Quase todas as redações nos grandes conglomerados da mídia consideravam uma heresia jornalística publicar uma notícia exclusiva primeiro na web e só depois na versão impressa de um jornal. Muitos ainda se agarram a rotinas convencionais, mas daqui por diante tudo pode ser diferente.
É que o The New York Times, visto pela maioria da imprensa brasileira como uma espécie de bíblia do jornalismo contemporâneo, acaba de romper com a tradição ao antecipar a publicação, na sua versão online, de um perfil do pré-candidato republicano Mike Huckabee, que fora planejado para a principal matéria da edição impressa de domingo (16/12).
O Times nunca havia feito isto antes e sua decisão vai influenciar centenas de outros jornais tanto dos Estados Unidos como do resto do mundo, conforme o Editors Weblog, produzido pelo Fórum Mundial de Editores (World Editors Fórum), da Associação Mundial de Jornais.
Aqui no Brasil quase todos os grandes jornais seguem a mesma regra (impresso primeiro), amparados na idéia de que a versão web não deve canibalizar a versão em papel.
A web está turbinando a produção e publicação de notícias de atualidade gerando um efeito-cascata em toda a imprensa. As revistas semanais foram as primeiras a sofrer o impacto da concorrência online e agora também os jornais terão que se curvar à nova realidade.
Na imprensa diária, as principais vítimas serão as edições dominicais cuja venda, em bancas e assinaturas, era sustentada por matérias “frias” produzidas durante a semana e paginadas no famoso “pescoção” de sexta à noite[1].
Mas a agonia do “impresso primeiro” vai acelerar a revisão das rotinas em quase todas as redações para evitar constrangimentos como o que o Times enfrentaria caso não antecipasse a sua matéria. A agência Associated Press publicou na sua página web um perfil de Huckabee, no meio da semana.
No Brasil, as redações ainda vêem a web com desconfiança apesar de as direções forçarem a digitalização do noticiário de olho na migração da publicidade para o ambiente online.
A questão agora é desenvolver uma nova política editorial para os jornais impressos, pois ali o filão da atualidade está irremediavelmente perdido. O da publicidade segue o mesmo caminho — e com ele todo um modelo de negócios.
A bolha publicitária deste fim de ano no Brasil é um fenômeno sazonal e também o resultado de uma série de descontos dados por jornais do eixo Rio-São Paulo para anunciantes de veículos zero km e novos empreendimentos imobiliários. As estatísticas anuais confirmam a migração das contas para o ambiente virtual de forma cada vez mais acentuada.
[1] O pescoção é uma gíria jornalística para matérias editadas em uma coluna com o resto da página ocupado pela publicidade. Com o tempo, a expressão passou a ser usada para todas as reportagens dominicais editadas com antecedência.