Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nova estratégia do The New York Times pode antecipar mudança nas políticas editoriais dos grandes jornais

Quase todas as redações nos grandes conglomerados da mídia consideravam uma heresia jornalística publicar uma notícia exclusiva primeiro na web e só depois na versão impressa de um jornal. Muitos ainda se agarram a rotinas convencionais, mas daqui por diante tudo pode ser diferente.


 


É que o The New York Times, visto pela maioria da imprensa brasileira como uma espécie de bíblia do jornalismo contemporâneo, acaba de romper com a tradição ao antecipar a publicação, na sua versão online, de um perfil do pré-candidato republicano Mike Huckabee, que fora planejado para a principal matéria da edição impressa de domingo (16/12).


 


O Times nunca havia feito isto antes e sua decisão vai influenciar centenas de outros jornais tanto dos Estados Unidos como do resto do mundo, conforme o Editors Weblog, produzido pelo Fórum Mundial de Editores (World Editors Fórum), da Associação Mundial de Jornais.


 


Aqui no Brasil quase todos os grandes jornais seguem a mesma regra (impresso primeiro), amparados na idéia de que a versão web não deve canibalizar a versão em papel.


 


A web está turbinando a produção e publicação de notícias de atualidade gerando um efeito-cascata em toda a imprensa. As revistas semanais foram as primeiras a sofrer o impacto da concorrência online e agora também os jornais terão que se curvar à nova realidade.


 


Na imprensa diária, as principais vítimas serão as edições dominicais cuja venda, em bancas e assinaturas, era sustentada por matérias “frias” produzidas durante a semana e paginadas no famoso “pescoção” de sexta à noite[1].


 


Mas a agonia do “impresso primeiro” vai acelerar a revisão das rotinas em quase todas as redações para evitar constrangimentos como o que o Times enfrentaria caso não antecipasse a sua matéria. A agência Associated Press publicou na sua página web um perfil de Huckabee, no meio da semana.


 


No Brasil, as redações ainda vêem a web com desconfiança apesar de as direções forçarem a digitalização do noticiário de olho na migração da publicidade para o ambiente online.


 


A questão agora é desenvolver uma nova política editorial para os jornais impressos, pois ali o filão da atualidade está irremediavelmente perdido. O da publicidade segue o mesmo caminho — e com ele todo um modelo de negócios.


 


A bolha publicitária deste fim de ano no Brasil é um fenômeno sazonal e também o resultado de uma série de descontos dados por jornais do eixo Rio-São Paulo para anunciantes de veículos zero km e novos empreendimentos imobiliários. As estatísticas anuais confirmam a migração das contas para o ambiente virtual de forma cada vez mais acentuada.


 

Os jornais impressos têm salvação. A questão é como ela será alcançada. Está na hora de os jornais impressos começarem a pensar seriamente em novas estratégias editoriais e modelos de negócios. As incertezas são muitas, os riscos enormes, mas uma coisa parece certa: sejam quais forem as alternativas escolhidas, elas terão que contemplar uma maior participação dos leitores na produção de material jornalístico.






[1] O pescoção é uma gíria jornalística para matérias editadas em uma coluna com o resto da página ocupado pela publicidade. Com o tempo, a expressão passou a ser usada para todas as reportagens dominicais editadas com antecedência.