mantenham uma grande e visível distância profilática.

Por isso, os anúncios são separados do noticiário em qualquer veículo de imprensa.

O governo não deve se deixar acusar de pagar pela publicação das notícias de seu interesse, nem a imprensa séria aceita se sujeitar a situações em que possam se misturar dois mundos tão diferentes. O presidente precisa refletir melhor sobre a sua política de comunicação.’

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