No seu penúltimo exemplar de julho, a revista britânica The Economist publicou um artigo sobre o fenômeno do ultra-nacionalismo na Web indicando que o espaço cibernético tenderia a se transformar num ambiente caótico, ao melhor estilo Torre de Babel.
O artigo parte de dados reais como a multiplicação de websites e weblogs sobre reivindicações nacionalistas e movimentos xenófobos nos quatro cantos do mundo, em especial na Europa e na Ásia Central. Menciona também uma pesquisa do Centro Simon Wiesenthal, sediado em Los Angeles, indicando que o número de páginas que promovem o ódio e a xenofobia na internet duplicou entre 2004 e 2008, quando atingiu 8 mil sites monitorados.
The Economist tem razão ao constatar o crescimento vertiginoso da circulação de material pregando a intolerância na internet, mas peca ao contextualizar o problema, porque deixa a porta aberta para um outro tipo de absurdo, o de culpar o mensageiro quando a noticia é desagradável.
A multiplicação da xenofobia online é uma conseqüência da facilidade na publicação de conteúdos na Web e da formação quase instantânea de redes, vinculando pessoas e instituições. Este é um processo que veio para ficar, por mais que nos custe admiti-lo.
Quando Gutenberg criou a impressão gráfica a partir de tipos móveis, a primeira grande conseqüência da descoberta foi a divulgação da rebelião de Martinho Lutero contra a cúpula da Igreja Católica, multiplicando os focos de contestação à hegemonia da cúria romana. Foi o primeiro grande desdobramento político da crise gerada pela inovação gráfica e hoje ninguém se expõe ao ridículo de desmerecer Gutenberg por isto.
O que a Web está fazendo é desnudar o mundo em que vivemos. A xenofobia, o ultra-nacionalismo e a apologia da violência não surgiram com a rede. Eles simplesmente só eram percebidos quando atingiam um ponto crítico, porque os recursos para circulação de informações eram reduzidos e centralizados.
Agora tudo está escancarado por conta da internet, criando uma sensação de medo e insegurança gerados pela nossa falta de intimidade e conhecimento em relação a um ambiente gerado por um processo inovador que não tem mais volta. Temos a impressão de estarmos revivendo a Babel bíblica tal a cacofonia informativa que começa a se avolumar dentro da rede.
Mas há também o outro lado da moeda. Todo o processo de massificação leva a vulgarização e portanto a desvalorização, que na Web é sinônimo de desatenção. Só vão sobreviver os weblogs e sites que criarem diferenciais ou agregarem valor informativo, seja pelo uso de softwares (como o RSS, por exemplo) ou pela contextualização, fruto de pesquisa e do conhecimento.