O ombudsman da National Public Radio (NPR), Jeffrey Dvorkin, e o colunista da revista Business Week, Eamon Javers, levantaram um problema esta semana, que está colocando uma pulga atrás da orelha de muita gente nos Estados Unidos e pode funcionar como um alerta também para os leitores brasileiros. Dvorkin resolveu fazer as contas de quantas instituições de pesquisa foram usadas como fontes para notícias e chegou a um número que ele considerou preocupante. Os repórteres da NPR (uma emissora pública sem ser estatal) recorreram 380 vezes aos chamados think tanks desde janeiro de 2005, materializando a enorme dependência dos jornalistas em relação à fontes consideradas especializadas. Até ai o problema era apenas profissional, mas Eamon Javers se encarregou de mostrar que ele era também ético ao analisar o escândalo do Instituto Cato , que reconheceu no dia 15 de dezembro que um de seus consultores mais procurados pela imprensa recebia dinheiro de um lobista para emitir opiniões a favor de empresas e políticos. Doug Bandow, consultor senior do Cato, renunciou ao cargo depois de admitir ter recebido em média dois mil dólares do lobista Jack Abramoff , desde 1990, por artigo ou entrevista assinados por ele. Abramoff teve até bem pouco tempo atrás acesso livre à Casa Branca e à equipe do presidente George W. Bush. O caso reforçou a polêmica em torno da identificação dos interesses por trás de instituições e personalidades que tem facil acesso à mídia e portanto podem ‘passar recados’ sem que os jornalistas e o público percebam. A imprensa é hoje o espaço preferido dos lobistas, ativistas e políticos. Todos eles tem algum tipo de interesse quando aparecem em telejornais, noticiários radiofônicos ou dão entrevistas a jornais revistas. O caso da NPR mostra como eles se tornaram peças importantes no noticiário quotidiano e na formação da agenda pública. Aqui no Brasil ainda não foi feita uma pesquisa para identificar, mesmo que superficialmente, os possíveis interesses de um entrevistado no Jornal Nacional, por exemplo. Caso isto acontecesse, provavelmente teríamos algumas surpresas e descobriríamos até que ponto nossas opiniões estão sendo manipuladas. O noticiário econômico é especialmente pródigo no uso de consultores e especialistas financeiros, que obviamente tem seus interesses pessoais e profissionais. Os leitores americanos já começaram a exigir da midia uma maior atenção na identificação dos possiveis interesses de entrevistados,como mostra o blog Public Journalism Network . A questão é complicada porque tem varios ângulos. O consumidor, obviamente, não pode ser induzido ao engano pela imprensa quando absorve informações que imbutem um interesse pessoal, corporativo ou partidario. Cabe ao jornalista a preocupação ética de evitar que isto ocorra, identificando os possíveis interesses ocultos na informação. O problema é que a identificação nem sempre é fácil e simples. Um exemplo é o próprio Cato Institute, considerado liberal pela Business Week e conservador pela BBC inglesa. A teia de interesses às vezes é extremadamente complexa e pode consumir tempo precioso de investigação do repórter. Mas nada disto diminui a importância ética de identificar os interesses dos entrevistados, porque todos eles os tem, em maior ou menor intensidade. O repórter e o comentarista é que terão mais trabalho daqui por diante. Aos nossos leitores: Serão desconsiderados os comentários ofensivos, anônimos e os que contiverem endereços eletrônicos falsos.