Burocraticamente ou quase, a Folha, o Estado e o Valor deram hoje o press-release da organização americana Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agribiotecnologia (Isaaa, na sigla em inglês) com os mais recentes números sobre o cultivo de transgênicos no mundo.
A Folha e o Estado destacaram já no título que o Brasil passou de quarto para terceiro maior produtor de plantas geneticamente modificadas (de 5 milhões de hectares semeados em 2004 para 9,4 milhões no ano passado). É um aumento de 88%, conforme ressaltou o Valor. As maiores culturas transgênicas estão nos Estados Unidos e na Argentina.
Mas, enquanto o Estado abre a sua matéria informando que a área plantada com variedades transgências – nos 21 países que praticam a agricultura de base biotecnológica – aumentou 11%, o Valor preferiu chamar a atenção, desde o título, para o fato de que esse aumento indica uma desaceleração no setor. Em 2004, a expansão tinha sido de 20%.
As lavouras transgênicas cobrem 3 milhões de hectares, ou 3% da agricultura mundial. Aderiram aos transgênicos em 2005 a França, o Irã, Portugal e a República Checa.
O relatório do Isaaa é o tipo de informação que cai no colo das redações, cada uma trabalhando menos ou mais a matéria-prima recebida. O que os jornais não fizeram, aproveitando o gancho, foi dar uma passeada pela internet para ver se seria possível enriquecer a história com eventuais outras novidades no pedaço.
Tivessem tomado essa providência elementar, teriam um prato cheio a oferecer ao público pagante, partindo do fato de que o único transgênico legalmente plantado no Brasil – e que teve o tal aumento de 88% – é a soja.
Isso porque acaba de se divulgar o resultado perturbador de um estudo conduzido sobre efeitos da soja GM pela doutora Erina Ermakova da Academia Russa de Ciências.
O caso está contado no site www.rssl.com, especializado em questões alimentares.
O estudo verificou que ratos recém-nascidos de mães alimentadas com soja geneticamente modificada estavam cinco vezes mais propensos a morrer nas três primeiras semanas de vida do que os ratos cujas mães consumiram soja convencional. Além disso, 36% dos primeiros nasceram pesando muito menos do que os outros, entre os quais apenas 6% estavam abaixo do peso.
O site que deu a notícia ontem acrescenta que a pesquisa faz parte de uma série de investigações recentes cujas descobertas revivem as preocupações com a segurança dos alimentos GM.
No domingo passado, por exemplo, o Independent de Londres informou que, segundo um estudo italiano, a soja GM afeta o fígado e o pâncreas de ratos. Informou também que dados da própria Monsanto, a megaempresa de sementes transgênicas, revelam que raros submetidos a uma dieta rica em milho GM têm rins menores e mais hemácias (células de sangue) do que os outros – indícios de dano ao seu sistema imunológico.
Comentando a pesquisa russa, a Monsanto retrucou que “a maioria esmagadora dos estudos científicos independentes, publicados e avaliados por outros cientistas, demonstra que a soja transgência Roundup Ready pode ser consumida com segurança por ratos e por todas as demais espécies animais estudadas”.
Quando é que a mídia nacional vai abocanhar o assunto?
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