Jornalismo é igual a bom-bril – tem mil utilidades. É coisa para se usar mesmo. Tipo sabonete. E o melhor desta atividade é que ela pode ser usada tanto por bandidos como por mocinhos. Sempre gera ganho social.
Olha só mais um exemplo, cuspido aí na cara da gente. Importa menos, para o jornalista, se o deputado Roberto Jefferson é bandido ou mocinho. Se ele é inocente ou culpado. Importa mais é que ele levantou uma lebre do tamanho de um bonde. Agora, a imprensa vai ficar rodeando esse caso igual urubu em cima de carniça.
A magia da imprensa é essa, gente: tirar da lama uma flor rara (que poético).
Quer entender melhor? Tem um livro do Gilberto Dimenstein absolutamente obrigatório para se descobrir como funciona este tal de jornalismo político: Armadilhas do poder, da Editora Summus.
Quando cobri política na Folha de S. Paulo senti na pele o que o Gilberto escreveu: as brigas entre os políticos, entre os grupos de poder, entre os que disputam o controle, são as maiores chances que os jornalistas têm para passar por cima do muro de ‘oficialidades’ que impede que a verdade seja publicada. É simples: quando se tem briga, e quanto mais feia a briga, melhor, sempre espirra um dossiê pra cá, uma escuta telefônica pra lá, um VHS aqui, uma denúncia ali… E aí nossos coleguinhas vão atrás.
Para os próximos capítulos
E eles vão atrás por quê? Porque são bonzinhos, porque jornalista é tudo santinho? Nananinanão… É porque, publicado de maneira correta, isso gera repercussão e, conseqüentemente, leitura. É o que as pessoas querem ler. Vou provar, quer ver? Responda rápido: qual dessas manchetes (fictícias) do Jornal Nacional prenderiam mais a sua atenção? Seja sincero:
‘Exclusivo, no próximo bloco: prefeito de cidade X planta flores no asilo da cidade’
‘Exclusivo, no próximo bloco: prefeito da cidade X desvia dinheiro da merenda escolar para conta pessoal’
É claro que você vai parar o que está fazendo pra assistir à segunda. Alguns dirão que é pela curiosidade mórbida típica do ser humano, de sempre querer ver o lixo, o corpo morto, o ruim, o podre, o cara se dando mal… Outros dirão que é – mesmo que não se perceba – a consciência de cidadão aflorando.
Não importa a causa. O legal é que as pessoas prestam atenção ao que está errado. Aí gera ibope, gera leitura, os jornais vão atrás, investigam ainda mais, ficam mais no pé dos poderosos… E acontece a mágica da função social do jornal.
É claro que acontecem abusos… Mas isso é assunto para os próximos capítulos. Não perca!
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Jornalista, mestre em Comunicação Social (ECA-USP), professor de Jornalismo da Universidade Anhembi-Morumbi, co-autor de três livros-reportagem – Guia das almas, sobre as religiões da cidade de São Paulo, Nau dos desejos, sobre a imigração portuguesa no Brasil, e Cotidianos do metrô (ECA-USP) – e de um livro de ensaios – Políticas culturais (Manole) –, editor-executivo do jornal corporativo O Pinhão