Durante os cinco meses em que esteve em poder dos seqüestradores, Florence Aubenas foi mantida em um pequeno porão, vendada e algemada pelos pulsos e tornozelos. A jornalista francesa, libertada no sábado (11/6) junto com seu intérprete iraquiano, Hussein Hanoun, contou em entrevista a experiência no cativeiro. Ela era proibida de fazer qualquer barulho e, por pelo menos dois meses, ficou lado a lado com Hanoun sem saber. Os captores queriam que ela atendesse pelo nome de ‘Leila’ e às vezes se referiam a ela como ‘Número 6’.
A comunicação com as autoridades francesas era feita através de gravações em vídeo, nas quais a jornalista era obrigada a ler textos escritos pelos seqüestradores em inglês. Florence era alimentada com arroz e a pouca comunicação que tinha com seus guardas – que ela calcula que fossem cinco – se baseava em reprimendas por causa do barulho e reclamações sobre a falta de cooperação da embaixada francesa. A jornalista passava seus longos dias deitada sobre um colchonete esperando o anúncio de um dos guardas: ‘Número 6, banheiro’. No dia da libertação, o chamado para o banheiro veio com uma mensagem adicional: ‘Hoje, Paris’.
Perguntas sem respostas
As imagens do retorno de Florence e Hanoun a suas famílias foram ofuscadas pelo mistério que ainda ronda o seqüestro. Muitas informações divulgadas pela imprensa são desencontradas. Muitas perguntas não foram respondidas. Quem são os seqüestradores? Como os reféns foram soltos? Houve o pagamento de resgate?
Segundo o governo francês, não. O presidente Jacques Chirac atribui o final feliz do seqüestro à ampla campanha pública de apoio ao caso e à eficiente operação secreta orquestrada pelos setores de Inteligência e militar.
As autoridades se negaram a fornecer detalhes do processo de soltura dos reféns com a justificativa de protegê-los e proteger também as pessoas que continuam capturadas no Iraque. A imprensa francesa se divide entre comemorar e tentar montar o quebra-cabeças. O Le Monde ressaltou o clima de mistério sobre o caso; o Libération, onde trabalha Florence, publicou 20 páginas sobre o drama sofrido por sua correspondente, mas se esquivou de dar respostas firmes.
Questionada, a própria Florence diz não saber de nada. ‘As pessoas têm falado sobre resgate, mas eu não posso falar sobre isso. Posso contar apenas da minha vida em um porão em Bagdá nos últimos cinco meses’. Com informações da al-Jazira [14/6/05] e de Thomas Crampton [The International Herald Tribune, 15/6/05].