Saudade do tempo em que o Estadão dava ao noticiário internacional – apesar do absurdo de lhe dedicar diariamente a primeira página – um tratamento com o qual os Mesquita imaginavam que o seu jornal competia com os mais importantes do globo.
Descontadas a presunção e a adesão incondicional a cada Dr. Strangelove que irrompesse em cena – como aquele do filme homônimo de Stanley Kubrick, que amava a bomba atômica e não via a hora de jogá-las nos malditos vermelhos –, a chamada seção do Exterior do Estado dava aos leitores interessados pelo menos um senso do que era relevante no mundo.
Por que a saudade, justo agora?
Porque é uma lástima, por onde quer que se julgue, o que a imprensa brasileira tem dado desde ontem sobre a assombrosa revelação da espionagem americana, manchete mundial, de que o Irã suspendeu em 2003 o seu programa nuclear secreto.
Pífia e burocrática – apesar de a Folha vir hoje com um editorial a respeito -, a cobertura não se deu nem o trabalho de especular por que diabos o governo Bush autorizou a liberação de um documento que não só manda esquecer o que a CIA e outros 15 órgãos do gênero diziam em 2005 sobre o perigo iraniano, como ainda reduziu a um traque a ameaça trovejada pelo próprio Bush, agora em outubro, de que as ambições nucleares de Teerã poderiam provocar a terceira guerra mundial.
Falta aos jornais brasileiros um diretor de redação como os que se faziam antigamente, com a coragem de dar à não-bomba iraniana o que os seus pobres sucessores dão hoje ao miúdo e arqui-previsto jogo de cartas marcadas da renúncia-absolvição de Renan Calheiros. E vice-versa.
Na ausência de um fazedor de jornais desse porte, e se ainda existissem jornaleiros berrando pelas ruas o nome do diário que tinham para vender, seria apenas adequado se gritassem a plenos pulmões:
Olha aí ‘O Óbvio’! Chegou ‘O Óbvio’! ‘O Óbvio’! ‘O Óbvio’! ‘O Óbvio’!…